Palácio do Planalto em foto de arquivo do Blog |
Até
outro dia, nas conversas a respeito da próxima eleição presidencial, a moda era
falar na “terceira via”. Prossegue, mas agora com um componente novo: passou a
ser de bom-tom descartar os resultados das atuais pesquisas de intenção de
voto. Até alguns pesquisadores aderiram à novidade.
Embora
nunca explícito, o raciocínio subjacente parece ser de que “estamos longe
demais da eleição” e que somente “quando ela começar de fato” é que poderemos
saber o que os eleitores farão em outubro. Por enquanto, as pesquisas pouco (ou
nada) diriam.
Claro
que os mais críticos são os que menos gostam do que veem. Os que rejeitam o
candidato que está na frente desgostam do segundo colocado e não querem aceitar
que o candidato de sua preferência talvez permaneça do tamanho que tem, longe
de ambos.
De
fato, para quem torce por qualquer outro nome que não os de Lula e Jair Bolsonaro,
o quadro é complicado. Tão preocupante que é melhor jogar fora as pesquisas e
rezar para que, algum dia, saiam números mais agradáveis.
Dependendo
do instituto, Lula e Bolsonaro reúnem, atualmente, algo entre 50% e 60% das
preferências, com larga dianteira para o ex-presidente. Em si, isso já seria
preocupante para os torcedores de outros candidatos, mas há mais problemas.
Não
é complicado estimar as taxas de votos nulos e brancos em eleições presidenciais,
onde a escolha é mais simples e os eleitores costumam definir-se melhor. Nas
duas últimas eleições, brancos e nulos somaram, no primeiro turno, cerca de 10%
dos votos (8,6% em 2010 e 9,6% em 2014).
Se
considerarmos que é provável que essa taxa suba em outubro próximo, dado o
desgaste do sistema político aos olhos dos eleitores, as pesquisas atuais podem
estar certas. Nas últimas, as proporções de entrevistados que pretendem assim
votar são parecidas: 15% na mais recente CUT/Vox Populi e 14% no Datafolha de
dezembro.
Voltando
ao que as pesquisas mostram de voto nominal: 60% para Lula e Bolsonaro, mais
15% de brancos e nulos, deixa um total de 25% de votos para distribuir entre
todos os demais candidatos. E se os dois líderes ganharem votos, diminuirá
ainda mais a parcela a repartir.
É
isso, aliás, que aconteceu ao longo de 2017: Lula cresceu, enquanto caíram
candidatos mais à esquerda; Bolsonaro subiu à medida que minguaram as
candidaturas à direita. Mantida a tendência, menores ficam as chances de
“terceiras vias”.
Houve
momentos em nossa história eleitoral recente que dão alento a quem torce pela
possibilidade de que alguma coisa mude o cenário atual. Mais especificamente, o
que aconteceu em 1989 com Fernando Collor e, de certa forma, o ocorrido em 2010
com Dilma Rousseff. Mas o alívio é ilusório. Nos candidatos com aspiração a
repeti-los, não há nenhum com características semelhantes.
A
questão fundamental é o nível de conhecimento. Se um candidato é pouco
conhecido e possui atributos valorizados por aqueles que não o conhecem, é de
imaginar que crescerá à medida que se tornar mais conhecido. Existe também a
possibilidade de um candidato ser conhecido, mas possuir qualidades
desconhecidas, cuja percepção faria com que crescesse.
Quando
ocorre o inverso, o impasse é evidente: como fazer com que candidatos
conhecidos, cujos atributos são igualmente conhecidos, cresçam? Em quais
segmentos do eleitorado poderão aumentar seus votos, se todo mundo os conhece e
não dá sinais de querê-los?
Collor
e Dilma, no início de suas campanhas, eram praticamente desconhecidos. Ambos,
no entanto, possuíam atributos altamente valorizados pelo conjunto do
eleitorado. Era apenas questão de tempo e de exposição para que avançassem e
foi o que aconteceu. Quando o eleitorado conheceu Collor e ficou sabendo que
Dilma era a candidata que Lula apoiava, subiram nas pesquisas e venceram a
eleição.
Quem
se parece com qualquer um deles? Alckmin, um político nacional que já foi
candidato a presidente e que governou São Paulo por quase 14 anos? Marina, que
está prestes a ser candidata pela terceira vez seguida? Ciro Gomes, igualmente
candidato por duas vezes e querendo ir para a terceira?
E
os candidatos a representar o “governismo”? A qualidade desconhecida que
possuem para se apresentar (ou se reapresentar) aos eleitores é o continuísmo?
Acham que esse é um atributo que muita gente preza? Supõem que ser a Dilma
Rousseff de Michel Temer dá votos? Ao fazer prognósticos e torcer por eles, é
bom que as pessoas se lembrem que Lula é Lula. E também que Bolsonaro não é
Celso Russomanno. É pouco provável que alguém cresça tirando votos que já estão
com eles. Onde encontrar os que não têm?
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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