As
denúncias que levaram à prisão de alguns dos mais chegados aliados de Michel
Temer (MDB) rondam o presidente há longa data. Pelo menos desde a década de
1990, há informações, rumores, mesmo denúncias sobre interferências
supostamente criminosas no Porto de Santos, o maior, mais rico e mais
importante do Brasil.
Em
2011, inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) investigou se Temer, então
vice-presidente de Dilma Rousseff (PT), era beneficiário em esquema de cobrança
de propinas de empresas que tinham contratos no complexo portuário. O inquérito
foi, todavia, arquivado pelo ministro Marco Aurélio Mello.
Antes,
em 2006, a Polícia Federal também havia instaurado inquérito no qual Temer
aparecia como beneficiário. Ainda mais atrás, em 2001, o então deputado federal
e já presidente do à época PMDB apareceu em planilhas como destinatário de
propinas. O episódio veio à tona num processo de separação conjugal.
Marcelo
de Azeredo havia sido presidente da Companhia Docas de São Paulo (Codesp) entre
1995 e 1998, por indicação do PMDB. Em processo de dissolução de união estável,
a mulher de Azeredo apresentou papelada na qual aparecia menção a pagamentos
feitos pelas empresas Libra Terminais S/A e Rodrimar S/A - a mesma que teria
sido favorecida agora em decreto presidencial. De acordo com a Polícia Federal,
um intermediário do pagamento era alguém identificado como “Lima”.
Um
beneficiário era identificado como “MT”. Talvez seja menção ao estado do Mato
Grosso. Para a Polícia Federal e a Procuradoria Geral da República, era para
Michel Temer mesmo. Quanto a Lima, pode se tratar do coronel da Polícia
Militar, João Batista Lima Filho, amigo e auxiliar de longa data do presidente
para serviços de toda ordem. O coronel foi um dos presos nesta quinta-feira (29/03).
O
inquérito deu o que falar em 2001, em meio a conflito entre Temer e o então
senador Antônio Carlos Magalhães. “As coisas morais nunca foram o forte do
senhor Temer. Se abrir um inquérito no porto de Santos, ele ficará péssimo”,
disse ACM à época.
Antônio
Cláudio Mariz de Oliveira já era advogado de Temer neste caso. Mariz não
defendeu o presidente em uma das denúncias porque também foi advogado do
doleiro Lúcio Funaro, delator cujo depoimento implica o presidente em crimes.
O
conflito com ACM envolvia a disputa pelo comando da Câmara e do Senado. Temer
vinha de dois mandatos como presidente da Câmara, ao suceder o filho de ACM,
Luís Eduardo Magalhães. Naquele começo de 2001, quem havia assumido o cargo, em
costura da qual Temer fazia parte, era Aécio Neves (PSDB).
Em
2002, o inquérito foi arquivado pelo então procurador-geral da República,
Geraldo Brindeiro. São 20 anos ao longo dos quais as mesmas denúncias são
conhecidas e rondam Temer.
Há duas hipóteses para explicar isso:
1)
De fato, Temer pode estar sendo perseguido, com denúncias requentadas e sem
fundamento, cuja intenção é prejudicá-lo politicamente.
2)
Porém, se houver realmente fundamento nas denúncias, na melhor das hipóteses
houve negligência dos órgãos investigadores e julgadores, que nunca
aprofundaram devidamente fatos tão graves talvez cometidos por alguém há
décadas nos mais altos escalões da República. Na pior das hipóteses, sabe-se lá
que tipo de cumplicidade pode ter havido.
Que
agora os fatos sejam investigados com todo rigor, justiça e profundidade, para
não restar dúvida se houve crime ou não.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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