Usina poderá operar na Região Metropolitana (Foto: Evilázio Bezerra) |
O
Ceará é banhado por mais de 573 quilômetros de faixas de praia. É em torno
delas que pulsam o turismo, a pesca, o lazer, dentre outros pilares da economia
do Estado. Mas a água potável – aquela que se bebe, faz comida e é essencial
para as atividades econômicas funcionem – vem distante. Mais precisamente dos
açudes de Orós e Castanhão, que, mais uma vez, correm o risco de entrar em
colapso, após seis anos consecutivos de seca. Em muitos países, dessalinizar a
água do mar é a alternativa para evitar o desabastecimento do consumo humano.
Uma
solução mais perene que a captação dos mananciais de água doce e transposições
– hoje o Castanhão, maior reservatório público para múltiplos usos do Brasil,
agoniza com apenas 2,42% dos 6,7 bilhões de metros cúbicos (m³) de água que
poderia comportar – mas que tem um preço alto. O custo médio de uma usina de
dessalinização é de US$ 1 a US$ 1,5 por metro cúbico de água. O que daria entre
R$ 3,20 e R$ 4,81. Bem acima dos R$ 0,458 por m3 que a Companhia de Água e
Esgoto do Ceará (Cagece) paga hoje para ter acesso à água que vem dos açudes.
Não
se sabe ainda se esta vai ser a conta a ser paga pela água que virá da usina
que o Governo busca implantar no Estado. Mas, pela primeira vez, este é um
projeto que começa a ser colocado na ponta do lápis.
A
Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) lançou, em agosto de 2017, edital
para escolher as empresas que farão os estudos da usina, estimada inicialmente
em R$ 500 milhões e prevista para entrar em operação em 2020. A meta é suprir
12% da água potável da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Ao
todo, 15 estudos de viabilidade (ambiental, econômico, modelagem do negócio,
etc.) estão sendo desenvolvidos pela sul coreana GS Insima e a espanhola
Acciona, que participam do certame. Elas têm até maio deste ano para apresentar
propostas.
Porém,
até o próximo mês, já será possível conhecer os locais mais indicados para
receber o equipamento, que pode operar em Fortaleza ou na Região Metropolitana.
“Até porque precisamos submeter ao processo de licença prévia da Semace
(Superintendência Estadual do Meio Ambiente) para ver se estas áreas não têm
algum impedimento ambiental”, afirma o gerente de Pesquisa e Inovação da
Cagece, Silvano Porto.
O
ex-presidente da Associação Internacional de Dessalinização (IDA), Emílio
Gabrielli, consultor da Toray Brasil, diz que este é um caminho já trilhado
por, pelo menos, 150 países. Na Arábia Saudita, Kuwait, Israel e Singapura, a
tecnologia responde por mais de 80% do abastecimento. Na Austrália, é em torno
de 40%.
O
custo da usina é maior quando o preço da energia também é alto, como é o caso
do Ceará. Mas ele acredita que a planta não deve ser muito mais do que US$ 1
por m³ de água. “Acho que em 20, 30 anos, quase todas as cidades costeiras e
que tenham receio de seca vão investir nisso ou pensar sobre o assunto. É um
seguro de que vai haver água, mesmo que o clima não ajude”.
Observa
que, em lugarescom dessalinização, o usuário passou a pagar a mais pelo
serviço. No entanto, pondera que é preciso levar em conta também o preço que se
paga por não ter água disponível. “A própria sobrevivência do homem é
ameaçada”.
O
professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC),
Jeovah Meireles alerta sobre o impacto que a natureza paga por estes
empreendimentos. “É um custo ambiental seríssimo. O resíduo salino, quando é
devolvido ao mar, muda a bioquímica do lençol freático”.
A
ideia inicial é que a usina seja uma opção para os períodos de maior estiagem,
como são as termelétricas. Quando a planta não operar, continua havendo gasto
para manter o empreendimento.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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