Michel Temer e Rodrigo Maia em reunião no Palácio do jaburu (Foto: Givaldo Barbosa) |
A
busca por uma nova política foi o grito que prevaleceu nos últimos anos no País
em meio à crise. Desde uma primavera de manifestações em 2013, as ruas pediram
melhor investimento do dinheiro público, punição dos corruptos e renovação dos
representantes políticos. Em paralelo ao desejo de mudança, predominou o
contrário: perdeu o povo, venceu a velha política.
A
análise é de especialistas e políticos ouvidos pela reportagem, que apostam que
a saída passa de novo pelas ruas, mas também pelas urnas e caneta e papel. “No
Brasil, persiste um estilo de fazer política próprio de uma sociedade
oligárquica, incompatível com os índices de modernidade observado em outros
esferas”, resume o cientista político Filomeno Moraes, professor da Unifor.
Esse
“estilo de fazer política” pôde ser observado nas duas vitórias do presidente
Michel Temer (PMDB) na Câmara dos Deputados, rejeitando abertura da denúncia
contra ele. Cálculo do jornal O Estado de S. Paulo estima que o arquivamento
dos dois processos pode ter custado R$ 32,1 bilhões, com a liberação de emendas,
concessões e outras medidas do governo negociadas com os deputados.
“Quem
hoje aponta o dedo, estava fazendo o mesmo um ano atrás, com a diferença
incontestável que a personalidade do Temer é negociadora, essa velha política
ele sabe fazer bem. Mas isso a Dilma também fazia, o Lula fazia, o prefeito da
sua cidade, da minha cidade faz… É a velha política que prevalece”, analisa o
professor de sociologia e política da Universidade Presbiteriana Mackenzie,
Rodrigo Prando.
Uma
característica dessa política é a desarmonia entre as práticas dos
representantes e os desejos da população. Isso explica porque, em meio à
Operação Lava Jato e às críticas do povo à impunidade, a denúncia contra Temer
não foi aceita e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), afastado do seu mandato pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) no fim do mês passado, teve medidas cautelares
revertidas pelo Senado.
Outro
descompasso foi o resultado da reforma política — apontada inicialmente como
essencial para o fim da crise —, que não trouxe muitas mudanças. O fim do
financiamento privado deu lugar a um fundo público bilionário para financiar as
eleições e o fim das coligações ficou só para 2020, com risco de ser revogado.
Para
o professor Filomeno Moraes, a ideia de que através da reforma poderia se
“alcançar um patamar mais civilizado de fazer política” é ilusória. Por outro
lado, algumas propostas, como “o tal distritão”, deveriam ser descartadas
porque “produziriam muito mais retrocesso”.
Até
as manifestações, apontam os analistas, teriam sido “sequestradas” pela velha
política: nasceram em 2013, sem lideranças bem definidas, se denominando
“suprapartidários”, depois foram frequentadas por partidos nos movimentos
contra Dilma e Temer. Os discursos logo migraram para ataques a partidos ou
figuras públicas e ganharam contornos de repúdio à própria política.
Para
o professor de história da Uece, Agileu Gadelha, a saída não está na negação da
política, mas no retorno a ela. “É hora de levantar as lideranças pensantes”,
defende. A maior aposta ainda é na educação política e nas eleições, que,
embora distantes, são fundamentais para a democracia. A unanimidade, porém,
está nas eleições. “Só há possibilidade da mudança da política se o eleitorado
decidir votar com a consciência de escolher alguém que seja preparado, tenha
compromisso ético e não tenha uma vida pregressa cheia de crimes ou suspeitas”,
resume Rodrigo.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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