Vista aérea da cidade de Altaneira em 1999 (Foto do acervo pessoal de João Ivan) |
O amor a minha terra
E a saudade do meu povo
Me faz voltar a escrita
E poetizar de novo
E para cumprir o trato
Farei um breve relato
Vou ver se não me comovo.
Há quem deixe sua terra
E dela não lembre mais
Esqueça completamente
Deixe tudo para trás
Mas eu não posso esquecer
O chão que me viu nascer
E acolheu meus ancestrais.
No ano oitenta e seis
Do último século passado
Eluizo Magalhães
Um medico muito afamado
Trouxe-me a luz deste mundo
Numa sala bem no fundo
Do Hospital José Furtado.
Toda a minha meninice
Cheia de graça e enfeite
Foi brincando pela rua
Deputado Furtado Leite
A família como exemplo
Minha casa era o templo
Para completo deleite.
Por ser o primeiro filho
Tive amor sem divisões
Querido pelos parentes
Amigos das diversões
Se pedia, era atendido,
Para o menino querido
Não havia restrições.
E fui crescendo mimado
Mas com responsabilidade
Vovó me dava carinho
Era cheia de bondade
E mãe era preocupada
Nunca deixou faltar nada
Mesmo com dificuldade.
Meu pai vivia da roça
Com pouquíssimo resultado
Se o feijão era pouco
O milho era minguado
A fava dava um baião
Plantar roça no sertão
Não é o melhor bocado.
Aos seis anos de idade
Segundo a regra em vigor
Crianças iam à escola
Tinham direito a professor
Já dava para aprender
A ler e a escrever
Para um futuro promissor.
Na Escolinha Disneylandia
Fui bem alfabetizado
Dona Vanúzia Fernandes
Deu conta do seu recado
E quando eu já lia de tudo
Vi no rumo do estudo
Um caminho acertado.
Fui agora promovido
Ao Ensino Fundamental
E para a série primeira
Era o passo inicial
A Escola Santa Teresa
Me deu a plena certeza
De um futuro ideal.
Na Escola Santa Teresa
A excelente instrução
Me disse as regras da vida
E deu-me a grata visão
De que não haverá progresso
Nem conquista de sucesso
Sem haver educação.
Amigos pra toda a vida
Naquela escola encontrei
Amizades, parcerias
Por ali consolidei
Mantenho a afinidade
Pois amigos de verdade
Depois desses não achei.
E até a quarta série
Segui neste educandário
Mudava de professor
Quando mudava de orário
Contudo, a minha meta
De uma ascensão concreta
Era o meu itinerário.
Mas a insatisfação
É próprio do ser humano
E eu decidi sozinho
E acertei, sem engano,
Pedi pra ser transferido
Mãe atendeu o pedido
Nova escola em novo ano.
Para cumprir a missão
Da cultura popular
Deus me fez mudar de escola
E a isso me dedicar
A escola ainda me lembro
Na 18 de Dezembro
Vi minha vida mudar.
Maria Oliveira Lino
Era a então diretora
Excelência pedagógica
Inigualar diretora
E ainda tinha, de quebra,
Dona Celita Siebra
Sendo minha professora.
Pela língua portuguesa
Eu me senti atraído
Na leitura e na escrita
Tudo era permitido
Lia tudo o que encontrava
A escrita me chamava
Eu estava seduzido.
Fiz poesia popular
Fiz paródia e fiz cordel
Certificado de mérito
Medalha e até troféu
Fui aplaudido e gostei
E finalmente acreditei
Que cumpria o meu papel.
Decidi ser escritor
Mas a estrada era dura
Sem dinheiro para livros
Pra poder fazer leitura
Driblei a dificuldade
Das bibliotecas da cidade
Li toda a literatura.
Contei com Evantuil
Como meu orientador
Um professor dedicado
E um assíduo leitor
Naquele educandário
Ele era bibliotecário
De reconhecido valor.
Foi nestas bibliotecas
Que eu pude conhecer
Grandes obras literárias
Os compêndios do saber
Livros, revistas, jornais,
Os meus primeiros madrigais
Comecei a escrever.
E Josimária Martins
Era a leitora primeira
Tão logo pronta a escrita
Eu já fazia carreira
E Josimária dizia
Se a escrita seguia
A leitura brasileira.
Já se dizendo poeta
Findei o Ensino Fundamental
E para o Ensino Médio
Voltei à escola inicial
Mas não havia surpresa
Da Escola Santa Teresa
Eu conhecia o ideal.
Revi os velhos amigos
E outros que conquistei
Sob nova direção
E com mais sensata lei
Zuleide era a Diretora
E Eveuma a professora
Com quem me identifiquei.
Continuei com a poesia
E com a vida de boêmio
A Diretora Zuleide
Resolveu me dá um prêmio
Dizendo está a minha altura
Secretário de cultura
Para adjunto do Grêmio.
Era Ana Lucia Peixoto
O Grêmio Estudantil
Eleito pela escola
Um grupo novo e servil
Atuei com desenvoltura
Em se tratando de cultura
Eu conheço meu perfil.
Tudo ia muito bem
Na escola que eu estudava
Com os vizinhos e parentes
Muito bem me relacionava
Era tudo excelente
Com os amigos, finalmente,
Que eu tanto admirava.
Mas outros planos nasciam
No rumo da minha vida
Por meio de minha mãe
Mulher muito decidida
Ir embora de Altaneira
Encerrar minha carreira
Na minha terra querida.
Ouvi suas instruções
Evitando questionamentos
Nunca gostei de falar
Sem os melhores argumentos
Estava na menor idade
E por essa infelicidade
Evitei choro e lamentos.
Deixei na minha Altaneira
Amigos do meu agrado
Parentes que quero bem
Minha infância, meu passado
Pra lamentos e desenganos
Minha avó de 90 anos
E meu umbigo enterrado.
A casa em que vivi
As praças que frequentei
Minha santa padroeira
Aos pés de quem eu rezei
E a parte mais doída
A loira da minha vida
Por quem me apaixonei.
Meus colegas de escola
Me escreveram cartinhas
Alimentaram meu ego
Com saudades, lembrancinhas
Afagaram meu coração
Com tanto amor e emoção
Contidos naquelas linhas.
Nas férias e nos feriados
Eu visito a minha gente
Reencontro em cada amigo
O mesmo abraço contente
E quando saio de Altaneira
Rezo à santa padroeira
Que me traga novamente.
O poeta Francisco Adriano de Sousa é presidente da Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe-CE
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