A Usina deverá ser construída na área do Porto do Mucuripe em Fortaleza (Foto: Evilázio Bezerra) |
A
discussão sobre o uso ou não da água do mar não é nova e ganha força nos
períodos mais críticos de seca, como a de agora. Consultor em recursos
hídricos, Hypérides Macêdo diz que, em 1997, quando era secretário de Recursos
Hídricos na gestão do então governador Tasso Jereissati, chegou a ir à região
da Costa Dourada, entre Barcelona e o sul da Espanha, para conhecer plantas de
dessalinização.
Trouxe
empresários para analisar a viabilidade de se construir usinas em Aracati,
Pecém e Fortaleza. Mas o custo de US$ 1 por m³ de água bruta frente aos R$ 0,20
por m³ da água que se obtinha dos açudes, valores vigentes naquele período,
mostravam que a dessalinização não era solução mais adequada. Tão pouco havia
empresários dispostos a investir. “Mal havia recursos para o Cinturão das
Águas”, explica.
Melhor
seria apostar na briga pela transposição do rio São Francisco. O projeto, do
qual também participou, em 2004, previa a entrada das águas do São Francisco
pelo rio Salgado, no Ceará, chegando ao rio Jaguaribe. “Naquela época, não
havia previsão de seis anos de seca, que é histórica, é excepcional. A traição
maior foi da natureza, que atrapalhou o planejamento”, afirma.
A
demora e os problemas de gestão pública na condução das obras da transposição,
na avaliação de Hypérides, agravaram o cenário e levaram o Estado à situação
que se tem hoje. O doutor em Gerenciamento de Recursos Hídricos pela Colorado
State University (Estados Unidos) e professor da Universidade Federal do Ceará
(UFC), Nilson Campos, defende que a construção do Cinturão das Águas e a
transposição do rio São Francisco foi – e ainda é – suficiente para atender à
demanda do Estado. Daqui a alguns anos, não mais será.
“Se
a população continuar aumentando e as cidades crescendo, é inevitável
considerar outras possibilidades. O modelo clássico já está exaurido”, avalia.
Para
ele, é preciso que o Estado olhe com afinco para a questão do reúso. O que a
literatura mostra é que os custos da dessalinização são muito superiores ao de
outros processos. Na Califórnia, área de estudo de Nilson, o custo de
dessalinização varia de US$ 2,40 a US$ 3,40 por metro cúbico de água.
Ele
ressalva que este preço varia segundo o porte da usina, tecnologia empregada e
condições locais. Usinas menores têm custo maior. Porém, mesmo as mais baratas
costumam ter um valor maior que a do reúso. “Mas o importante é fazer estas
contas, tirar do campo das ideias e ver quanto custa para tomar a melhor
decisão”.
O
professor do Departamento de Geografia da UFC, Jeovah Meirelles, diz que, para
além do custo em si, o reúso tem um ganho amplo. “É melhor para o meio
ambiente, para a saúde das pessoas, para todos”. observa.
Quando
concluído o estudo da Cagece, será lançado outro edital para escolher o
parceiro privado que vai construir e operar o empreendimento de dessalinização.
A ideia inicial é de que a usina seja uma opção para os períodos de maior
estiagem, como são as termelétricas, que tem custo maior, mas só são acionadas
quando se precisa de reforço no abastecimento.
Quando
a planta não operar, continua havendo gasto para manter o empreendimento, mas
este custo cai para aproximadamente um terço do valor cheio.
Silvano
Porto diz que também foi considerada a possibilidade de uma usina de reúso, mas
estudos internos realizados nos últimos dois anos concluíram que a
dessalinização da água do mar seria a saída mais adequada para diversificar a
matriz hídrica do Estado para o consumo humano.
“Em
função de um conjunto de critérios que vão desde a aceitação pública – ainda há
certa rejeição da água de reuso para consumo humano-, a viabilidade técnica que
já existe no mundo, a proximidade litorânea que a Região Metropolitana tem, mas
principalmente pela sua disponibilidade. É um recurso praticamente infindável,
que está menos sujeito às variações climáticas, que passamos hoje”.
A
diversificação da matriz hídrica também virá pelo reúso, assegura. Por meio de
uma planta menor, com capacidade instalada de 115 litros por segundo, para
atender as indústrias do Complexo Industrial do Pecém (CIPP).
Atualmente
o projeto, que está sendo tocado também por meio de parcerias público-privadas,
está em fase de ajuste de preços da tarifa. Mas estima-se que este valor seja
um pouco menor que o de uma usina de dessalinização da água do mar. “Vai
atender cerca de 10% da capacidade das empresas, mas de qualquer forma, é uma
alternativa para desafogar o Castanhão”.
Com
informações portal O Povo Online
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