1. Cada vez que o apocalipse parecer iminente, arrisque acreditar no pós-apocalipse. Não torça por um fundo do poço mais profundo. Não cave o poço.
2.
Cobre do poder público não só a polícia nas ruas, mas que estejam iluminadas,
que as praças sejam manifestos de liberdade. Que as árvores cresçam e sejam o
lembrete de que a vida aqui é possível. Exija que o saneamento básico, as
escolas, as artes, os esportes, os hospitais não se restrinjam às
aldeotas.
3.
Lute para que a Cidade perca os muros e chore por cada morto nas Cajazeiras e
em Itapajé. Cada vida importa. Não use o “envolvimento” com o tráfico como
sossego ou justificativa. Cada vida importa. A juventude não pode ser
exterminada.
4.
Tenha medo, investigue o medo, mas vamos, juntos, tentar não paralisar pelo
medo.
5.
Perceba que a violência urbana é parte de profundas desigualdades sociais.
Lembre que vivemos em um dos estados mais desiguais deste País, com gente muito
rica (alguns por heranças coloniais, por corrupção e não por mérito) e gente
miserável (gente até escravizada por gente muito rica). Isso não apaga o medo,
mas ajuda a entender muita coisa.
6.
Se você for um gestor público, não diga que os massacres que acontecem
diariamente nesta cidade são atos isolados. Ninguém aqui é burro e todo mundo
tem medo. Chame os especialistas, a polícia, os jovens negros, as mães para um
diálogo real e transformador.
7.
Lembre que você mora perto do mar. Olhar para o horizonte acalma, é bom para navegar entre a tristeza e a crença
utópica em um futuro melhor.
8.
Rasgue as listas. Invente suas próprias listas, refaça-as constantemente porque
estamos todos perturbados, perdidos e ninguém tem fórmula universal para
sobreviver ao medo nem detém o imperativo de ordenar qualquer coisa a alguém.
9.
A única recomendação obrigatória, sempre: não use o celular para espalhar
terror. Não compartilhe boatos, mentiras, fotos e vídeos de violência.
Precisamos inventar estratégias para continuar existindo no meio das ruas. Vai
ser difícil, vamos desacreditar muitas vezes, mas há de existir um jeito.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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