Os ex-governadores Cid, Ciro e Tasso em foto de arquivo do jornal O Povo |
Na
guerra retórica que se instalou na política desde a semana passada, sobre quem
é mais oligarquia no Ceará, se o grupo comandado pelo senador Tasso Jereissati
ou se a turma liderada pelos irmãos Ferreira Gomes (Ciro e Cid), um argumento
parece se sobressair com algum fundamento a ser considerado. É do prefeito de
Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), e O POVO publicou na edição de ontem. O que
ele diz: “Há um grupo político que dá oportunidade e espaço para que novas
lideranças políticas surjam e deem voz ao que pensam”. Traduzindo, no núcleo
que se organiza em torno de Ciro e Cid há chances de nomes novos surgirem,
crescerem e conquistarem espaço de protagonismo. Ele próprio, um jovem de 42
anos à frente de uma das maiores cidades do Brasil desde 2013, apresenta-se
como exemplo. Camilo Santana (PT), governador do Estado desde janeiro de 2015,
pode ser outro. É inegável, pelo que nos mostra a realidade dos fatos, que há
chance maior de crescer sob a sombra dos irmãos sobralenses do que se
vinculando ao senador tucano, por três vezes governador. A questão, porém, é
que este fato, isolado, não descaracteriza o sentido oligárquico de como as
coisas acontecem no dia a dia político de cada segmento.
Vale
explorar um pouco mais os exemplos de Camilo e RC. As duas escolhas, que até se
pode dizer que pareceram acertadas, pelo fato de virem demonstrando capacidade
de manter as coisas sob relativa ordem em meio a uma crise de proporções
gigantescas, nasceram de decisões quase que isoladas do ex-governador Cid
Ferreira Gomes. Não há, que se conheça, um debate democrático, aberto,
participativo, anterior ao anúncio de um e outro como candidato,
respectivamente, ao governo do Ceará e à prefeitura de Fortaleza. No caso do
petista, lembre-se, foi uma escolha imposta ao próprio partido, obrigado a
refazer o que decidira em convenção para legitimar a aposta de Cid, então
governador e à procura de um sucessor. Processo semelhante, embora um pouco
menos traumático, deu-se no caso em que Roberto Cláudio virou o nome do grupo
para disputa em Fortaleza, mais de cinco anos atrás. Uma prática que vai ao
encontro do conceito clássico de oligarquia, onde se prevê a presença dela nas
situações em que “o poder está concentrado em um pequeno grupo”. Tudo a ver,
portanto.
O
que há de diferença evidente em relação a como as coisas acontecem no entorno
de Tasso Jereissati é, quanto a este, a absoluta falta de peças de reposição. O
paradoxo é que foi exatamente ele, quase 30 anos atrás, quem descobriu talento
naquele jovem e provinciano parlamentar sobralense para transformá-lo em líder
de um governo que se instalava no Ceará para romper práticas e costumes. No
mesmo estilo que levou às escolhas de RC e Camilo por Cid, Tasso impôs Ciro
Ferreira Gomes logo depois como candidato à prefeitura de Fortaleza no distante
ano de 1988, contrariando até a lógica legal (tratava-se de um eleitor de uma
cidade participando da disputa municipal em outra, mas essa é outra história),
da mesma maneira que foi determinante para, interrompendo o mandato de prefeito
antes da metade, fazer dele seu sucessor no governo do Ceará. Talvez por
decepção nunca admitida com o pupilo que ganhou voo próprio e que passou a ser
uma pedra permanente no seu sapato, apesar dos gestos públicos mútuos de
respeito, a verdade é que desde Ciro ninguém mais surgiu com força no cenário
político sob a liderança do tucano, que foi mais duas vezes governador e está
no segundo mandato de senador, para representar como grupo a continuação do seu
pensamento político.
Chega-se
à conclusão, no final das contas, que no debate público que é travado
atualmente no Ceará os dois lados parecem ter razão. Aliás, como já explora em
linguagem mais política (no sentido da disputa pelo poder) o pré-candidato do
Psol ao governo, Ailton Lopes. Algo que, se considerando o teor fundamental do
que é dito, podemos tomar como uma tragédia, mitigada pelo fato de as escolhas
até terminarem sendo acertadas. A forma como se chega aos nomes, porém, dá
razão a Tasso quando enxerga uma oligarquia do outro lado, na mesma dimensão em
que justifica a reação irônica de Ciro ao devolver o petardo na direção de onde
ele veio.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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