Reunião dos partidos progressistas em Brasília (Foto: Divulgação) |
As
fundações ligadas aos cinco principais partidos de esquerda brasileiros –
PCdoB, PDT, PSOL e PT – lançaram na terça-feira 20 um manifesto cuja ideia é
facilitar a união do bloco progressista, dando a essas legendas um "base
programática convergente". O PSB, na reta final, decidiu não endossar o
documento. O objetivo é que as diretrizes presentes no documento sejam a base
de uma "nova maioria política e social" que coloque o Brasil nos
rumos de "um novo ciclo político de democracia, de soberania nacional e de
prosperidade econômica e progresso social".
O
texto é assinado pelos presidentes das fundações Lauro Campos (PSOL), Leonel Brizola-Alberto
Pasqualini (PDT), Mauricio Grabois (PCdoB) e Perseu Abramo (PT) e não implica
alianças nas eleições de outubro. Ainda na introdução, as instituições
signatárias destacam que as ideias presentes ali independem das
"estratégias e táticas eleitorais".
Intitulado
"Unidade para Reconstruir o Brasil", o texto não traz propostas
específicas, mas sim linhas gerais com as quais os cinco partidos concordam.
Entenda os principais pontos do manifesto:
As
fundações progressistas afirmam que "o capitalismo hegemonizado pela
grande finança" está em crise há dez anos e, busca "pretensas
saídas", impõe uma agenda que envolve o recrudescimento do
"neoliberalismo, com a chamada política de austeridade, que corta
direitos, liquida com o Estado de Bem-Estar Social, mutila a democracia e
assegura os ganhos parasitários e astronômicos ao rentismo".
Além
disso, afirmam, há uma busca para impor uma "ordem neocolonial através da
qual açabarca a riqueza das nações e impõe amarras e políticas que negam o
direito dos países da periferia e semiperiferia do centro capitalista de se
desenvolverem autonomamente".
Sem
citar diretamente o impeachment de Dilma Rousseff, os partidos de esquerda
adotam o argumento central do PT, de que o episódio afastou o Brasil do regime
democrático.
O
documento afirma que o Brasil precisa "reencontrar-se com a
democracia" e lista entre as tarefas imediatas "a restauração da
democracia, do Estado Democrático de Direito, do equilíbrio entre os Poderes da
República". Na mesma lista está a "garantia da realização das
eleições de 2018", o que ecoa um temor crescente no campo progressistas de
que o pleito marcado para outubro será, de alguma forma inviabilizado
O
governo de Michel Temer é avaliado como "politicamente ilegítimo",
responsável por um "regime ultraliberal, autoritário, contra o povo e
contra a Nação", imposto pelo Planalto e "pelos partidos
conservadores e as grandes forças econômicas internas e externas que lhe dão
apoio". O resultado, diz o manifesto, é a rota de "entreguismo, do
autoritarismo e do corte crescente dos direitos do povo e da classe
trabalhadora".
Não
há menção ao julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera
com folga todas as pesquisas eleitorais, mas deve ser impedido de disputar a
presidência.
O manifesto defende um estado "forte", que tenha papel "planejador e indutor do desenvolvimento" e propõe a defesa "da soberania nacional e do patrimônio do Brasil, contra as privatizações e concessões criminosas, em especial da Petrobras e da riqueza do pré-sal".
O
crescimento econômico deve ser retomado focando a "elevação dos
investimentos, o estímulo à produção e a geração de empregos", mas
mantendo "os direitos do povo, a valorização do trabalho, a distribuição
de renda e a redução das desigualdades sociais e regionais."
É
imperativo, diz o documento, elevar a taxa de investimentos públicos e privados
e "incentivar os investimentos produtivos e desestimular a especulação
financeira e rentista". O reaquecimento da economia precisa da
participação "indispensável dos bancos públicos, em especial do BNDES,
como base do financiamento de longo prazo que deve ser restaurado".
Ainda
segundo as fundações, é preciso reduzir os spreads bancários, incentivar o
consumo popular e buscar uma nova política macroeconômica "que supere o
longo ciclo de juros elevadíssimos e câmbio apreciado com danosas
consequências, entre as quais o processo de desindustrialização" e que seja
capaz de "reduzir estruturalmente a taxa real de juros, manter sob
controle a dívida pública, assegurar o equilíbrio fiscal do Estado e defender a
moeda"
Os
partidos defendem a continuada valorização das commodities, mas propõe
investimentos em infraestrutura e inovação tecnológica, destacando que a
indústria é um setor-chave e o Brasil deve "se reindustrializar e
modernizar seu parque produtivo" diante do contexto da chamada 4ª
Revolução Industrial.
Tudo
isso deve ocorrer, afirma o documento, garantindo "proteção do meio
ambiente com desenvolvimento sustentável de todos os biomas e regiões".
O
documento prega que o Estado atue para "erradicar as desigualdades regionais"
e que as estratégias de crescimento da economia estejam voltadas e associadas
"à redução das desigualdades sociais". O bloco progressista
classifica como urgente a uma "reforma tributária progressiva que tribute
mais os detentores de fortunas, as riquezas e rendas elevadas" e
"promova gradual desoneração da produção e do consumo" e desoneração
"da remuneração do trabalho".
O
manifesto progressista aborda em dois pontos as pautas identitárias, cuja força
tem crescido de maneira intensa em sua base eleitoral. Os partidos afirmam que
a "emancipação das mulheres é uma condição indispensável para o avanço
civilizacional" e defende políticas públicas que ajudem a "superar
preconceitos", combater a violência e "incentivem e assegurem seus
direitos".
Ainda
segundo os partidos, é preciso construir uma sociedade que "supere
preconceitos", sendo necessários lutar "contra o racismo e por
políticas de promoção da igualdade social para os negros", pela garantia
dos direitos das etnias indígenas e pela proteção da liberdade religiosa e da
livre orientação sexual".
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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