A
elite é a classe dominante, dos donos do poder, que comanda todo o processo.
Não ocupa, necessariamente, de forma direta, o topo do aparelho de Estado, ou
seja, o governo, pois este, normalmente, é delegado como concessão às classes
subalternas, que elegem seus representantes, em geral egressos da classe média.
Nesses termos, o chefe do Executivo ocupará a função até quando não desagradar
os donos do poder. Se o fizer, haverá um meio de alijá-lo.
No
Brasil, a elite associa-se a interesses externos, e o País lê na cartilha da
potência hegemônica. Portanto, conforme a natureza das articulações do governo
nesse complexo xadrez político, o País pode ser levado à condição de
periférico, de economia meramente reflexa, ou de nação desenvolvida, com
assento nos centros de decisão internacionais.
Qual
tem sido o comportamento da elite brasileira? Um balanço do seu papel nos
destinos do País não é nada animador. Apenas em raros momentos da vida nacional
uma fração dela acreditou na nação.
Assim,
Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek articularam um pacto de poder com parcela
da elite e de interesses externos e cercaram-se de quadros competentes e
respeitados. Então, o Brasil ocupou seu território, industrializou-se, e o
brasileiro ganhou autoestima. Mas ambos pagaram caro por isso. A Jango,
enquanto o ambiente de exacerbação da Guerra Fria lhe era desfavorável, faltou
a habilidade dos seus dois antecessores, e ele também pagou caro.
Lula
procurou seguir o caminho dos construtores da nação, mas não conseguiu avançar.
As circunstâncias são bem outras. É que se firma o insubmisso e insaciável
capital financeiro. A classe média imita a elite no desinteresse pela nação.
Inteligências
fundamentais, como economistas e cientistas sociais, preparados em
universidades estadunidenses, assumem o credo da potência hegemônica. Não
bastasse isso, a fragmentação partidária impossibilita compor governo com
quadros sérios e competentes, devotados à nação.
Dessa
forma, desde 31.8.2016, passamos a viver situação inusitada. Feito o
impeachment de Dilma, assumiu Temer, o vice, e, embora pese sobre ele e seu
governo contundentes acusações com provas provadas, mancomunado com o
Congresso, tem sido fiel e de grande utilidade à elite, seus aliados externos e
à potência dominante, e por isso é mantido.
Em
resumo, as classes subalternas, que não têm o poder, perderam o governo, ao
tempo em que a elite confirma, mais uma vez, o seu histórico alheamento ao
projeto de nação. Como já comentei em artigo anterior, o gigante segue à
deriva.
É
difícil ser otimista. Mas a situação, de tão imprevisível e desfavorável à
maioria da população, será capaz de alimentar as forças pela retomada da nação
e breve poderemos dizer como Belchior: “vejo vir vindo no vento/ o cheiro da
nova estação”.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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