Todo
mês de dezembro, a cada retorno do bom velhinho que, teoricamente, “não se
esquece de ninguém”, há quem questione se é saudável continuar permitindo e
encorajando que as crianças acreditem em Papai Noel, principalmente por causa
do apelo consumista atrelado ao personagem.
É acertado não querer que as
próximas gerações permaneçam reféns do consumo instigado por datas
comemorativas como o Natal. Só que, no imaginário infantil, a crença no Noel
transcende a pauta comercial. Desperta para a capacidade de criar, brincar e
aprender com o universo fantástico.
Luciana
Quixadá, psicóloga, doutora em Educação e professora da Universidade Estadual
do Ceará (Uece), diz que a fantasia é um elemento fundamental para o
desenvolvimento das crianças porque as estimula cognitiva e afetivamente.
Sobretudo as mais novas, de até cinco anos de idade, que ainda não conseguem
distinguir com clareza o que é real e o que é fictício.
“O
período pré-escolar é o auge do jogo simbólico. Às vezes, ela (a criança)
entende melhor a questão do bem e do mal ouvindo uma história de bruxa”,
compara Adriana Klisys, diretora da consultoria paulista Caleidoscópio
Brincadeira e Arte. Especificamente sobre Papai Noel, a psicóloga Luciana
Quixadá complementa que a promessa de prêmio por comportamento funciona como
reforço positivo da boa conduta. Sem contar outros valores ensinados na
história do Papai Noel, como generosidade, união e escuta ativa.
Junto
ao receio de alimentar a fantasia do Papai Noel, existe a preocupação de que a
mentira contada sobre a existência de um homem com uma longa barba grisalha que
distribui presentes para cada criança bem comportada seja injusta e, por isso,
prejudicial. Só que, para as psicólogas ouvidas pelo jornal O POVO para esta edição do
Ciência&Saúde, a associação do personagem ao consumo, que é real, é que
traz o adoecimento mental.
“A
gente sabe que nem todas as crianças vão receber o bom velhinho em casa. A
cultura do consumo, por si só, é excludente, mas existe a promessa de que todo
mundo vai ser atendido. É uma ilusão perversa, porque nem todos vão encontrar
condições e oportunidades sociais pra que essa magia se efetive”, compreende
Luciana.
Contudo,
até mesmo aprender a lidar com a desilusão é algo que pode ser trabalhado com
as crianças a partir das histórias fantásticas. “A gente aprende com o
sofrimento. Mas, sofrer numa sociedade onde o sofrimento não é permitido, é
mais grave”, analisa a psicóloga. E defende: “O problema não é a figura do
Papai Noel, mas tudo o que está por trás”.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.