Quatorze
estados brasileiros sofreram um apagão na energia elétrica ontem (22/03). Mais de dois
mil municípios. No Ceará, a falha teve início por volta das 15h55min e o
abastecimento foi restabelecido por completo apenas às 20h54min. A falha em um
disjuntor na subestação de Xingu, no Pará, que recebe energia da hidrelétrica
de Belo Monte, que a repassa para o Sudeste do País, foi o motivo do apagão. O
problema teria sido resultado de um teste realizado pela concessionária Belo
Monte Transmissora de Energia (BMTE).
De
acordo com informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão
responsável por gerenciar e fiscalizar a entrega de energia em todo o País,
após a falha houve desligamento de diversas linhas de transmissão que compõem
troncos de interligação de todas as regiões brasileiras. O que significou
redução total de 18.000 MW, o que representa 22,5% da carga total do Sistema
Interligado Nacional (SIN). Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, houve
desligamento de 3.200 MW, enquanto no Sul a redução foi de 1.200 MW. As cargas
nesses locais foram restabelecidas em aproximadamente 20 minutos.
“A
partir dessa interrupção, nós tivemos a separação dos sistemas Norte e Nordeste
dos sistemas das regiões Sul e Sudeste, o que provocou um excesso de geração na
região Norte e o levou à desconexão dos sistemas das regiões Norte e Nordeste.
O Brasil tem todo o país interligado, a exceção do estado de Roraima ... neste
evento, o que ocorreu foi uma separação dos sistemas Norte e Nordeste e Sul e
Sudeste”, explicou o diretor do ONS, Luiz Eduardo Barata, em entrevista
coletiva no Rio de Janeiro, ainda durante a tarde de ontem.
A
demora na retomada do abastecimento nas cidades, ressaltou Luiz Eduardo, se deu
pela cautela. Quando um problema como o que ocorreu é identificado, um
desligamento em cadeia acontece para que não provoque maiores danos. Em
Fortaleza, dois apagões foram registrados. O primeiro durou cerca de duas
horas, entre 15h55min e, aproximadamente, 18 horas. Porém, 40 minutos depois
uma nova queda foi registrada, sendo restabelecida por volta das 19h30 min.
Em Fortaleza, 670 semáforos foram atingidos e, durante horas, cruzamentos e pontos
centrais do trânsito ficaram caóticos. Serviços de telefonia também foram
afetados.
A Enel Distribuição Ceará não informou possíveis danos pelas falhas e
oscilações de energia. Também não informou se houve impactos negativos no
sistema de abastecimento do Estado.
A energia em território cearense foi
restabelecida gradativamente, chegando a 57% por volta das 20h30min, a 70% às
20h38min e totalmente às 20h54min.
O
professor aposentado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), Heitor Scalambrini, afirmou que informações
preliminares dão conta de que houve tentativa de aumentar a carga em Belo Monte
de 2.000 MW para 4.000 MW. “O que se ventila é que o teste foi feito sem o
conhecimento da ONS. O desligamento automático acontece, por segurança, e não
pode ser retomado automaticamente.
Geralmente
esses testes são feitos fora do horário comercial, justamente para que se
houver algum problema, a repercussão não seja tão grande”, explicou. Conforme o
professor, se a causa realmente foi essa - a ONS informou que uma reunião com
as empresas envolvidas acontecerá até segunda-feira, 25.
A
linha de transmissão Xingu-Estreito, uma das afetadas, começou a ser construída
em 2014, após o consórcio formado pelas empresas State Grid Brazil Holding (com
51% de participação) e pelas brasileiras Eletronorte (24,5%) e Fumas (24,5%),
controladas pela Eletrobras, vencer o leilão de execução e operação. O
empreendimento teve investimentos de R$ 5 bilhões.
A
linha de transmissão tem mais de 2 mil km de extensão e foi a primeira do
Brasil chamada Ultra Alta Tensão (800kV). Representou tecnologia inédita no
País. No site da State Grid, há informações de que o empreendimento permite
maior capacidade e longa distância de transmissão de energia com menores perdas
técnicas e uso menor de terra.
O
Sistema Interligado Nacional (SIN), que teve sua carga afetada, é um sistema
hidro-termo-eólico de grande porte, com predominância de hidrelétricas. De
acordo com informações da ONS, a linhas de transmissão propiciam a
transferência de energia entre subsistemas, permitindo ganhos sinérgicos e
explorando a diversidade entre regimes hidrológicos das bacias. As usinas
hidrelétricas estão distribuídas em 16 bacias hidrográficas.
Com
informações portal O Povo Online
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