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5 de fevereiro de 2018

A festa e o limite da exposição por Ana Rute Ramires

“O que acontece em Vegas, fica em Vegas”. O ditado popular que sugere reserva para as excentricidades que acontecem na cidade norteamericana, famosa por seus cassinos e extravagâncias, já não é mais garantia em tempos de redes sociais. 

E por aqui, abaixo da Linha do Equador, é preciso estar ainda atento durante o Carnaval. A exposição digital espreita a fantasia.

A decisão de postar um stories (postagens do Instagram que saem do ar em 24 horas), uma foto no Facebook ou mandar uma foto no grupo do whatsapp demanda, ou deveria demandar, de acordo com especialistas, maior cuidado. Em tempos de conteúdos que viralizam cada vez mais rápido e de visibilidade instantânea, é preciso avaliar o que se divulga sobre si mesmo e sobre os outros. 

A Web não esquece. Para Mariana Ruggeri, professora de Comunicação e Marketing Digital, esse é um dos fatores que mais preocupam com relação ao “poder da Web”. “Tudo fica registrado, catalogado, e você pode utilizar um mecanismo de busca para encontrar aquele fato, foto ou vídeo que você daria tudo para esquecer”, explica, citando ainda o compartilhamento “viral” de conteúdos na internet. 

“Uma imagem vale mais do que mil palavras. Não adianta, uma foto ou um vídeo vai valer muito mais do que um textão no Facebook. As pessoas todas vão ver aquele conteúdo, um fragmento do todo que aconteceu, e vão julgar. E não espere um julgamento positivo”, defende. 

Para Aluísio Ferreira Lima, doutor em Psicologia Social, há uma ideia popular que o que se faz no Carnaval é quase um “acordo implícito”. “Uma convenção de que o Carnaval é um momento onde tudo é permitido e de que tudo o que acontece nesse período deve ficar lançado ao esquecimento”, descreve. 

“Acontece que, devido às transformações ocorridas em nossa sociedade, que fazem com que alguns autores hoje a descrevam como a ‘sociedade dos algoritmos’, torna-se cada vez mais difícil passar pelo Carnaval de forma anônima e praticamente impossível esquecer o que se fez. 

O modo espetacularizado de existência, onde o uso dos smartphones servem para registrar todos os instantes vividos pelos sujeitos e para postar em redes sociais, torna toda e qualquer participação uma possibilidade de registro de nossos comportamentos, sobretudo, em eventos públicos, o que significa ser fotografado e filmado em tempo real, por si ou por outros que estão participando do mesmo evento”, elabora.

Uma dica para evitar constrangimentos sem deixar de tirar fotos dos momentos de alegria, segundo Mariana Ruggeri, é fazer os registros no início da festa. “Seja a voz consciente do teu grupo de amigos, não permita que alguém se exponha ou que exponha alguém. 

Faça as fotos no começo da festa, com a make linda, o look perfeito, o grupo de amigos sóbrios, a pose bem feita, depois guarda o celular no bolso e aproveita a festa, com moderação”, orienta. Mariana resume: “o limite é não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem com você”. 

“No que se refere aos limites das brincadeiras é importante lembrar que, apesar de o Carnaval ser um momento onde muitas das convenções sociais são suspensas, isso não significa ausência ou suspensão dos nossos acordos sociais. O Carnaval continua não sendo espaço para homofobia, racismo, machismo, violência contra a mulher (principalmente sexual). Qualquer ‘brincadeira’ que se configure como a expressão de alguma violência contra o outro deve ser colocada como fora de cogitação”, alerta Aluísio.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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