A
divulgação dos dados da Funceme foi presidida pelo governador Camilo Santana (Foto: Carlos Gibaja)
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Poucas
notícias são tão boas para um estado sertanejo quanto o anúncio de boas chuvas.
Ainda mais quando o Ceará ainda cura as cicatrizes da mais prolongada estiagem
de sua história. Há, obviamente, de se ter cautela diante do prognóstico da
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). É sempre uma
análise de cenário, com percentuais de chances de se concretizar. O que se está
falando é de uma probabilidade de chover mais do que a média histórica. O que
não elimina a hipótese de as chuvas ocorrerem dentro da normalidade ou mesmo
abaixo da média. Esse risco existe e está contemplado no panorama divulgado
ontem.
Muito
por desconhecimento, a Funceme costuma ser alvo de piadas e associada a erros
de previsão. Pura ignorância. A fundação tem técnicos de excelência e
tecnologia avançada. É cobrada quando erra uma previsão de que vai chover
amanhã à tarde ou fazer sol daqui a três dias. Porém, em sua missão primordial,
que é traçar perspectivas para a quadra chuvosa, a Funceme acertou cinco dos
seis últimos prognósticos.
O
último erro foi em 2012, quando estimou que haveria chuvas dentro da média, mas
houve o primeiro ano da seca que durou até 2016. De 2013 a 2016, os cenários de
poucas precipitações se mostraram certeiros. Em 2017, as chuvas em torno da
média também foram previstas. É torcer para que não erre logo agora, quando traz
o prognóstico de boa quadra.
Para
se ter ideia do quão positiva é a projeção: pelo menos desde 2009, não há
estimativa de chuvas acima da média histórica. Nem em 2009 e 2011, quando mais
choveu nos últimos dez anos, a Funceme apontou panorama tão favorável quanto
agora. A razão para otimismo vai além da projeção. A Funceme é costumeiramente
cautelosa. Para traçar quadro favorável, deve estar muito bem fundamentada. Até
porque esses dados servem para nortear políticas de governo. E aí chegou ao
motivo pelo qual falo de chuva numa coluna de política.
A
escassez de água é talvez o mais dramático problema enfrentado por Camilo
Santana (foto). Aliás, o governador não deu sorte em muitas coisas que
encontrou. Chegou ao cargo com criminalidade recorde e a saúde em crise. No
segundo ano de mandato, seu partido foi extraído da Presidência da República
num processo de impeachment, após ter passado 13 anos no poder. No lugar,
assumiu um presidente do partido, àquela altura, mais hostil a ele. E, passou a
administrar em meio à mais prolongada seca já registrada.
Seu
antecessor, Cid Gomes (PDT), assumiu em ano de poucas chuvas, mas logo depois
passou por dois períodos chuvosos que deixaram os açudes abarrotados de água —
que até hoje sustenta o Ceará, aliás. Antes, Lúcio Alcântara assumiu com dois
anos consecutivos de boas quadras, seguidos de dois anos de chuvas em torno da
média. Nenhum governador, neste século, assumiu em cenário tão adverso quanto o
atual.
Aparentemente,
a sorte virou. Camilo caminha para ter o melhor período chuvoso justamente no
ano em que buscará a reeleição. Até agora sem adversário, o petista caminha
para campanha aparentemente tranquila. Mas, o eventual cenário de racionamento
de água na Capital, somado à criminalidade e os problemas na saúde, são
daquelas convergências que podem tornar incerto o que parece seguro.
A
se confirmarem as boas chuvas, elas podem ser, portanto, importante elemento a
favor de Camilo — ou, pelo menos, evitam se tornar problema.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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