A
última edição de três das quatro principais revistas semanais brasileiras,
Veja, Época e IstoÉ, exibem uma interessante coincidência nas capas, tomadas
por uma propaganda do governo federal em defesa da reforma da Previdência. A
econômica Istoé Dinheiro também foi às bancas com a capa publicitária.
O
anúncio mostra a logomarca do governo federal e traz um aviso de que se trata
de uma sobrecapa publicitária, mas páginas nas redes sociais que criticam a
cobertura da mídia não pouparam a incrível "coincidência". No
anúncio, a foto de um menino e o texto "Reforma da Previdência hoje para
ele se aposentar amanhã".
No
Facebook, a página Caneta Desmanipuladora, que tem 255 mil seguidores, fez sua
postagem na tarde de domingo 18. Vinte horas depois eram 5,2 mil reações e 4,7
mil compartilhamentos.
Essa
foi apenas mais uma investida publicitária do governo federal em defesa da
reforma da Previdência. Desde meados de 2017 são frequentes as inserções,
especialmente na TV aberta, com mensagens a favor da reforma.
Não
bastasse, o próprio presidente Michel Temer participou de uma espécie de
maratona de entrevistas para abordar o assunto. Entre os entrevistados, Silvio
Santos e Ratinho, ambos do SBT. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
também concedeu entrevistas sobre a necessidade da reforma.
No
caso de Sílvio Santos, uma brincadeira de Temer saiu pela culatra e virou
símbolo dos gastos do governo para aprovar uma reforma rejeitada por quase 100%
dos brasileiros: o emedebista entregou uma nota de 50 reais ao apresentador
após este fazer uma defesa enfática das mudanças na aposentadoria.
Leia
também:
O
bode na sala na reforma da Previdência
No
ano passado, o governo destinou 170 milhões para despesas com comunicação no
Orçamento. Entre janeiro e junho, havia executado 100 milhões, incluídos os
anúncios em defesa da reforma da Previdência. De acordo com informações
veiculadas em dezembro, à época a equipe de comunicação do Planalto planejava
outros 72 milhões nos últimos dias para tentar diminuir a resistência da
opinião pública e reduzir o temor de sua base de enfrentar as urnas no ano que
vem.
Sobre
os custos da nova ação publicitária, não é possível estimar o preço. Os
veículos de comunicação têm tabelas para seus espaços publicitários, mas elas
nunca são levadas ao pé da letra. Os anunciantes costumam obter descontos, mas
o governo tende a aceitar reduções menores no valor do que o setor privado.
Neste caso, por se tratar de um formato inusual, quase nunca usado pelos
veículos, as negociações provavelmente ocorreram caso a caso e envolveram
valores também incomuns para os padrões do mercado.
PS:
Crítica contumaz da reforma da Previdência, CartaCapital obviamente não foi
brindada com o anúncio. A direção informa que, mesmo se procurada, teria
recusado a propaganda, por considerar falsas as premissas que embasam a defesa
das mudanças na aposentadoria. Não seria a primeira vez. CartaCapital recusa
qualquer publicidade que considere enganosa ou prejudicial aos consumidores e
cidadãos.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.