Bicicletada nacional em homenagem a Raul Aragão, voluntário do projeto Bike Anjo em Brasília (Fabio Rodrigues Pozzebom) |
Com
balões e mensagens, cerca de 200 ciclistas se concentraram em frente à
Biblioteca Nacional, no centro de Brasília, no fim da tarde de ontem (27/10),
para homenagear vítimas da violência do trânsito. “Aqui é um espaço livre,
horizontal, para o ciclista vir do jeito que ele quiser. Aqui é um espaço de
debate para você falar o que você quiser, como o Raul defendia e fazia”, falou
em um megafone um dos participantes, sem se identificar.
O
“Raul” em questão era Raul Aragão, ciclista morto após ser atropelado em
Brasília no último dia 22, aos 24 anos. O rapaz era ativista da causa e
participava de diversos projetos, entre eles o Bike Anjo, voltado a ajudar
pessoas com dificuldades para pedalar. Raul foi o homenageado do ato, que
seguiu pelas ruas de Brasília até o local do atropelamento, onde uma bicicleta
foi colocada para lembrar a vítima e o incidente. As cinzas do ciclista foram
despejadas juntamente a uma muda de árvore que foi plantada.
A
atividade foi uma edição especial da “Bicicletada”, evento que reúne ciclistas
para pedalar em diversas cidades. A iniciativa se multiplicou em mais 16
cidades brasileiras, como Aracaju, Campo Grande, Florianópolis, Fortaleza,
Manaus e São Paulo. Nesses outros locais, a homenagem foi dedicada a Raul e a
outras vítimas do trânsito.
Somente
nos últimos dias, dois adolescentes foram atropelados em São Paulo, uma pessoa
na Bahia e outra em Fortaleza. Segundo dados do Ministério da Saúde relativos a
2014, 1.357 ciclistas foram mortos em decorrência da violência no trânsito
naquele ano. Estatísticas também do MS, mas referentes a 2016, apontaram 11.741
ciclistas internados no Sistema Único de Saúde por esse mesmo tipo de
ocorrência.
Uma
das reivindicações dos presentes e de organizações do setor é a redução da
velocidade média nas cidades. A Organização Mundial da Saúde recomenda que o
máximo nas vias urbanas seja de 50 km/h. Segundo Bruno Leite, coordenador da
ONG Rodas da Paz, essa mudança traria benefícios não somente aos ciclistas.
“Se houver um acidente, a chance de morte é
menor, o motorista tem mais possibilidade de frear. Você aumenta o número de
carros na via, vai ter mais pessoas chegando ao ponto de destino no mesmo
intervalo de tempo. Esse trânsito com velocidade menor pode ser compartilhado
de maneira mais segura”, defende.
Em
Brasília, por exemplo, há ruas em que o limite é 80 km/h. A ONG Rodas da Paz e
outros movimentos envolvidos com a temática da mobilidade urbana já solicitaram
ao Governo do Distrito Federal (GDF) a alteração dos limites, mas ainda não há
posição da administração da capital neste sentido.
Em
São Paulo, a redução dos limites em determinadas vias gerou polêmicas, sendo
defendida por especialistas e organizações da área de mobilidade urbana e
questionada por motoristas e pela gestão do prefeito João Dória, que aumentou a
velocidade das vias expressas.
Outra
medida importante apontada pelos ativistas é a disponibilização de espaços nas
cidades para o trânsito de ciclistas, como ciclovias e ciclofaixas. De acordo
com Renata Florentino, pesquisadora do tema e integrante da ONG Rodas da Paz,
nenhuma das cidades brasileiras pode ser considerada “ciclável”, termo adotado
para os municípios em que pelo menos 25% da sua malha viária são adaptados para
esse meio de transporte.
“No
Brasil, está melhorando bastante, mas há ainda uma disputa do espaço viário,
com a resistência de classes mais altas que não querem ciclovias nos seus
bairros, como ocorreu em São Paulo”, pontua.
Em
Brasília, informa a pesquisadora, há 400 quilômetros de ciclovias, mas essa
quantidade corresponde apenas a 3% do total da malha viária. Gabriel Magno, um
dos ciclistas presentes ao ato, sofre os efeitos dessa situação diariamente. Da
sua casa, no bairro Jardins Mangueiral, até o centro da capital são 18
quilômetros.
“Para
vir para o Plano Piloto [nome dado à região central da cidade], há vários
trechos sem ciclovia. Preciso ir para a rua, [pedalar] junto aos carros. E
estes momentos são sempre de tensão. Não há espaço reservado, você divide com
carro e ônibus. Além disso, há a falta de cultura dos motoristas de conviverem
com o diferente na rua”.
No
mesmo dia em que as bicicletadas tomaram das ruas de 17 cidades brasileiras,
foi oficializada a norma do Conselho Nacional de Trânsito regulamentando as
punições a pedestres e ciclistas previstas no Código de Trânsito Brasileiro
(CTB). O Artigo 255, por exemplo, define como violação pedalar em uma área não
destinada a esse fim.
Na
avaliação de Rafael Barros, ativista participante da manifestação em Brasília,
em que pese o reconhecimento de deveres de pedestres e ciclistas, é preciso
observar as possibilidades de respeito a essas obrigações.
“Não
que o ciclista ou que o pedestre não tenha que respeitar a lei de trânsito, mas
tem que haver também as condições para que eles façam isso. Em Brasília, por
exemplo, temos péssimas calçadas. Como alguém vai caminhar se ela não existe?
Se a capital tivesse malha cicloviária bem estruturada, caminháveis, aí faria
um pouco mais de sentido”, pondera.
Com
informações portal Agência Brasil
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