Estrutura montada para o Fórum Mundial da Água recebe últimos ajustes (Foto: Marcelo Camargo) |
O
8º Fórum Mundial da Água, que começa
hoje (18/03), em Brasília, deve reunir mais de 40 mil pessoas
interessadas no tema da água. Desse total, 10 mil são especialistas vindos de
mais de 100 países que estarão debatendo diferentes teses sobre a questão da
água, em vários painéis ao longo da semana. O fórum é o maior evento
relacionado ao tema e tem a chancela do Conselho Mundial da Água (CMA),
organismo internacional responsável pelo acompanhamento da questão em todo o
mundo há mais de 30 anos. Esta é a primeira vez que o fórum ocorre em um país
do Hemisfério Sul, desde sua estreia em 1997, na cidade de Marrakesh, no
Marrocos.
Atualmente,
o presidente do CMA é o brasileiro Benedito Braga, professor titular de
engenharia civil e ambiental na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
(USP) e também secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do estado de São
Paulo. Para ele, o grande objetivo do fórum é "aproximar a comunidade
científica e técnica da comunidade tomadora de decisão", ou seja, a classe
política. Por essa razão, os governos de diferentes países foram convidados e
estarão representados por chefes de Estado e ministros. Segundo Braga, é
preciso "motivar os governantes para a importância da água para destinar
recursos para as obras hídricas necessárias”.
Quando
foi escolhida para sediar o Fórum Mundial da Água, Brasília ainda vivia tempos
de abundância em suas torneiras, situação que mudou drasticamente a partir da
crise hídrica provocada pela escassez de chuvas no verão de 2016/2017. Para evitar
um colapso no abastecimento da cidade, medidas de restrição tiveram que ser
tomadas e hoje, mesmo com a recuperação parcial dos reservatórios do Distrito
Federal, a cidade ainda enfrenta racionamentos. Para o biólogo Paulo Salles,
diretor-presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do
Distrito Federal (Adasa), receber o evento neste contexto está longe de ser
constrangedor.
“Na
verdade, isso é muito bom porque nós estamos num momento muito significativo,
um momento de muito aprendizado que significa duas coisas: primeiro,
compreender que estamos vivendo um período difícil para o planeta inteiro. E,
segundo, que estamos aprendendo com a crise hídrica".
O
professor, que tem doutorado em Ecologia pela University of Edimburgo, na Escócia,
lembra que “a água é parte da economia, é parte da política, da organização das
instituições, e nós não percebíamos isso porque ela não faltava”. Salles faz
questão de frisar que crises hídricas vêm ocorrendo em várias partes do mundo
atualmente. Por isso, o fórum é um momento
para favorecer as trocas de experiências, compartilhar projetos, ideias
e soluções para permitir o enfrentamento de dificuldades do futuro.
Vila
Cidadã
O
evento também quer mobilizar o cidadão comum, ou “todo mundo que bebe água”,
como diz Lupércio Ziroldo, um dos governadores brasileiros do Conselho Mundial
da Água e presidente da Rede Brasil de Organismos de Bacias Hidrográficas.
Para
isso, o fórum decidiu abrir espaço para a população participar. Foi assim que
nasceu, durante a sexta edição do Fórum, em 2012, em Marselha, na França, a
ideia do Fórum Cidadão, que seria a ponte dos especialistas e governantes com a
comunidade dos que “bebem água”. A ideia é educar as pessoas de modo a evitar
que se chegue ao ponto de precisar entender de água somente quando ela falta.
Quando assumiu a coordenação do Fórum Cidadão, no âmbito do 8º FMA, Ziroldo e
sua equipe pensaram em criar um espaço físico que fosse como um ponto de
encontro. Surgiu assim a Vila Cidadã, com acesso gratuito de visitantes.
“Então
o Fórum Mundial da Água, que sempre foi um grande encontro de ideias e
soluções, mas dentro da área técnica, introduziu esse processo para induzir o
cidadão comum a participar do debate, dar sua opinião, ouvir outras opiniões e,
desse modo, se capacitar, aprender com o processo", explica Lupércio
Ziroldo.
Erguida
em um espaço de 10 mil m², a Vila Cidadã vai oferecer atrações para todos os
tipos de público. Graças à realidade virtual, crianças vão poder descer ao
fundo do mar num submarino ou voar sobre a floresta e os rios numa asa delta. E
todos poderão conhecer por dentro a Estação Antártica Comandante Ferraz e andar
na neve do Polo Sul.
Para
os adultos, a Arena das Águas, com capacidade para 300 pessoas, será o palco de
conferências, apresentações e talk shows com convidados nacionais e
internacionais. Será como um ponto de encontro para os visitantes dos vários
países.
Haverá
ainda o Cinema Cidadão, com a exibição de filmes que têm como tema a água, e o
Mercado de Soluções, com a apresentação de 60 experiências individuais ou
comunitárias de diversas partes do mundo, todas relacionadas a boas práticas e
gestão no uso da água.
“Quando
você recebe uma série de informações sobre a água, você passa a lidar com a
água dentro de casa de outro modo. E a comunidade também passa a lidar melhor
com a água”
Compartilhando
a água
O
Brasil foi escolhido para sediar o evento não por acaso. Segundo Ricardo
Andrade, que é diretor de Gestão da Agência Nacional de Águas (ANA) e um dos 50
profissionais responsáveis pela organização do fórum, sua realização no Brasil
se tornou “quase que uma obrigação”.
"As
diversas instituições brasileiras ligadas à água se reuniram e entenderam que
estava na hora de realizar o fórum na América do Sul. E isso se justificava com
o argumento de que o Brasil tinha o que mostrar: a maior oferta hídrica individual
do mundo”, diz ele.
“Não
se consegue oferecer água de boa qualidade no tempo certo e no lugar correto se
não tiver financiamento, se não tiver uma boa governança”. Na opinião dele, não
adianta oferecer água se não tratar o esgoto, porque o manancial perde a
qualidade. Mas Andrade é otimista e diz que os investimentos do governo
avançaram e a conscientização da população também.
Ele
avalia que a crise hídrica aumentou o interesse pelo tema. “É possível que o
fato de se correr o risco de não ter água em casa, leve as pessoas a refletir
sobre a água disponível, a necessidade de economizá-la, de usar essa água
racionalmente, de protegê-la de certa forma, de cobrar dos governantes, e não
apenas dos governantes, mas do cidadão, seu próprio vizinho”.
Vendendo
ideias e soluções
Um
dos pontos altos do 8º Fórum Mundial da Água é a Expo, com 18 pavilhões de
países que, segundo o diretor de Operações, Rodrigo Cordeiro, atendeu todas as
expectativas: “A vinda desses países se consolida através da vinda de um grupo
de empresas de cada um desses países e essas empresas procuram oportunidades no
mercado brasileiro, assim como identificar soluções no mercado brasileiro que
possam levar para os seus países”.
A
área da Expo é destinada exclusivamente aos 10 mil participantes inscritos no
fórum. É la que eles vão encontrar o que grandes corporações multinacionais
estão desenvolvendo para tornar correto e sustentável o uso da água.
Para
os mais de 30 mil visitantes esperados na Vila Cidadã foi criada uma feira,
onde estarão instituições interessadas em apresentar seus produtos, serviços e
soluções relacionadas ao uso sustentável da água para empresas, consumidores,
governos, sociedade e universidade.
O
8º Fórum Mundial da Água começa hoje e vai até a próxima sexta-feira (23/03) no Centro
de Convenções Ulysses Guimarães. Já a Vila Cidadã, a feira e a Expo foram abertas ao público ontem (17/03) às 9h e também vão funcionar até o dia 23,
diariamente das 9h às 21h.
Com
informações portal Agência Brasil
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