23 de dezembro de 2017

"Quem tem interesse na aliança" por Érico Firmo

Eunício, o eleitor e Camilo (Foto: Fabio Lima)
A informação, no jornal O POVO da última quinta-feira (21/12), de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem articulado a favor da aliança com Eunício Oliveira (PMDB) em 2018 deixa mais claros os interesses em torno da parceria que, meses atrás, seria improvável. Vamos a eles:

1) LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Eunício é hoje o aliado em posição mais estratégica que o petista pode ter. O presidente do Senado tem trânsito livre em todas as instituições. É capaz de influenciar tribunais, tem ascendência sobre alguns dos políticos mais influentes do País. Para alguém com a pré-candidatura na situação na qual se encontra a de Lula, estar ao lado dele é conveniente demais. Vai muito além da política do Ceará. É estratégico para o projeto nacional.

Não chega a ser uma aliança forçada. Eunício é lulista desde 2002, quando foi determinante na campanha de José Airton (PT) no 2º turno da eleição para governador. Em 2004, virou ministro das Comunicações na gestão petista. Em 2014, contra a candidatura do petista Camilo Santana, procurou o tempo todo se associar a Dilma Rousseff e Lula.

2) EUNÍCIO OLIVEIRA
É o mais óbvio interessado na aliança. No plano nacional, nenhum político cearense é hoje tão poderoso. Porém, depende de votos no Ceará para se reeleger. E, no quadro atual, a perspectiva para ele é muito complicada, caso não esteja do lado do governo. A eventual derrota do presidente do Senado na busca pela reeleição seria um vexame com precedentes escassos.

O grupo do governador detém hegemonia profunda na política estadual. O lulismo permanece como força simbólica sem paralelo no Nordeste. Nem Ciro Gomes (PDT) hoje é capaz de fazer frente.

Eunício insinuou candidatura ao governo, mas seria arriscar demais. Ele não está disposto a colocar o mandato em perigo e articula com os ex-inimigos para tentar se garantir.

3) CAMILO SANTANA 
Para o governador, há muitas conveniências na parceria. Eunício, interessado que está, tem-se feito útil. Intercede pela liberação de recursos, abre portas. Tem destravado situações que haviam se tornado problema.

Além disso, há o fato de estar atendendo desejo de Lula e de seu partido. Isso é relativo. Não está nem mesmo claro se Camilo apoiará o petista ou Ciro Gomes a presidente, no caso de ambos conseguirem ser candidatos.

O principal motivo para o governador estar interessado na parceria é administrativo. Muito mais que político.

A questão é quem não tem interesse.

OS FERREIRA GOMES 
O grupo Ferreira Gomes tem sido espectador na aproximação de Camilo com Eunício. Plateia algo contrariada, diga-se. Há aspecto de interesse direto. Eles entendem que Camilo precisa abrir portas.

Assim como Roberto Cláudio (PDT), na Prefeitura de Fortaleza, tem-se favorecido. Porém, o que se vê da família mais poderosa da política cearense é algo entre o incômodo e a resignação com a possível aliança. Animação? Zero.

Os Ferreira Gomes comandam a política do Estado e sabem que as chances de saírem vitoriosos em qualquer embate com a oposição é muito grande.

A troca de ataques foi virulenta e deixou marcas. Ciro, sobretudo, adoraria dar o troco e ver Eunício derrotado e sem mandato.

Talvez as circunstâncias políticas determinem outro caminho. Ou, então, o grupo aguarda a hora certa para melar a aliança.

OS PETISTAS, EUNÍCIO E LULA
Os grupos petistas considerados mais ideológicos e menos adeptos do pragmatismo têm reclamado da proximidade entre Camilo e o peemedebista “golpista”. Vai ser engraçado ver se eles terão peito para contestar Lula, de quem partiu pedido para que o acordo seja costurado.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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