Ciro
Gomes tem atraído uma parcela da população que dedicou sua energia a combater o
golpe institucional. Sua forma de discurso, agressiva, aparenta uma disposição
a maiores enfrentamentos com a sórdida elite herdeira da escravidão que domina
o país.
Esta posição mais "combativa" bem como um discurso mais nacionalista parece localizá-lo à esquerda do lulismo e à margem da conciliação de classes. Mas trata-se de todo o contrário. Seu partido, mais que o famoso governismo do PMDB, é o campeão nacional de coligações como mostrou pesquisa da Folha de São Paulo.
Esta posição mais "combativa" bem como um discurso mais nacionalista parece localizá-lo à esquerda do lulismo e à margem da conciliação de classes. Mas trata-se de todo o contrário. Seu partido, mais que o famoso governismo do PMDB, é o campeão nacional de coligações como mostrou pesquisa da Folha de São Paulo.
Pesquisa
publicada hoje mostra como o PDT é o campeão nacional de coligações
"polivalantes", ocupa cargos de relevância em 22 governos estaduais
que vão do PSDB ao PT, passando noblesse oblige pelo PMDB, coisa que o PT
também faz.
Esta
situação mostra como não há caminho fácil para fora da conciliação de classes.
Não há lições que Lula e o PT aprendam pois nasceram e inscrevem em seu
programa a conciliação, e não importa o golpe, a reforma trabalhista, nada, o
caminho que oferecem é mais e mais conciliação, assim se entende o
"perdoar golpistas de Lula" e conciliar com empresários, nem o velho
partido da conciliação varguista agora capitaneado por uma das famílias mais
tradicionais da política cearense que vai oferecer por mágica o que temos que
resolver pela militância.
O
PDT carrega em seu "DNA" a conciliação. Nascido das entranhas do
varguismo para representar os interesses dos trabalhadores em conciliação com
interesses empresariais e das elites políticas representadas no PSD. O PDT é o
herdeiro político do velho PTB. No final da ditadura, Brizola foi obrigado a
adotar um novo nome para seu velho partido por imposição e chicana da ditadura
que quis diminuir-lhe o "recall" político em setores de massa ao não
permitir o velho nome e entregar a inexpressiva Ivete Vargas que serviu para a
manobra unicamente para roubar a velha sigla.
Ciro
não difere tanto do partido onde agora repousa suas ambições, também trás em
sua trajetória inegável trânsito em todos lados da política pátria. Nasceu à
política no PDS, partido de Maluf e herdeiro da ARENA da ditadura, depois rumou
ao PMDB e foi junto do tucano paulista e do milionário Jereissati fundador do
PSDB cearense. Foi ministro de Itamar Franco, e presidiu a privatização da
Embraer, depois se fez crítico de FHC e do plano real entrando no ainda lulista
PPS e concorreu a presidência em chapa apoiada pelo PFL de um grande cacique
regional e símbolo da ditadura, ACM. Depois rumou ao PSB, formou um novo
partido, o PROS e agora repousa no PDT.
O
breve estudo da Folha que motiva estas ainda mais breves linhas mostram uma
realidade que precisa ser mostrada por mil e um caminhos e argumentos. A
conciliação com os empresários e com os políticos que a eles representam está
na antípoda do que precisamos para oferecer ideias radicais aos trabalhadores e
a juventude.
A
"radicalidade" anticapitalista das ideias é necessária não somente
porque se trata da resposta adequada a um capitalismo que cada vez quer fazer
ainda piores nossas condições de vida, que utiliza avanços civilizatórios como
o aumento da expectativa de vida para trucidar direitos como na reforma da
Previdencia. Mas também esta "radicalidade" é necessária como
resposta à "crise orgânica" em que vivemos, onde uma parcela dos
trabalhadores se frustraram com os partidos tradicionais e procuram em Ciro, em
Bolsonaro e outros a aparência de algo novo. Só uma esquerda anticapitalista
que batalhe pela construção de um verdadeiro partido revolucionário pode
oferecer um programa a altura de ideias fortes.
A
tarefa histórica de superação da conciliação de classes não se resolverá pela
esperança que um PT se ressignifique nem que um PDT, burguês de nascimento,
venha a fazer diferente do que ele é. A esta tarefa cabe não a esperança de um
salvador das velhas elites mas nosso esforço consciente.
Publicado
originalmente no portal Esquerda Online
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