Acerca
de dez meses das eleições, já é possível antecipar as disputas de acordo com o
quadro de pré-candidatos que começa a se consolidar. A tendência, segundo
especialistas, é de que o confronto pelo Palácio do Planalto seja polarizado,
com discussões que ampliem cenário de divisão do País, e de que abra espaço
para novos nomes.
Já
são pelo menos oito pré-candidatos confirmados. Destes, cinco têm se destacado nas
pesquisas: o ex-presidente Lula (PT), o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) —
que deve candidatar-se pelo Patriotas—, o governador de São Paulo Geraldo
Alckmin (PSDB), a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o ex-governador do Ceará
Ciro Gomes (PDT).
Atrás,
vêm a deputada estadual Gaúcha Manuela D’Ávila (PCdoB), o senador Álvaro Dias (Podemos) e o empresário
João Amoêdo (Novo), ainda atuando para reforçar seus nomes e entrar em 2018
mais conhecidos.
Para
além da escolha do novo chefe do Executivo Nacional, o pleito do próximo ano
será simbólico por acontecer após o impeachment da presidente Dilma Rousseff
(PT) e da intensificação da crise política e econômica.
De
acordo com o consultor político Márcio Coimbra, será uma disputa polarizada,
com espaço para discussões que toquem extremos. “Eu acho que essa eleição é a
polarização máxima entre um redescobrimento do conservadorismo no Brasil contra
a esquerda, manchada com as denúncias de corrupção”, acredita.
Segundo
ele, poderá ser o momento de vitória de um candidato ligado a ideias
conservadoras. O cientista político Filomeno Moraes, no entanto, acredita que
“uma alternativa que transite no centro do espectro político poderá ter algum
apelo e, ao fim e ao cabo, prevalecer”.
Ele
afirma que a dúvida sobre a candidatura do Lula, que pode vir a ser condenado e
ser impedido de participar do processo eleitoral, mantém muitos cenários ainda
indefinidos. “(Lula) é candidato com capacidade de incentivar ou desincentivar
outras candidaturas”, explica.
Ambos
duvidam que Bolsonaro venha a ser eleito, embora deva, segundo eles, receber
grande número de votos. Do outro lado, a esquerda articula-se com múltiplas
candidaturas. Além dos já confirmados, o Psol negocia a filiação de Guilherme
Boulos, líder do MTST.
Há
também nomes ainda sem partido que são cotados como possíveis candidatos. É o
caso do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, que já admitiu possibilidade, e do
apresentador Luciano Huck, que ainda nega.
JOGOS
CLÁSSICOS DE 2018
Não
é só a Copa do Mundo que vai movimentar 2018. As eleições presidenciais vão
trazer disputas competitivas, e os pontos fortes e fracos de cada candidato
podem definir quem sairá vencedor. Veja quais jogadores já estão em campo
(titulares), despontando nas pesquisas e movimentando-se para fortalecer seu
nome; e quais ainda estão sentados no banco (reservas), seja por não
confirmarem a pré-candidatura ou por ainda terem desempenho tímido frente aos
demais presidenciáveis.
JOGADORES
TITULARES:
LULA (PT), EX-PRESIDENTE
PONTOS
FORTES:
1.
Tem a confiança do eleitor inclinado à esquerda e de parte da população mais
pobre, que associa a ele uma melhora econômica vivida durante os seus governos
e uma crise que se aprofunda somente após sua saída;
2.
Sua própria história, de ex-metalúrgico e sindicalista que consegue crescer
politicamente e chegar ao maior cargo do País;
3.
Carisma e popularidade, que o tornam um dos políticos mais conhecidos do
Brasil;
4.
Buscará se associar ao progressismo e à liberdade, às pautas mais voltadas ao
povo pobre e à crítica ao conservadorismo e à ditadura militar, para
diferenciar-se dos adversários.
PONTOS
FRACOS:
1.
Alto índice de rejeição da população devido às denúncias de corrupção contra
ele e o seu partido, além de escândalos associados a políticos que integraram
seu governo;
2.
Sua alta popularidade também poderá ter efeito negativo, devido ao desgaste que
sua imagem sofre com a exposição constante e a lembrança de dois mandatos na
Presidência da República;
3.
A possibilidade de tornar-se inelegível caso sofra alguma condenação em segunda
instância. Assim pode ser “expulso” do disputa.
4.
A esquerda que representa, desgastada junto com o PT, poderá ser um empecilho
para conquistar novos eleitores em um momento em que o discurso conservador
está mais aparente no País.
PONTOS
FORTES:
1.
Representa parte da população indignada com tantos escândalos de corrupção,
insegurança, crise econômica e outros problemas sociais do País, como um
catalisador da “desesperança nacional” com os políticos ditos corruptos;
2.
Forte identificação com setores mais conservadores da população, além de
parcela mais pobre e de uma juventude indignada;
3.
A ausência de denúncias de corrupção relacionadas a ele, ao mesmo tempo em que
não é um político novo, vai ajudá-lo a construir a imagem de homem honesto, com
autoridade para “limpar” a sujeira do Brasil;
4.
Declarações polêmicas que, ao mesmo tempo que podem ser negativas, se associam
aos anseios de parte da população que defende o armamento e o regime militar,
além de representar uma “falta de papas na língua” de quem não tem medo de
falar o que pensa.
PONTOS
FRACOS:
1.
A sua própria personalidade, afeita a comentários e opiniões polêmicas que
podem ser usadas contra ele, além da possibilidade de falar algo que seja mal
visto durante a campanha;
2.
A pouca produção parlamentar em 26 anos de mandatos públicos pode ser associada
ao desejo de enriquecimento com a política, sem o devido retorno à população;
3.
Pode ser acusado de autoritário devido suas ideias conservadoras e falas que já
minimizaram os efeitos negativos do regime militar; visto como racista e
homofóbico
4.
Dificuldade de ganhar eleitores em setores mais progressistas da população,
além de uma classe média alta urbana que valoriza discursos mais “neutros” e
pacíficos.
CIRO
GOMES (PDT), EX-GOVERNADOR DO CEARÁ
PONTOS
FORTES:
1.
Candidato capaz de conquistar votos de mais de um lado do espectro político,
dos mais progressistas aos liberais e até conservadores, indignados com a
situação econômica e os escândalos de corrupção do País, pode ser considerado
um candidato de convergência;
2.
Imagem de candidato de “autoridade”, com conhecimentos econômicos e sociais
suficientes para fazer uma boa administração no País;
3.
É um nome que pode representar a esquerda que não confia mais no Lula ou que
pode ficar sem candidato se o petista não puder se candidatar;
4.
Não tem o nome envolvido em grandes escândalos de corrupção, dando a ele
munição para falar mal da prática.
PONTOS
FRACOS:
1.
Personalidade improvável e temperamento estourado, que podem resultar em
declarações ou atitudes destemperadas que o enfraqueceriam na disputa;
2.
Rejeição alta, associada provavelmente à sua personalidade, tornam a conquista
de novos eleitores mais difícil;
3.
É de uma família com forte influência política no Ceará há muitos anos, o que
exclui a possibilidade de ele se construir como um candidato capaz de trazer
renovação e o relaciona com a alcunha de “coronel”, dada a ele por adversários;
4.
Nome de pouca influência regional, embora ele já tenha se candidatado ao cargo
em outras duas situações
GERALDO
ALCKMIN (PSDB), GOVERNADOR DE SÃO PAULO
PONTOS
FORTES:
1.
Partido forte, com grandes capacidade de coligação, o que aumentaria seu tempo
de televisão e rádio durante a campanha;
2.
Apoio de grandes empresários e investidores do País, o que daria a ele chance
de uma campanha mais “rica”, além da influência desses setores na opinião
pública;
3.
Mais de 60Ú população do Estado de São Paulo considera seu governo ótimo/bom ou
regular, números que podem ser usados em uma campanha como sinal de competência
de administração;
4.
Tem uma identificação tanto com o eleitor mais conservador, que despreza o PT e
a esquerda, quanto com o mais neutro, que valoriza as ideias de centro e
posições menos “extremistas”.
PONTOS
FRACOS:
1.
Vai sofrer as consequências do envolvimento do PSDB com vários escândalos de
corrupção, sobretudo do senador Aécio Neves, figura que já apoiou e com quem
teve proximidade, além da política do governo do Fernando Henrique Cardoso,
associada a privatizações;
2.
Ligação do PSDB com o governo de Michel Temer (PMDB) e apoio ao impeachment de
Dilma Rousseff (PT) também poderão gerar desgaste na candidatura de Alckmin;
3.
Pouca identificação com setores mais pobres da população e em regiões como o
Nordeste;
4.
Personalidade mais “neutra”, de poucas opiniões fortes, pode ser mal vistas em
um momento em que a população exige posições claras e bem definidas
MARINA
SILVA (REDE), EX-SENADORA
PONTOS
FORTES:
1.
Sua própria história de vida, que a associa à simplicidade de um povo mais
pobre, deve ajudá-la a conservar com esses setores
2.
A sua personalidade mais pacífica pode ser positiva para ela em uma eleição de
extremos, onde a polarização deve prevalecer mas também incomodar setores
alheios a essas disputas;
3.
A possibilidade de ela construir uma imagem de alguém que, embora tenha longa
trajetória política, traria renovação, por não estar inserida em nenhum governo
nem carregar mandato político de muitos anos;
4.
Posições conservadoras ligadas à religião protestante podem ser positivas em um
momento que essas ideias estão crescendo, mas também podem ser negativas.
PONTOS
FRACOS:
1.
Está em um partido pequeno, com pouca possibilidade de coligação e, portanto,
pouco tempo de televisão e de rádio;
2.
Pode pagar o preço de ter apoiado Aécio Neves no segundo turno das eleições de
2014;
3.
Embora seja uma figura conhecida, tem pouca atuação pública, o que a torna
alguém com popularidade baixa frente a outros candidatos mais carismáticos;
4.
Personalidade mais defensiva, pouco agressiva, pode deixá-la para trás em uma
eleição que tende a ser muito disputada.
JOGADORES
RESERVAS: João Dória (PSDB) Luciano Huck (Sem partido) Guilherme Boulos (Sem
Partido) Henrique Meirelles (PSD) Joaquim Barbosa (Sem Partido) Álvaro Dias
(Podemos) Manuela D’Ávila (PCdoB) João Amoêdo (Novo)
POR
QUE VALE A PENA CONFERIR OS SEGUINTES EMBATES:
Lula
X Bolsonaro: Disputa
entre ambos deve ser bastante polarizada, com discursos sobre a esquerda e a
direita, o progressismo e o conservadorismo. Os escândalos de corrupção devem
estar muito presentes nos ataques de Bolsonaro a Lula, enquanto este deve
aproveitar-se de afirmações elogiosas do Bolsonaro sobre o regime militar para
tachá-lo de autoritário.
Lula X Marina Silva: A
campanha de Lula tende a ser mais agressiva contra Marina, como aconteceu em
2014, lembrando da época em que pré-candidata era filiada ao Partido dos
Trabalhadores. O “fantasma” do PT e ao apoio dela a Aécio em 2014 devem ser
usados contra ela. Do outro lado, ela vai tentar vender-se como figura “limpa”
de denúncias e processos.
Lula X Alckmin: Polarização
PT versus PSDB devem dar o tom da disputa, com a comparação constante entre o
governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) com os 13 anos de PT na presidência
da República. A relação deles com a classe mais pobre do País também deve ser
evocada, além de lembranças dos dois lados sobre os escândalos de corrupção que
mancham ambos os partidos.
Lula
X Ciro Gomes: A
disputa seria entre velhos amigos, o que dificultaria tom mais agressivo e
acusações dos dois lados. Ainda assim, Ciro poderia repetir críticas já feitas
contra Lula sobre a aproximação do petista com “golpistas” e um governo
fisiologista, enquanto Lula usaria sua popularidade para se sobressair.
Bolsonaro
X Marina Silva: Marina Silva se utilizaria de imagem mais
intelectual ligada a ela contra o destempero do adversário, podendo-o acusar,
inclusive, de machista, recuperando frases polêmicas do adversário. Bolsonaro,
no entanto, encarnaria população mais indignada, que espera personalidade mais
forte para comandar o País.
Bolsonaro
X Alckmin: Alckmin
adquiriria imagem mais de centro frente ao adversário que acusaria de
“extremista”, tentando conquistar ala mais esquerdista. Já Bolsonaro usaria
escândalos de corrupção do PSDB para alçar-se como candidato “limpo”.
Bolsonaro
X Ciro Gomes: Seria,
talvez, disputa mais agressiva de todas. Ambos têm temperamento explosivo e
tendência a falar “sem pensar”, gerando um estrago na própria candidatura. Ciro
ficaria com ala progressista e Bolsonaro com a conservadora, fazendo com que
eles tivessem que diminuir o tom em alguns temas para conquistar simpatia do
centro.
Marina
Silva X Alckmin: Seria
a disputa de alguém que representa a “renovação” contra um candidato cuja sigla
que estava no governo de Temer um ano antes. Alckmin tende a ser mais
agressivo, enquanto Marina utilizaria da corrupção praticada por nomes do PSDB
para se sobressair.
Marina
Silva X Ciro Gomes: Ciro
já acusou Marina de não ter vigor suficiente para disputar o cargo. A tendência
é que ele parta mais para o ataque, enquanto ela se defende e busca
relacioná-lo a uma velha política.
Alckmin X Ciro Gomes: Seria
como uma disputa do PT versus PSDB, com o Ciro representando a esquerda e as
políticas públicas voltadas para os pobres e Alckmin tendo que defender governo
FHC.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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