Boulos e Sonia Guajajara Conferência Cidadã, em São Paulo (Foto: Marcelo Justo) |
O
líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), Guilherme Boulos,
confirmou pré-candidatura à presidência nas eleições 2018 pelo PSOL. O
candidato terá como vice em sua chapa a líder indígena e coordenadora da
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sonia Guajajara. A filiação
oficial de Boulos ao partido é esperada para esta semana.
O
anúncio foi feito no sábado (03/03) durante a Conferência Cidadã, em São Paulo,
evento dedicado à apresentação da proposta do candidato que reuniu diversas
lideranças sociais e simpatizantes à pré-candidatura. De mãos dadas com Sonia,
Boulos afirmou “topar o desafio de se candidatar à Presidência”.
“Esse
encontro é um retrato do que queremos, dar voz a indígenas, negros e negras,
aos sem teto, artistas, mulheres, à comunidade LGBT, a toda essa gente que
resiste e me inspira”, declarou. Ao falar em ousadia e coragem para tirar o
País da crise e apresentar um projeto novo, o líder dos sem teto criticou
duramente o governo de Michel Temer (PMDB).
“Hoje,
o governo entrega e negocia nossos direitos no balcão falido do
presidencialismo de coalizão. Nosso estado é voltado para o um por cento dos
que detém a riqueza, é sequestrado pelas corporações. É urgente a necessidade
de enfrentarmos os privilégios que fazem do Brasil um dos países mais desiguais
do mundo, de resgatar a democracia com participação efetiva das pessoas”,
declarou, reconhecendo que sua proposta terá como base a participação social e
o diálogo com os movimentos sociais.
O
pré-candidato assumiu diferenças políticas com o ex-presidente Lula, mas
validou seu direito à disputa eleitoral. “As diferenças políticas não podem
significar conivência com injustiça. O judiciário retirou no tapetão o
candidato mais popular. Não podemos naturalizar uma condenação imposta
injustamente quando os reais ladrões estão no Congresso”, condenou.
Boulos
considerou grave o cenário de avanço das pautas conservadoras no País. “É grave
ver ‘Bolsonaros’ sendo aclamados por defenderem pautas de tortura e extermínio,
bem como o aumento da intolerância e o militarismo colocado em prática”, disse
mencionando a intervenção federal proposta pelo governo Temer no Rio de
Janeiro. “Ordem e paz se dá com garantia de direitos e combate às
desigualdades”, defendeu.
Sonia
Guajajara falou em “momento histórico” e defendeu o projeto encabeçado por ela
e Boulos como uma possibilidade de reconstrução do País. “Vamos a partir da maioria,
que somos nós, lutar contra as políticas de exclusão e extermínio, contra o
modelo econômico depredador que temos em prática”. A pré-candidata à
vice-presidência reafirmou o compromisso do projeto em dialogar com as
comunidades indígenas e tradicionais, bem como com a população negra, moradores
dos centros e periferias, mulheres, crianças e juventude e a comunidade LGBT.
A
pré-candidatura de Boulos e Guajajara contou com o aval do ex-presidente Lula,
que enviou um vídeo para a conferência. “Você sabe o quanto eu te respeito, o
quanto gosto de você pessoalmente e quanto acho você uma pessoa de muito futuro
na política. Jamais vou pedir para não ser candidato”, afirmou o petista na
gravação.
A
noite da apresentação da proposta de governo contou com a participação de
Caetano Veloso e Maria Gadu. O cantor, que não fez nenhuma referência política
em sua apresentação, já tinha declarado seu apoio ao pré-candidato Ciro Gomes
(PDT). Ao tocar a música “Um Índio”, Caetano recebeu um cocar de Guajajara e,
em outro momento, a bandeira do MTST de Boulos.
Alguns
nomes que não puderam comparecer enviaram suas mensagens de apoio por vídeo,
caso dos atores Sônia Braga e Wagner Moura, do ex-ministro da Justiça, Tarso
Genro e do professor da Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos.
Presente
entre os encorajadores da pré-candidatura, o deputado estadual do Rio de
Janeiro, Marcelo Freixo, falou sobre o “nascimento de uma nova esquerda”. “Não
vamos fazer aliança para ter mais tempo de TV, vamos trazer para dentro da
política quem estava fora”, colocou. Freixo também comentou sobre o possível
cenário de disputa entre Boulos e Lula. “Quero o Lula candidato. Nós não temos
o direito de brigar dentro da esquerda. Precisamos fazer o debate olho no olho
e apresentar as contradições, até porque sabemos bem quem precisamos derrotar
nesse momento”, declarou.
O
escritor Frei Betto citou a importância de apoiar um novo projeto para o país,
mais do que propriamente uma candidatura. “Não precisamos mais de projetos de
poder. A esquerda fala ao povo, pelo povo e não com o povo. O direito do povo
acaba quando se escolhe os representantes, já que não interferimos na política,
que se dá descolada de sua base”, refletiu.
Ao
lado da ativista Leandrinha Du Art, o deputado federal Jean Wyllys falou sobre
a necessidade de resgatar “a pouca democracia que nos resta” e sobre as
reparações históricas que o País tem que enfrentar, “como a herança da
escravidão e a promoção do respeito e igualdade às mulheres e comunidade LGBT”.
Os
arquitetos e urbanistas Raquel Rolnik e Nabil Bonduki abordaram os desafios dos
pré-candidatos a partir de reflexões sobre o direito à cidade. Para Rolnik, é
preciso superar a lógica das cidades como negócio, que atende a interesses de
incorporadoras e empreiteiras, e reverter também a lógica da política, hoje a
favor dessa dinâmica. “É preciso começar a pensar a política a partir de cada
comunidade, bairro, território e favela”, declarou a especialista. Bonduki
reforçou a prioridade de agendas como moradia, transporte e saneamento básico
para que se efetive o real direito às cidades.
Com
um diagnóstico sobre a educação, o coordenador da Campanha Nacional pelo
Direito à Educação, Daniel Cara, elencou os desafios que recaem sobre os
presidenciáveis. Cara falou sobre o descumprimento do Plano Nacional de
Educação (PNE) e de alguns desafios brasileiros, como o de criar 7 milhões de
matrículas nas universidades e lidar com 14 milhões de adultos analfabetos.
Para o especialista, o Brasil não avançou na qualidade da educação. “E isso
passa por inverter a lógica que temos, é preciso colocar a economia a serviço
dos direitos sociais e não o contrário”.
O
especialista dividiu a fala com a estudante Ana Júlia Ribeiro, que participou
do movimento de ocupações das escolas pelo País. A jovem cobrou uma educação
popular, emancipatória e que valorize os estudantes.
Também
prestou apoio ao momento de pré-candidatura o escritor, rapper e poeta Ferréz
que falou sobre a representatividade do encontro: "quando algum jornalista
perguntar cadê a periferia, pode dizer que a porra da periferia está
aqui", declarou. A cartunista Laerte, a vereadora de Belo Horizonte, Áurea
Carolina, a militante Jupiara Castro, os professores da USP Laura Carvalho e
Denis de Oliveira e as atrizes Maria Casadevall e Monica Iozzi também marcaram
presença no evento.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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