Semana
passada, com o artigo “À procura de um personagem”, falei da dificuldade da
elite em lançar um candidato para representá-la nas eleições presidenciais de
2018, vistas as dificuldades de seus escolhidos de sempre. Destaquei dois
personagens em fase de teste: primeiro, Henrique Meirelles; depois, um rostinho
novo em política, Luciano Huck.
Mas
esqueci que à elite financeira e empresarial faltam escrúpulos quando se trata
de defender seus interesses. Pois a manchete de primeira página da Folha de S.
Paulo veio lembrar-me: “Mercado já vê Bolsonaro como opção contra Lula”
(12/11/2017).
Misógino,
racista, homofóbico, preconceituoso, amante da ditadura, defensor da tortura.
Não importa. Desde que abraçou a agenda “liberal”, Bolsonaro tornou-se
imediatamente “opção” se Meirelles, a primeira escolha, ficar pelo caminho.
Para
esse tipo de gente - que também via com “bons olhos” a ditadura de Pinochet -,
pois implementava a política liberal com seus “Chicago Boys”, a liberdade
humana pode ser oferecida em holocausto ao deus-mercado. Nisso equipara-se ao
seu antípoda, o “socialismo realmente existente”, exigindo sacrifícios e morte
no presente, para alcançar um suposto benefício no futuro (que a propósito
nunca chega).
Em
artigo no mesmo jornal (9/11/2017), a economista Laura Carvalho se lembra de
Friedrich Von Hayek, “o avô do neoliberalismo”, defendendo a ditadura de
Pinochet, no Chile, como “transição necessária para reverter excessos de
regulação do passado”. Segundo ela, Milton Friedman, outro herói dos liberais,
considerava o regime necessário como “caminho para a liberdade verdadeira”.
Não
vou afirmar que os liberais sejam sempre adeptos de ditaduras, por injusto. Mas
pode ser dito que, para os liberais, o bem maior é a liberdade do mercado,
depois vem o resto.
Portanto,
não é espantoso ver “liberais” brasileiros, que vivem dependurados no Estado,
apoiando um aspirante a ditador. Devem estar com aquele pensamento fixo: “O que
é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil”. Se eles elegeram Trump, por
que não eleger Bolsonaro?
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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