Lula discursou na Praça da República em São Paulo após o julgamento (Foto: Ricardo Stuckert) |
Após
os desembargadores da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4)
terem confirmado a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
aumentado a pena fixada na primeira instância para 12 anos e 1 mês de prisão,
manifestantes reuniram-se na Praça da República, centro paulistano, para
manifestar apoio ao ex-presidente. Lula participou do ato e fez o primeiro
discurso após a condenação em segunda instância na Justiça Federal.
O
ex-presidente disse que nunca se iludiu em imaginar um resultado diferente do
que ocorreu no julgamento de hoje, em Porto Alegre. Lula reafirmou ainda que,
com o resultado, voltou a deseja ser candidato à Presidência na próxima eleição.
“Eu
nunca tive nenhuma ilusão com o comportamento dos juízes na questão da Lava
Jato. Porque houve um pacto entre o Poder Judiciário e a imprensa, que
resolveram que era hora de acabar com o PT e com a nossa governança no país.
Eles já não admitiam mais a ascensão social das pessoas mais pobres desse país
e dos trabalhadores. Eles não suportavam mais a ascensão da escolaridade, que
ia da creche à universidade”, disse.
Lula
criticou a decisão dos desembargadores que confirmaram a sua condenação, e
pediu a apresentação de provas. “A decisão eu até respeito, porque foi deles.
Eu não aceito é a mentira pela qual eles tomaram a decisão. Eles sabem que eu
não cometi um crime. Eu me disporia a ficar com os três juízes um dia inteiro
televisionado ao vivo, e eu quero que eles me mostrem qual é o crime que o Lula
cometeu”.
O
ex-presidente voltou a dizer que o apartamento do Guarujá, elemento central em
sua condenação, nunca foi dele. “Se eles me condenaram, me deem pelo menos o
apartamento, aí justifica. Me deem a escritura”, disse em tom descontraído.
Lula
disse que não queria mais fazer política em razão de já ter sido eleito
presidente por duas vezes. No entanto, ressaltou que o resultado do seu
julgamento fez ele voltar a desejar se candidatar.
“Eu
até nem queria mais fazer política, eu já tinha sido presidente, mas agora, o
que eu estou percebendo é que tudo o que eles estão fazendo é para evitar que
eu possa ser candidato. Não é nem ganhar, é ser candidato. Essa provocação é de
tal envergadura que me deu uma coceirinha e eu agora quero ser candidato à
Presidência da República”, disse.
Lula
enalteceu suas gestões quando presidente e valorizou o legado que deixou.
Segundo ele, sua condenação não irá alterar a consciência política dos
brasileiros.
“Eles
não podem prender o sonho de liberdade, eles não podem prender as ideias, eles
não podem prender a esperança. E o Lula é apenas um homem de carne e osso. Eles
podem prender o Lula, mas as ideias já estão colocadas na cabeça da sociedade
brasileira, as pessoas já sabem que é gostoso comer bem, já sabem que é gostoso
morar bem, as pessoas já sabem que é gostoso viajar de avião, já sabem que é
gostoso comprar carro novo”.
O
ex-presidente confirmou ainda que irá viajar a Etiópia na próxima sexta-feira
para participar de discussões sobre combate à fome, e retornará ao país na
segunda-feira.
A
concentração teve início antes do voto do desembargador Victor Luiz dos Santos
Laus, o último a votar. Do carro de som, onde uma faixa dizia “Eleição sem Lula
é Fraude”, lideranças políticas e sindicais protestaram contra a condenação e
defenderam o direito do ex-presidente de disputar as próximas eleições, em
outubro deste ano. “Hoje foi um dia de farsa em Porto Alegre”, disse o
coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos.
“Passaram o dia falando, sem conseguir apontar nenhuma prova contra esse
cidadão”, continuou, apontando para Lula ao seu lado.
Na
Avenida Paulista, no vão-livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp),
manifestantes ligados aos movimentos Nas Ruas e
Brasil Livre (MBL) comemoram a decisão do TRF4.
Mais
cedo, antes do fim do julgamento, a porta-voz do #NasRuas, Carla Zambelli,
disse que o voto do relator, João Pedro Gebran Neto, foi coerente.
"Confiamos na Justiça de primeira e segunda instâncias, o que tememos são
as manobras que podem acontecer no âmbito do Supremo", disse Carla.
O
representante do MBL, o vereador Fernando Holiday, também afirmou que esperava
decisão unânime que "assim dificultaria a candidatura dele".
No
Rio de Janeiro, manifestantes se reuniram a partir de 16h na Avenida Rio
Branco, no centro da cidade, em defesa do ex-presidente. Eles acusaram o
Judiciário de perseguição política a Lula.
Na opinião de Roberto Ponciano, dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no estado, o julgamento foi um "retrato simbólico da história de opressão praticada pelas elites do país" ao descrever sua visão sobre o evento.
"Temos uma sala com três homens brancos, descendentes de famílias privilegiadas desde o período colonial, muitas das quais proprietárias de escravos. E eles estão julgando um retirante nordestino, enquanto uma negra serve o cafezinho", disse.
Na opinião de Roberto Ponciano, dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no estado, o julgamento foi um "retrato simbólico da história de opressão praticada pelas elites do país" ao descrever sua visão sobre o evento.
"Temos uma sala com três homens brancos, descendentes de famílias privilegiadas desde o período colonial, muitas das quais proprietárias de escravos. E eles estão julgando um retirante nordestino, enquanto uma negra serve o cafezinho", disse.
Durante
todo o dia, manifestantes promoveram atos a favor e contra Lula em diversas
cidades do país, inclusive em Porto Alegre, onde ocorreu o julgamento.
Entenda
o caso
Os
três desembargadores da 8ª Turma do TRF4 - João Pedro Gebran Neto, Leandro
Paulsen e Victor Laus - rejeitaram hoje (24) recurso apresentado pelo defesa de
Lula contra a condenação, aplicada no ano passado, pelo juiz federal Sérgio
Moro. Na ocasião, o juiz, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira
instância condenou o ex-presidente a 9 anos e meio de prisão pelos crimes de
lavagem de dinheiro e corrupção passiva no caso do triplex do Guarujá (SP).
O
colegiado entendeu que a decisão de Moro tinha embasamento em provas
documentais e testemunhais e que Lula participou ativamente do esquema de
corrupção envolvendo a Petrobras.
Na
sentença de primeira instância, o juiz federal Sérgio Moro disse que ficou
provado nos autos que o ex-presidente e a ex-primeira-dama Marisa Letícia eram
de fato os proprietários do imóvel e que as reformas executadas no triplex pela
empresa OAS provam que o apartamento era destinado a Lula e faziam parte do
pagamento de propina ao ex-presidente por ter beneficiado a empreiteira em
contratos com a Petrobras.
No
recurso apresentado ao TRF4, a defesa alegou que a análise de Moro foi “parcial
e facciosa” e “descoberta de qualquer elemento probatório idôneo”. Os advogados
afirmaram que um conjunto de equívocos justificava a nulidade da condenação.
Para a defesa, o juiz teria falhado ao definir a pena com base apenas na
“narrativa isolada” do ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro Filho,
conhecido como Léo Pinheiro, sobre o que os advogados consideram “um fantasioso
caixa geral de propinas” e a suposta compra e reforma do imóvel. Na sessão de
hoje, os advogados voltaram a argumentar que Moro agiu de forma parcial e houve
cerceamento da defesa.
Na
sessão, os desembargadores decidiram também aumentar a pena para 12 anos e um
mês de prisão em regime fechado.
Com
informações portal Agência Brasil
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