O contraste entre as favelas e os condomínios de luxo em São Paulo é um dos retratos da desigualdade no Brasil (Foto: Clayton de Souza) |
Sabe
o que significam 100 milhões de pessoas? Pense no Ceará. Em todo mundo que mora
no Estado, na Capital e no Interior. Visualizou? Aí pense em 11 vezes a
população do Ceará. Isso são 100 milhões de pessoas. Para simplificar, tomemos
Fortaleza como parâmetro. A Cidade inteira. O número corresponde a 38 vezes a
população da Capital.
Ainda
não foi claro o bastante? Tomemos como exemplo a Argentina. É o segundo maior
país da América do Sul. Multiplique toda a população por dois. Ainda não dá.
Tome também a população do Uruguai e duplique. Some todo esse pessoal. Os seis
caras citados no começo têm mais dinheiro que essa quantidade toda de gente.
Imagine a Alemanha inteira. A fortuna dos sujeitos supera a de contingente
populacional superior a todos os habitantes do país mais rico da Europa. Ou
peguemos como referência o Reino Unido. Juntemos com a população com a do
Canadá. É a quantidade de gente cuja riqueza acumulada é inferior ao dos seis
ricaços.
DESCAMINHO
Não
há, cara leitora e caro leitor, hipótese de uma sociedade ser viável com esse
grau de injustiça social. O problema não está nos seis senhores ricaços, mas na
estrutura social, econômica e política que constrói desigualdade a esse ponto
chocante. Não há como evitar os níveis crescentes de violência, como conter a
degradação de espaços urbanos, conter o aumento dos muros, os gastos com
segurança privada, a reclusão cada vez maior. Essas coisas estão entrelaçadas
de modo tão direto e óbvio que até me constrange ter de dizer isso. Mas, é
necessário. Alguns acham isso o caminho natural das coisas. Natural nada!
As
pessoas ficaram ricas por mérito, proclama discurso do jardim da infância do
liberalismo. Imagino que esses bilionários são mesmo pessoas que trabalham
muito, esforçam-se, são muito inventivas e devem dar contribuição inestimável
ao mundo. Porém, não dá para dizer que eles têm mais mérito que 100 milhões de
pessoas somadas. Não dá, gente, para imaginar que eles trabalham mais,
esforçam-se mais que 100 milhões de pessoas. Que haja mais inteligência,
criatividade, capacidade nesses seis iluminados que em 100 milhões de pessoas.
É
preciso completa desconexão com a realidade para resumir a situação à
meritocracia, “mão livre do mercado”, o caramba. Há uma estrutura de
favorecimento do poder público à construção de megafortunas e formação de oligopólios,
modelo tributário injusto e concentrador. Uma sociedade que permite tais níveis
de desigualdade não pode ser saudável, não tem como dar certo.
QUEM
SÃO ELES
Os
seis bilionários são todos do sexo masculino, brancos. O mais jovem tem 35 anos
e tem perfil destoante do resto da lista. É Eduardo Saverin, o fundador do
Facebook expulso da companhia por Mark Zuckerberg. Salvo o jovem representante
do ramo tecnológico, os outros cinco são homens idosos - entre 65 e 79 anos. Um
é banqueiro e os demais são industriais. Três deles da mesma companhia, a
Inbev, maior cervejaria do mundo.Criança morta, de Cândito Portinari, das mais
poderosas representações da miséria que a arte produziu
Criança
morta, de Cândito Portinari, das mais poderosas representações da miséria que a
arte produziu.
DESIGUALDADES
ESCANCARADAS
A
desigualdade não é casual, espontânea nem se restringe aos seis bilionários. Há
estruturas de segregação que se espalham em cadeia pelos mais diversos estratos
sociais, por sexo, etnia, região, idade. As mulheres ganham 62% do salário dos
homens. Já foi pior: há vinte anos, elas ganhavam 40% do salário masculino.
Mas, o avanço é muito lento. Nesse ritmo, as situações serão equivalentes em
2047. Daqui a três décadas.
Em
relação aos negros, a situação é mais crítica ainda. Ganham hoje 57% do que
recebem os brancos. Há vinte anos, o percentual era de 45%. Nesse ritmo de
melhoria, a situação estará nivelada em 2089, conforme o estudo. Triste ironia:
a data é um ano após a abolição dos escravos completar 200 anos. Vergonhoso
para cada um de nós.
Com
informações portal O Povo Online
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