Imagem de Moro e Aécio viralizou nas redes sociais em junho de 2016 (Foto: Adriana Spaca) |
2018
começa como o ano 4 da “Era Lava Jato” da vida brasileira, se adotamos como
marco temporal o fato de que foi em 2014 que ela foi erigida, pela mídia e pelo
juiz que se tornaria o füher do
Judiciário em principal problema e única solução deste país.
Não
por acaso, foi o sucedâneo do “padrão Fifa” que, no ano anterior, foi
transformado em “programa de governo” pelo mesmo pensamento, se servindo de uma
juventude a quem se deixou de falar que a luta da história é por interesses e
hegemonias, políticas e econômicas.
No
quarto ano desta guerra supostamente “santa”, onde os guerreirosde Curitiba
tornaram-se nosso Exército Islâmico, é possível, por toda a parte, ver os
estragos que isso causou. E causa, ainda.
O
principal deles é que virou quase senso comum o raciocínio antidemocrático de
que um país deve ser governado por quem tem como fonte de sua legitimidade o
cargo público: promotores e juízes que não tem de se submeter ao voto e, de
tempos para cá, nem mesmo à lei, podendo justificar seus atos apenas pela
“convicção” e pela suposição sentencial no “não tenho de provar se você fez,
mas como você não provou que não fez…”
Por
toda a parte, na atividade pública, espalhou-se o medo. Não é diferente no
campo do pensamento, onde só alguns superam o medo de que o que digam em favor
do direito de defesa, da presunção da inocência e do respeito ás garantias
individuais é, no mínimo, ser cúmplice da corrupção, quando não seu
beneficiário, também.
Foi
deste caldo, e não de outro qualquer, que nasceu a onda de ódio que tomou conta
de nosso país e da qual emergem bestas furiosas como Jair Bolsonaro, criaturas
tenebrosas que, antes, eram tão perigosas quanto qualquer aberração que vivia
submersa nas profundezas da inevitável estupidez que habita qualquer massa
humana.
Como
no título do western de Sam Peckinpah, o ódio é a herança, o legado que nos
deixa esta época.
Ódio
e ruína, porque o “combate” à corrupção não nos rendeu uma escola, um hospital,
uma estrada, mas a paralisia de um – ainda que insuficiente – processo de
avanço dos serviços públicos e da infraestrutura de que um país precisa para
viver.
Ódio
e carência, porque não nos alimentamos de prisões preventivas, nem as conduções
coercitivas servem para comprar remédios, nem indiciamentos servem para fazer
casas populares. As “fortunas” que dizem ter recuperado, onde estão, se por
toda parte é “não há dinheiro” o mantra cansativo para a precariedade da ação
do Estado?
O
fruto político mais vistoso que nos deixa a moribunda onda moralista – que
morreu por não poder atingir aos políticos do status quo, que têm o privilégio
de dividir cochichos, sussurros e sorrisos com
o imã Sérgio Moro – como fizeram Aécio, Dória e Temer – é o governo
ocupado por uma quadrilha de baixa extração, agora perfeitamente simbolizada
por Carlos Marun, a saquear os direitos que o povo brasileiro consolidou por
décadas.
PS.
Fiquei sabendo que uma leitora de fé muçulmana incomodou-se com o uso de
palavras árabes no texto, como jihad e etc. As citação, inclusive, está entre
aspas para demonstrar que não é literal, posto que a guerra de Curitiba não é
nada santa. É evidente que não é uma menção à fé islâmica, assim como se eu
falasse de uma “cruzada” de Moro também não seria uma menção à fé católica.
Aliás, qualquer pessoa que acompanhe este site sabe que aqui jamais se tomou –
e muito pelo contrário – qualquer posição antiárabe ou anti-islâmica. Sou um
dos poucos, aliás, que registra a luta do povo sírio para livrar-se do domínio
do Isis e das pressões norte-americanas e recuperar a tolerância religiosa que
sempre marcou a Síria. Portanto, não houve e nem poderia haver qualquer ânimo
ofensivo. De qualquer forma, apesar de nem passar perto de uma intenção, peço
desculpas se feri suscetibilidades, involuntariamente.Troquei por expressões em
português, para não melindrar a quem quer que seja e sem mudar em uma palha o
sentido do que disse.
Publicado
originalmente no portal Tijolaço
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