Capitão
Wagner (PR) não é aventureiro, mas tem senso de oportunidade. Entre esses dois
parâmetros, a hipótese de ele ser candidato a governador balança. Agora, com
viés de alta.
A presença do deputado como adversário de Camilo Santana (PT)
muda a disputa. Pelo simples fato de que a oposição passa a ter candidato de
fato. Nada contra o Psol, partido de valor. Mas, faltam dinheiro, tempo de
propaganda, alianças e maleabilidade, atributos essenciais para se ter chance
numa eleição majoritária. O Capitão confere competitividade a uma disputa que
caminhava para ser por WO.
Wagner
é o pior adversário que o governador poderia ter. Ele personifica a maior
fragilidade desta administração — e de todas as anteriores neste século e até
antes. Tomou de Heitor Férrer (PSB) o posto de mais perceptível contraponto ao
grupo Ferreira Gomes. Família que é principal causa de rejeição — embora,
igualmente, fonte maior de apoio ao governador.
Sem
dizer uma palavra, Wagner já é oposição a Camilo.
Na
campanha para prefeito, em 2016, Roberto Cláudio (PDT) foi feliz ao
neutralizá-lo, com Moroni Torgan (DEM) como vice. O delegado aposentado quer
ficar do lado do governo. Mas, o DEM nacional não gosta da ideia de se aliar a
um petista. Assim como o PT terá de explicar como autorizou um de seus
governadores a se juntar ao “golpista” DEM. Certo, Camilo já está agarrado a
Eunício Oliveira (MDB) e nada o faz largar. Mas, o velho novo MDB está atrelado
ao PT em vários outros estados. O DEM é caso mais complicado e de mais longa
data.
Além
do que, dificilmente haverá alguém com perfil de Moroni na chapa. Nos
bastidores, Zezinho Albuquerque (PDT) é pule de dez para assumir o lugar de
Izolda Cela (PDT) na chapa governista. A última eleição do deputado para presidir
a Assembleia, em dezembro de 2016, já deu mostras de que seu tempo de comando
do Legislativo atingiu o esgotamento. Aquela disputa com Sérgio Aguiar (PDT)
provocou fissura na base aliada cuja consequência, entre outras, foi a extinção
do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM).
Então,
Zezinho buscará outro caminho e provavelmente será no Poder Executivo, ao lado
de Camilo.
A
disposição de Wagner para ser candidato envolve aceitar riscos. Nos últimos 60
anos, dois governadores foram eleitos como opositores ao Poder Executivo de
plantão. Um foi Parsifal Barroso, em 1958. O outro foi Cid Gomes, em 2006. É
uma empreitada incerta e, se perder, o Capitão fica sem mandato.
Camilo
construiu bases sólidas para a reeleição. Costurou aliança que dá tranquilidade
da qual Cid Gomes nunca desfrutou. Teve méritos, como atravessar sem
sobressaltos a crise econômica na qual muitos estados foram à bancarrota. E os
resultados na educação e infraestrutura são expressivos. Na saúde, conseguiu
erradicar o surto de sarampo. Mas, os problemas persistem. Na segurança, há o
desastre.
No
saldo final, Camilo é favorito para se reeleger. Caso decida arriscar o mandato
— e desistir da perspectiva de eleger robusta bancada para o Pros, seu futuro
partido — Wagner sabe que será para entrar como azarão.
Essa
perspectiva havia sido afastada na virada do ano e retornou porque a situação
de Camilo na segurança só piora. O Capitão nem via chance. Agora, enxerga
alguma.
Entre
idas e vindas, Wagner criou alguns problemas para si. Um de seus grandes
trunfos é a militância mais barulhenta e articulada entre todos os grupos
políticos do Ceará na atualidade. O Capitão é mais arejado e esclarecido que a
quase totalidade dos apoiadores — por isso mesmo os lidera. Em nome de agradar
essa base, ele se abraçou ao que há de mais retrógrado e repugnante na política
brasileira.
Chegou
a gravar vídeo com Jair Bolsonaro (PSC-RJ), a quem chamou de presidente. A
aproximação entre eles foi motivo, aliás, do afastamento de Tasso Jereissati
(PSDB). O Capitão pensava fazer um giro, mas pode ter feito um girau. Na mesma
época, Bolsonaro começou a ser alvo de denúncias e questionamentos sobre
aumento de patrimônio e uso indevido de verbas. Além do cálculo que Wagner
talvez não tenha feito: o pior desempenho de Bolsonaro nas pesquisas é no
Nordeste, onde passa longe do apelo de outras regiões.
Agora,
Wagner já trata de tentar se distanciar. Mas, esse tipo de movimento deixa
nódoas.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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