Mulheres fazem atos em defesa dos direitos sociais, políticos e reprodutivos na Esplanada dos Ministérios (Foto: Valter Campanato) |
Apesar
da chuva forte, milhares de mulheres que foram à Esplanada dos Ministérios
protestar pela igualdade de gênero, pela democracia e por direitos sociais,
políticos e reprodutivos. Após concentração no pátio do Museu Nacional da
República, elas seguiram em passeata até a Alameda dos Estados, em frente ao
Congresso Nacional.
A
organização do ato Mulheres Unificadas do DF e Entorno estima que cerca de 5
mil pessoas, maioria mulheres, participou do ato, organizado por mais de 60
entidades ligadas à luta feminina.
Em
nome da Marcha Mundial das Mulheres, uma das organizadoras do protesto, Thaísa
Magalhães comemorou que pelo segundo ano seguido conseguiram unificar “todos os
movimentos de mulheres feministas e de esquerda” para defender as pautas do
movimento feminista não só no dia 8 de março, mas o ano inteiro.
“Temos
uma preocupação muito grande com o avançar da falta de democracia no país, que
afeta especialmente as mulheres, pelo fato de elas estarem na ponta mais fraca
da economia e do mercado de trabalho, muitas em regime de trabalho sem carteira
assinada, por exemplo. A perda de direitos trabalhistas, como já vimos, e
projetos como a proposta de reforma da Previdência, fazem com que elas sejam as
que mais perdem”, disse.
Thaísa
também falou da importância do combate a violência contra a mulher. “Estamos
assistindo assustadas aqui no DF o crescimento do número de estupros e de
violência contra as mulheres e ao mesmo tempo uma diminuição no investimento
dos aparelhos de acolhimento das mulheres vítimas de violência”.
A
participação das mulheres na política também foi debatida no ato. A
pesquisadora Sheila Campos, da Rede de Novas Pesquisas sobre Feminismo e
Política da Universidade de Brasília e do movimento Partida Feminista, destacou
que apesar de serem mais de metade da população brasileira, as mulheres estão
longe de ocupar metade dos espaços de poder.
“Mulheres
precisam se incentivar e se apoiar para se candidatar e se eleger para cargos
públicos. Meninas e adolescentes precisam ser incentivadas a usar a sua voz,
seja como representantes nas escolas, no bairro, para que falem nos espaços
públicos. É preciso acabar com o mito de que mulheres não gostam de política e
que não devem ocupar os espaços públicos porque são violentos e elas não sabem
se defender. Nós temos todas as capacidades, todas. O século 21 é prova
disso.”, disse.
Para
ela, as mulheres pagam um preço alto por não terem representatividade política.
“Afeta em termos de saúde, por exemplo, como é o caso dos direitos
reprodutivos. Você tem a votação de uma Emenda à Constituição, como a PEC 181,
que trata de temas como licença-maternidade para mães de crianças prematuras,
feita por homens, que vão decidir sozinhos sobre os nossos corpos. Obrigar uma
mulher a levar adiante uma gestação de uma criança acéfala ou fruto de estupro
é uma das maiores violências que se pode cometer. E os homens que estão lá
decidindo isso, não estão pensando nisso.”
Em
nome da Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno, a ativista Joseanes dos
Santos ressaltou que os números oficiais mostram uma realidade muito pior para
as mulheres negras no Brasil: ocupam os piores lugares da sociedade e enfrentam
maior dificuldade para acessar cidadania, moradia, emprego e renda.
“Nos
últimos dez anos o número de morte de mulheres negras aumentou 54%, enquanto o
número de mortes de mulheres brancas caiu 9%. O que é isso? Racismo. Nós também
ganhamos 51% a menos que as brancas no mercado de trabalho e a mortalidade
materna entre negras é 68% maior que entre as brancas. A cor diferencia os
dados.”, disse.
Para
ela, é fundamental que sejam feitas políticas públicas específicas para essas
mulheres. “Vivemos em situação de vulnerabilidade. Precisamos enfrentar
condições mais difíceis para estudar e trabalhar e se eleger. Ao mesmo tempo,
não existe nenhuma política pública do governo brasileiro, nem nunca existiu,
voltada para as negras brasileiras.”
Joseanes
também falou sobre o que classifica como “violência institucionalizada” contra comunidades
de periferia. “Nós, negros, somos maioria nas periferias e favelas e sempre
vivemos sob intervenção militar.”
Em
São Paulo, o ato ocorreu na Avenida Paulista. A mobilização começou às 16h na
Praça Oswaldo Cruz e foi encerrada com uma batucada de mulheres em frente ao
escritório da Presidência da República, na mesma avenida, às 20h30. No ato,
grupos protestaram em defesa da democracia e contra a violência de gênero e as
reformas da Previdência e trabalhista.
Os
organizadores informaram que o ato reuniu 50 mil pessoas. A Polícia Militar não
estimou o número de participantes.
A estudante Rafaela Carvalho, integrante do
Movimento Olga Benário, disse que que o ato tinha como objetivo alertar para a
necessidade de melhoria "da vida das mulheres, sobretudo, as mais pobres”.
“Lutamos
contra problemas como a falta de creche. Se a mulher não tem onde deixar os
filhos, não tem como trabalhar e, com isso, muitas vezes tem que se sujeitar à
uma situação de violência. Enfrentamos também muitos casos de meninas mais
jovens que precisam lidar com o assédio, que começa com o fiufiu. A gente
tenta, com o nosso trabalho, alcançar essas mulheres”, ressaltou Rafaela.
Da
aldeia Guarani, localizada no pico do Jaraguá, a indígena Sônia Ará participou
do ato e destacou os desafios de desconstrução do machismo nas comunidades
tradicionais. "No começo de tudo, as mulheres eram mais caladas. Hoje, a
mulher tem empoderamento de sair e falar de sua comunidade”, relatou. Ela conta
que a aldeia que faz parte conta com uma organização de mulheres e que isso foi
mudando a posição feminina. “Deixei marido e filho em casa. Disse: 'Estou indo
pra marcha'. E a gente conquistou essa liberdade. Nós fazemos parte da vida dos
homens, mas eles não são nossos donos”, afirmou.
Mulheres fazem protesto no Dia Internacional da Mulher, na Avenida Paulista (Foto: Rovena Rosal) |
A
ativista Amelinha Teles, que resistiu à ditadura militar, participa todos os
anos dos eventos do dia 8 de março em São Paulo. “Este ato em 2018 tem uma
importância histórica porque é demonstração da força feminista contra os
retrocessos e perdas. É uma manifestação que também é celebração da luta
histórica. É mostrar que estamos aqui resistindo. Nós já recebemos salários
menores, temos menos visibilidade na política, somos o alvo da violência de
gênero, racista”, declarou.
Representante
do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Cláudia Garcez destacou que sua
participação no ato representava a experiência de auto-organização feminina em
uma ocupação na zona leste de São Paulo. “Na ocupação Tereza de Benguela, a
gente se organiza para o empoderamento das mulheres com os eixos saúde, geração
de renda, cultura e formação política”, ressaltou. No eixo geração de renda, por exemplo, as
mulheres produzem joias ecológicas com cápsulas de máquina de café expresso. “O
machismo nos afeta de forma estrutural e a gente está lutando para desconstruir
aos poucos”, disse.
Sônia
Coelho, da Marcha Mundial de Mulheres, uma das 90 entidades que organizaram o
movimento, destacou que a desigualdade afeta sobretudo a vida das mulheres.
"Nós ainda somos as maiores responsáveis pelo trabalho doméstico. Essas
reformas [trabalhista e da Previdência] aprofundam ainda mais a desigualdade
entre homens e mulheres na nossa sociedade”, afirmou.
Com
informações portal Agência Brasil
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