O
silêncio frágil e assustado do presidente Michel Temer, chefe das Forças
Armadas por imposição constitucional, somado às declarações temperadas,
apaziguadoras, do general Villas Boas, comandante do Exército, nasceu neste
momento de um sinal intrigante do discurso calculado e provocador pronunciado
pelo general Antonio Mourão, na loja maçônica Grande Oriente, em Brasília.
O
episódio soou como ameaça. Ele não mediu palavras, talvez poupado algumas. Foi
além, muito além, do rigoroso Regulamento Interno que interdita a possibilidade
de declarações políticas aos oficiais da ativa, como esta, por exemplo: “Ou as
instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando
da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou teremos que
impor isso”.
Rondaria
pelos quartéis alguma coisa além da vã especulação sobre um golpe fardado? A
frase inquieta, certamente. De um governo mergulhado na corrupção quase tudo é
possível esperar. Mesmo assim, ainda não há espaço para os militares. Temer,
por enquanto, assusta mais que os generais.
Mourão,
fardado e não à paisana, falou no dia seguinte ao que Rodrigo Janot, então
procurador-geral da República, entregou ao Supremo Tribunal Federal a segunda
denúncia contra Temer, acusado de participar de organização criminosa e de
tentar obstruir a Justiça.
O
general surpreendeu a plateia com aquela e outras afirmações vigorosas.
Carimbou as declarações feitas por ele como reflexo do pensamento do
Alto-Comando do Exército. Ninguém desmentiu. Imediatamente, após a repercussão
do discurso de Mourão, surgiram apoios de oficiais da reserva.
O
general Augusto Heleno, comandante da Força de Paz no Haiti, liberou o esprit
de corps. “Preocupante o descaramento de alguns políticos, indiciados por
corrupção e desvio de recursos públicos (...) da quadrilha que derreteu o País,
cobrando providências contra um cidadão de reputação intocável.” O general
Villas Boas, comandante do Exército, lançou um manto de proteção sobre Mourão:
“Não haverá punição”, garantiu. É fácil constatar que o pior poder no Brasil de
hoje nasceu do golpe de 2016.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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