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13 de janeiro de 2018

“O Brasil precisa discutir seus reais problemas” por Cid Gomes

O Brasil passa por um dos momentos mais graves de sua curta história democrática. Os ataques aos direitos dos trabalhadores e aposentados, a venda de nossas riquezas a preço de banana para empresas estrangeiras e o criminoso despejo de recursos no poço sem fundo da dívida criam um cenário que, se não bem estudado e tratado com vigor, pode comprometer de forma violenta o futuro do nosso País.

Em 2018, além da luta pela retomada da democracia, com a garantia de eleições livres, precisamos celebrar um pacto por um projeto nacional de desenvolvimento que una quem produz com quem trabalha para devolver ao povo a esperança de um Brasil melhor.

Em março de 2015, subi na tribuna da Câmara Federal para denunciar que a corrupção e o achaque mandavam no poder central em Brasília e que um golpe era tramado contra a democracia e o povo brasileiro. Ali, eu apontava não para a cara de um deputado, mas para o símbolo do que corroía as instituições e a esperança de todas e todos por um futuro melhor.

Infelizmente, naquele momento, o governo brasileiro, eleito pela maioria do povo, sucumbiu à chantagem e viu meses depois sua derrocada por meio de um golpe que levou 14 milhões de brasileiros ao desemprego e à aprovação de medidas absolutamente hostis aos mais frágeis da nossa sociedade.

Para agravar ainda mais a sensação de que bandidos subiram a rampa do Planalto, o elo entre o vice-presidente conspirador e a parte do Congresso corrompida, o ex-deputado Eduardo Cunha, o mesmo que enfrentei em 2015, foi preso pela Polícia Federal.

Nesse cenário, é preciso alertar, mais do que nunca, ao nosso povo, que este ajuntamento de corruptos se prepara  para as eleições de 2018. Eles não vão querer largar o osso e usarão das piores táticas para fraudar ou impedir um pleito justo. Cabe, portanto, a todos ficar atentos e lutar para que o direto ao voto seja preservado.

Para isso é preciso informar e discutir com a população seus reais problemas. Ciro Gomes, que, mais do que meu irmão mais velho, é minha inspiração para a vida pública, tem rodado o Brasil com palestras e debates em centenas de universidades desvelando o que está por trás deste grave momento.

O rentismo, exposto na sua forma mais cruel, traga recursos preciosos de áreas prioritárias como saúde, educação, segurança e desenvolvimento para jogar no poço sem fundo da dívida, que beneficia a pouquíssimas famílias.

Essa distorção agrava um problema que nos parecia estar vencido: o da desigualdade. Hoje apenas seis indivíduos concentram fortuna igual àquela de 100 milhões de brasileiros, ou quase metade da nossa população. Não existe cenário semelhante em nenhum outro país do planeta.

Para além disso, forçam goela abaixo do nosso povo uma reforma trabalhista que retira direitos e explora ainda mais nossos trabalhadores e trabalhadoras. Uma reforma da Previdência que protege as regalias dos mais poderosos e amplia o tempo de contribuição de forma criminosa aos mais vulneráveis. E a venda não acordada com o povo brasileiro das nossas reservas de petróleo do pré-sal, que também configura um crime que afetará diretamente nossos filhos e netos.

Mais do que denunciar todos os crimes cometidos pelo governo central brasileiro, é hora de debater o futuro do Brasil. Ciro tem apresentado um projeto nacional de desenvolvimento que pretende mostrar ao povo brasileiro que existe saída para a crise econômica que nos afeta há tanto tempo.
Cada palavra de “projeto nacional de desenvolvimento” tem um significado muito forte.

“Projeto” é um conjunto de metas para as quais devemos estabelecer prazos, métodos, avaliação e controle. Pressupõe recuperar a capacidade de planejamento do País. O Estado deve coordenar tal projeto e, para tanto, precisa de capacidade de planejamento e da capacidade de unir trabalhadores, empresários da produção e academia.

Por “nacional” entende-se que não há um modelo universal a ser seguido, pois as condições de empreender são dramaticamente nacionais e não globais. O projeto de desenvolvimento deve ser adaptado à nossa realidade, destacando crédito, incentivos e parceria entre um Estado empoderado e uma iniciativa privada forte.

No que diz respeito ao “desenvolvimento”, devemos trabalhar pelo aumento da riqueza produzida, das capacidades e habilidades do povo, além de suas condições de vida e felicidade. Para isso é preciso romper com os mecanismos de dependência, exercitar justiça social, garantir boa distribuição de renda e prover serviços públicos de qualidade.

Para a crise imediata, Ciro Gomes destaca três linhas de ação: 1. Consolidar o passivo privado, resolvendo rapidamente o problema do endividamento das empresas brasileiras, sob pena, entre outras coisas, de aumentar o desemprego. 2. Sanear as finanças públicas e voltar a investir nas áreas mais importantes, como, por exemplo, infraestrutura e moradia. 3. Diminuir o desequilíbrio externo, buscando fortalecer a indústria brasileira em uma clara política de substituição de importados que contam com patente vencida e pelos quais o Estado brasileiro já gasta anualmente o suficiente para fomentar empresas nacionais com compra governamental.

Como exemplo, quatro grandes complexos industriais: petróleo e gás e bioenergia, complexo industrial da saúde, complexo industrial do agronegócio e complexo da defesa.

Para além da área econômica e de desenvolvimento, Ciro tem se aprofundado em questões sensíveis, como segurança, saúde e educação. No primeiro tópico, não serão frases de efeito que resolverão o problema. É preciso reunir a inteligência brasileira, comparar com experiências internacionais e rever nossas práticas para devolver ao povo brasileiro a sensação de segurança e para que possamos voltar a ocupar as ruas sem medo.

Na saúde, é preciso incrementar o investimento em todos os níveis e estimular cada vez mais a interface na rede pública. Na educação, o Ceará tem servido de exemplo para todo o Brasil. Hoje, 77 das 100 melhores escolas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) são cearenses. A cidade com o melhor índice do Brasil é Sobral, no sertão cearense. Toda essa conquista começou ainda no início da década de 1990, quando Ciro Gomes foi governador do estado.

Tudo isso só será possível com um governo legitimamente eleito e empoderado pelo povo. Todas as propostas devem ser apresentadas de forma comedida e transparente nas eleições para não iludir nem enganar os eleitores.

A tarefa de garantir uma eleição na qual os problemas verdadeiramente urgentes da nação brasileira sejam discutidos também deve ser ponto de atenção comovida de todos nós. Os setores conservadores tentarão anular o debate necessário e jogarão com questões moralistas. Portanto, é fundamental projeto, debate, atenção e luta.

Publicado originalmente no portal Carta Capital

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