Tanto
quanto posso – difícil em meio à continuada crise brasileira – tenho
acompanhado de longe a discussão sobre as mudanças de política do Facebook, que
envolve “fake news”, direcionamento de conteúdo e, diz o “dono” da ferramenta,
Mark Zuckerberg, a decisão de privilegiar redes de amigos sobre conteúdo
jornalística (ou pseudojornalístico).
Em
primeiro lugar, o Facebook não é – e há muito tempo – uma assembléia ampla,
geral e irrestrita de usuários da internet. Com critérios obscuros e ocultos a
seus participantes, ele já dirige, impulsiona ou restringe a amplitude de seu
alcance.
Em
parte, assumidamente, cobrando para “impulsionar” publicações o que, claro, só
pode ser feito por quem tenha: a) interesse promocional (comercial ou político)
e b) dinheiro. Promover um único post do
Tijolaço custaria – consultei agora – R$ 540, para apenas 200 mil pessoas,
publico semelhante ao que se tem aqui nos bons dias.
De
outra forma, o programa de Mark
Zuckerberg controla as “curtidas” da página. Quando era “pequeno”, mais de 1,5
mil pessoas curtiam aqui a cada semana. Depois que passou dos 70 mil, foi
minguando, quando a lógica seria, mesmo com taxas menores de crescimento,
subirem mais rápido os números absolutos.
Há
certa “lenda” na dependência ao Facebook
da internet. Amigos, frequentemente, me escrevem vibrando por um post
ter tido “x” curtidas ou compartilhamentos. É importante, claro, para o alcance
do que escrevo. Embora ajude muito, o tráfego originado do “face” anda na mesma
faixa do que registra o gráfico publicado hoje pela Folha.
O
Facebook, cujas origens são antigas, desde os tempos dos BBS e, depois, do ICQ,
teve como diferencial ser, ao mesmo tempo, um mecanismo de comunicação entre
indivíduos (a evolução dos “chats”) e de expressão pública (a dos blogs), onde
os usuários publicam amplamente sem a necessidade de uma estrutura, de uma
plataforma pessoal.
O
passo adiante que a plataforma deu foi exatamente o de romper as limitações do
“grupo” e permitir que qualquer um possa “entrar” em polêmicas, concordar ou
divergir, aplaudir ou “zoar”. Em tese, claro, porque a velha tendência – e cada
vez mais atual – de que as comunidades se “tribalizem” e passem a ser quase de
monólogos entre iguais – ou de “gritos de guerra” para os “inimigos” de outra
tribo sempre foi capturada e usada pelo único sistema absolutamente cosmopolita
que o mundo conhece: o do dinheiro.
Tão
“novo” que Julio Cesar já dizia no seu relato sobre a conquista da Gália:
Divide et impera. Dividir para reinar sempre foi a estratégia da dominação e
ainda é, malgrado parte dos que se consideram livres e transformadores se
fechem nos mesmos cubículos mentais, agora na versão cult de “gênero”, etnia,
ismos e outras negações do diferente que transformam o diverso em “inimigo
visível” enquanto Roma vai dilatando o império.
Os
jornais e redes de TV, que deixaram de ser veículos de propagação para se
tornarem feitores da dominação, chiam porque se esvaziam. E seus editores e
comentaristas, claro, sentem que o pedestal em que foram postos vai se
derretendo.
A
reação da Folha, hoje, a esta polêmica é típica desse sentimento de dissolução
do próprio poder. Os males do Facebook –
chamado de “câncer social” e “ameaça à democracia” não são, afinal, diferentes
do que a mídia monopolista se tornou ao longo dos últimos 50 anos.
O
“pequeno problema” desta estratégia de segmentação que faz o Facebook é que ela
é anti-histórica. A comunicação humana, seja como meio de transporte de pessoas
ou de ideias, sempre foi imperial antes de ser revolucionária. Não é possível
pensar em globalização do capital sem, ao mesmo tempo, tornar cosmopolita a
circulação de ideias.
Comunicação
não tem o mesmo limite da propaganda, onde você define um público e terá
sucesso se o alcançar. Formar um quisto pode servir a projetos políticos como o
de Jair Bolsonaro, jamais a uma visão de Nação, múltipla e complexa.
O
Facebook, se for adiante nos seus planos de “tribalização preferencial”, será
substituído, como substituiu o Orkut. Aliás, na internet, a obsolescência chega
mais rápido que em qualquer lugar tecnológico.
Os
donos do mundo – mundinhos ou mundões – precisam entender que o caminho do
mundo é ter cada vez menos donos.
Publicado
originalmente no portal Tijolaço
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