O
líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos,
filou-se ao PSOL nesta segunda-feira 5 e foi aclamado pré-candidato ao Palácio
do Planalto, sem debates internos com outros postulantes e com apoio do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A forma como Boulos chegou rachou o
partido. Isso deve dificultar seu caminho como presidenciável pela legenda,
mesmo com a escolha de seu nome dada como certa na reunião do colégio eleitoral
do PSOL marcada para o próximo sábado 10.
O
pré-candidato Plínio de Arruda Sampaio Júnior, conhecido como Plininho e filho
do candidato do partido em 2010, se opõe ao colégio eleitoral e acusa a reunião
de ser um “jogo de cartas marcadas”. “Vamos disputar no colégio eleitoral
[sábado] e, depois, exigir que a definição do programa e [do candidato] do
partido seja feita pela base partidária, pela militância”, afirma à Carta Capital.
O
presidente do PSOL, Juliano Medeiros - um dos articuladores da candidatura de
Boulos -, minimiza o movimento e diz que o colegiado deve referendar o líder do
MTST com 80% dos 126 votos possíveis. “Eu diria que nunca tivemos uma
candidatura com tanto apoio interno desde a Heloísa Helena [hoje na Rede
Sustentabilidade], em 2006”, afirma.
Plininho
reclama da ausência do líder do MTST em debates prévios e da falta de consulta
à militância do partido em prévias abertas a todos os filiados. “O Boulos não
se expõe a um debate”, critica.
O
primeiro embate entre eles ocorrerá nesta quarta-feira 7, na sede da Associação
Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro. É o único debate programado
antes da escolha do candidato da legenda à Presidência da República neste final
de semana.
Os
pré-candidatos do PSOL, lista que inclui o economista Nildo Ouriques e o
pedagogo Hamilton Assis, devem insistir em novos debates e na realização de
prévias. “Se o Boulos se submeter a isso e se for escolhido [pela militância],
eu não tenho nenhum problema de fazer a campanha dele. Mas sem debates não há
legitimidade e o Boulos não representará a coletividade do partido”, sinaliza
Plininho.
O
professor da Unicamp acusa a liderança do PSOL de adotar um “método
autoritário”, operando “por fora das instâncias” partidárias, para criar uma
candidatura “satélite do PT”. “O PSOL chama Partido Socialismo e Liberdade e
está fazendo isso [de escolher o candidato] com um programa que não tem
socialismo e um método sem liberdade”, diz.
Boulos
é amigo de Lula, a quem tem defendido da condenação a 12 anos e um mês de
prisão no âmbito da Lava Jato, no caso do tríplex no Guarujá. No ato de
filiação, Boulos disse que a condenação é uma “ferida democrática”. “Não vamos
silenciar nenhum segundo sequer contra qualquer injustiça, inclusive aquela que
está sendo cometida contra o ex-presidente Lula”, disse.
Lula
chegou a gravar vídeo referendando a pré-candidatura de Boulos, o que serviu de
munição aos descontentes do PSOL contra a chegada o líder do MTST. Ele é
acusado de ser “peão do [ex-presidente] Lula” responsável por fazer do PSOL um
“puxadinho do PT”. “Ele [Boulos] no fundo quer fazer carreira política e está
fazendo isso como coadjuvante do Lula”, acusa Plininho.
O
fundador do PSOL e ex-deputado federal pela legenda Babá (BA) usou as redes
sociais para o apoio de Lula como um desrespeito ao que levou a criação do
PSOL. A legenda surgiu em 2005, após a debandada de petistas irritados com os
primeiros anos do governo Lula. “Um candidato lulista no PSOL é um completo
desrespeito à história de nosso partido”, escreveu no Facebook.
O
vereador Renato Cinco, um dos seis integrantes da bancada psolista na Câmara
Municipal do Rio de Janeiro – a maior do partido num município do País – diz
que a candidatura de Boulos “não expressa o espírito do PSOL”.
Ele
argumenta que o líder dos sem-teto foi puxado pela executiva do partido para
disputar o espólio eleitoral de Lula. “Uma parte do PSOL está convencida que
hoje o mais importante é disputar o racha do PT”, afirma.
O
deputado Ivan Valente (SP) chama os descontentes de “ultraminoria” e defende o
apoio de Lula como “solidariedade”. “Se é solidariedade, você não pode
rejeitar”, afirma. “A integridade do PSOL e sua independência não estão sob
nenhum risco”, diz.
O
deputado Chico Alencar (RJ) afirma que as críticas a Boulos são feitas por
psolistas com “concepção de partido mais fechado”, com foco na formação de
quadros próprios para ocupar cargos políticos.
Ele
rebate a ideia de que o PSOL esteja se transformando numa “quinta coluna
lulista”. Ou que a aliança com o MTST seja para forjar uma “candidatura
satélite” para o ex-presidente. “Sempre acontece isso. O pessoal estrebucha e
tem essas distensões, que eu considero naturais. Mas a partir da decisão
democrática [do colégio eleitoral] todos vêm juntos”, afirma o deputado.
Alencar
aponta Boulos como aquisição importante para o PSOL crescer fora de sua
militância tradicional. A ampliação da bancada federal de 6 para 12 deputados
entra nesse cálculo. “Somos um partido ainda com pequena inserção nos
movimentos sociais e o Boulos chega com uma potência muito grande [de colocar o
partido nos movimentos]”, diz Alencar.
Renato
Cinco considera equivocado o cálculo de que o presidenciável puxará votos para
a Câmara Federal – à qual vereador pretende disputar ao lado de Marcelo Freixo.
“Essa candidatura [presidencial] vai afastar os setores mais críticos ao PT e o
setores menos críticos tendem a votar no candidato do PT ou no Ciro Gomes [PDT]
para garantir um dos dois no segundo turno. Se a conta for essa, é um cálculo
meio tosco”, compara.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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