Em
toda eleição, circula na internet um e-mail despolitizado e perigoso para o
regime democrático. É uma convocação para o povo votar nulo: “Todos são
corruptos, vamos votar nulo e as eleições serão anuladas”.
Na
realidade, tecnicamente não existe “voto nulo”. Por quê? Para José Afonso da Silva,
o voto é o “ato político que materializa, na prática, o direito público
subjetivo de sufrágio”, ou seja, voto é processo de escolha.
Portanto, quando a
opção é pelo voto nulo ou branco não há tecnicamente voto, pois não houve
escolha e, então, não pode causar nulidade de uma eleição por um motivo
simples: na eleição majoritária e na proporcional, o número de votos válidos
não é aferido sobre o total de votos apurados. Leva-se em consideração tão
somente o percentual de votos dados aos candidatos, excluindo-se os votos nulos
e os brancos.
Entendo
que o voto, por si só, não é obrigatório. Se fosse, o eleitor não poderia
anular sua manifestação de vontade política. As manifestações “nula” e a “em
branco” não podem ser consideradas “voto” em sentido técnico, pois não são
aproveitadas, nem no sistema majoritário, nem no proporcional. “O que é
obrigatório” é o comparecimento do eleitor no dia da eleição.
Nossa
lei eleitoral é clara: na majoritária, será considerado eleito o candidato que
obtiver a maioria absoluta de votos, não computados brancos e nulos. Na
proporcional, determina-se o quociente eleitoral dividindo-se o número de votos
válidos pelo de lugares a preencher em cada circunscrição eleitoral, desprezada
a fração se igual ou inferior a meio, equivalente a um, se superior. Mas se a
nulidade atingir a mais de metade dos votos? Haverá ou não nova eleição?
Se
a nulidade atingir a mais de metade dos votos do País nas eleições
presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições
municipais, serão julgadas prejudicadas as demais votações e o tribunal marcará
dia para nova eleição dentro do prazo de 20 a 40 dias.
“Então
vamos votar nulo para haver nova eleição!!!!” Não é possível anular eleição com
as opções “nulo” e “branco”. Devemos ter consciência que, na democracia, o
povo, com mais ou menos perfeição, governa-se a si mesmo e decide o seu
destino. Faz-se representar, porque o povo é muito numeroso e o instrumento de
representação é o voto. Sempre considerei a manifestação nula como um fator
alienante.
Não deve ser encarada como um protesto de pessoas politizadas,
afinal, só serve para manter o status quo dos que estão no poder. Portanto, por
mais que você esteja decepcionado com os políticos brasileiros, “vote”, e se você
se decepcionar, vote novamente: sempre deve haver uma alternativa melhor.
Os
“intelectuais” do voto nulo esquecem de Maquiavel: na política quem não toma
partido é dominado pela política dos que a tomam e manter-se inerte diante da
injustiça é escolher o lado do opressor. A intelectualidade opressora transmite
ao povo diversas pobrezas: a de espírito, com a estratégia “todos são assim e
nada vai mudar”; a material, com a estratégia “pobre é ser um pedinte,
necessitado e facilmente comprado”; e intelectual, com a estratégia “quanto
mais analfabetos menos politização e mais votos adestrados”.
Só
existe uma solução: começar a gostar de política, debater como pode melhorar o
país, votar consciente e nunca desistir de construir uma rica nação cidadã.
Porque, se você vota “nulo”, alguém vota no corrupto. Sua manifestação não tem
efeito pois o corrupto é eleito. Só há um método de protesto válido e que causa
efeito: votar consciente e excluir do processo eleitoral os corruptos.
O
voto consciente, eis a grande vacina contra a epidemia da corrupção, afinal,
como escreveu Rousseau: “Uma sociedade
só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém
seja tão pobre que tenha de se vender a alguém”.
Publicado
originalmente no portal Diário de Pernambuco
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