Em
1994, Tasso Jereissati era presidente nacional do PSDB. Articulava a montagem
dos palanques para a candidatura presidencial de Fernando Henrique Cardoso. Em
meio às negociações de estratégia, FHC perguntou: e o Ceará? Ciro Gomes sairia
do Governo do Estado para assumir o Ministério da Fazenda de Itamar Franco.
Lúcio Alcântara, vice-governador, tinha tido estremecimentos com Ciro e seria
candidato a senador. Sergio Machado, deputado que seria candidato a senador,
havia longa data alimentava sonho de concorrer a governador, mas nunca teve
respaldo de Tasso para tal. Já a oposição controlava Fortaleza e tinha um nome
forte: Juraci Magalhães. O peemedebista terminaria a eleição com 37% dos votos
válidos. Em toda era tucana, nenhum adversário teve esse desempenho no primeiro
turno - nem Adauto Bezerra (1986) antes nem José Airton (2002) depois. O quadro
era delicado.
Quanto
ao hoje senador, ele estava envolvido em questões nacionais. Antes do Plano
Real, chegou a negociar para ser candidato a vice de Luiz Inácio Lula da Silva
(PT). Depois, ofereceu ao PT a vice de FHC. Nenhum dos movimentos vingou.
Àquela altura, Tasso estava mais envolvido e interessado nas questões
nacionais. Disse a FHC que não pretendia mais ser governador. O candidato presidencial
tucano retrucou: em nome do projeto do PSDB, o candidato no Ceará precisaria
ser Tasso. E assim foi. Ele teria mais dois mandatos de governador, apesar de
não ter essa intenção em princípio.
A
história é para dizer que o cenário nacional será determinante caso Tasso se
convença mesmo a concorrer pela quarta vez a governador. Cabeça de chapa da
oposição estadual em 2014, Eunício Oliveira (PMDB) integra a base do governo
Michel Temer (PMDB), mas tem feito movimentos de aproximação com o governador
Camilo Santana (PT), ligado ao grupo Ferreira Gomes (PDT). Há nesse balaio
três, talvez até quatro pré-candidaturas presidenciais. O PDT tem Ciro Gomes,
PT pretende concorrer com Luiz Inácio Lula da Silva, o PSDB disputará com
Geraldo Alckmin ou João Dória, e nada garante que os tucanos terão apoio
peemedebista, que pode construir outro palanque, talvez até com Dória fora do
PSDB.
O
fato é que os tucanos concorrerão e, caso Eunício se entenda com os Ferreira
Gomes, o escolhido entre Alckmin e Dória para concorrer pode ficar sem palanque
no Estado. O Nordeste já tem sido o calcanhar de Aquiles do PSDB há eleições
seguidas e pode ser mais uma vez. Em dezembro, o partido definirá o presidente
nacional. Há articulação, vista com simpatia por Alckmin, para que Tasso
permaneça.
Caso
o cearense seja confirmado à frente da direção nacional, sobretudo com Alckmin
candidato, o cenário será parecido com 1994, quando Tasso nem queria muito, mas
concorreu a governador.
MOVIMENTAÇÕES
PELO NORDESTE
Tasso
tem trabalhado na articulação de palanques, sobretudo no Nordeste. Na semana
passada, o senador Roberto Rocha, do Maranhão, deixou o PSB e assinou ficha de
filiação ao PSDB, ao qual já havia pertencido. Tasso e Alckmin estavam
presentes na filiação.
Rocha
chegou com status de pré-candidato a governador do Maranhão, contra Flávio Dino
(PCdoB), que hoje comanda o Estado.
O
QUE O HISTÓRICO REVELA
Tasso
deixou o governo do Ceará há 15 anos e, em todo esse período, não deu qualquer
sinal de que desejasse retornar ao comando do Poder Executivo estadual. Todas
suas manifestações foram no sentido de defender a renovação, o aparecimento de
nomes diferentes. Não é, portanto, por vontade que ele pode voltar a disputar a
administração do Estado.
O
ESTILO TASSO DE DECIDIR
Pelo
histórico do senador, ele não decidirá uma candidatura sem ter pesquisas nas
mãos que demonstrem ter chances de sair vitorioso. Também não deverá haver
definição tão cedo. Irá costurar alianças, analisar cenário, aguardar
adversários. A última aventura incerta na qual se lançou foi em 1986. Ele já
sofreu derrota, em 2010. Mas, naquela época, ele aparecia como franco favorito.
Ocorre que as circunstâncias — o peso de Lula, o papel desempenhado por Cid
Gomes (PDT) — foram subestimadas e ele foi surpreendido. Pode acontecer, mas
não por falta de preocupação com os preparativos.
O
fato é que não haverá decisão agora, nem neste ano. Talvez em meados do
primeiro semestre de 2018. Até lá, a intensidade com que irá se movimentar, o
sucesso na articulação de bases no Interior serão fatores a demonstrar o quão
interessado estará em entrar nessa disputa.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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