Traduzir
metas fixadas pelas Nações Unidas em cada território é o desafio que governos
de todo o mundo devem enfrentar para concretizar os Objetivos pelo
Desenvolvimento Sustentável (ODS). As metas que substituíram os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM), em 2015, devem orientar agora as políticas
nacionais e as atividades de cooperação internacional até 2030.
Ocorre
que dois anos depois de fixadas, ainda há no país um "baixíssimo"
nível de conhecimento delas por boa parte dos municípios, segundo o presidente
da Associação Brasileira de Municípios (ABM), Eduardo Tadeu Pereira.
Entre
os objetivos do milênio, estão a erradicação da pobreza, a redução das
desigualdades, a promoção da agricultura sustentável, a obtenção da igualdade
de gênero e o desenvolvimento de ações para combater as mudanças climáticas.
Como
a população vive nas cidades e o poder municipal é aquele que está mais
próximo, as Nações Unidas têm destacado que os municípios são espaços
fundamentais para a concretização da ideia de "pensar globalmente, agir
localmente".
Por
este motivo, as novas metas deverão estar no centro da Agenda de Desenvolvimento
Sustentável Pós-2015, acho chamada Agenda 2030. No entanto, a importância
delas, no caso do Brasil, esbarra em difícil realidade, de acordo com o
presidente da associação. “A maior parte dos municípios tem problemas muito
sérios e dificuldades financeiras e de capacidade técnica”, afirmou Pereira.
Para
melhorar o quadro, a associação municipal começou a desenvolver nesta semana o
Projeto pelo Fortalecimento dos Municípios Para a Promoção da Agenda 2030 e da
Nova Agenda Urbana. Efetivado em parceria com o Instituto Pólis e a União
Europeia. Receberão ajuda gratuita cerca de 200 a 500 municípios brasileiros
com 20 mil a 100 mil habitantes, que vão
conhecer e articular ações de desenvolvimento sustentável.
A
iniciativa, que vai durar três anos, envolve a realização de cinco seminário
regionais, divulgação de exemplos de boas ações e a implementação de um
observatório. A expectativa é que este seja lançado em 2019 e sirva de base
para o acompanhamento das ações dos municípios em relação à agenda política proposta
pelos ODS.
“Temos
uma realidade muito diversa em nossos municípios. Mais de 4 mil têm cerca de 20
mil pessoas, são pequenos municípios. No caso deles, ainda precisa ser feito um
trabalho grande para desenvolver a discussão sobre a agenda 2030 e a nova
agenda urbana”, ressaltou o coordenador da área de Direito à Cidade do
Instituto Pólis, Nelson Saule Júnior.
Por
causa do cenário, o projeto tem como foco cidades com baixo Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) localizadas no Norte e no Nordeste, e em Minas
Gerais. A ideia é enfatizar a importância de desenvolvimento de ações conjuntas
integradas com outras cidades, “na perspectiva regional, por exemplo, com a
elaboração de um plano territorial de desenvolvimento sustentável”, disse.
Na
primeira oficina, realizada na cidade mineira de Montes Claros, nenhum dos mais
de 20 gestores participantes conhecia bem os objetivos do milênio, segundo o
presidente da ABM.
“É
uma vergonha para a ONU que uma decisão de 2015 ainda não tenha conseguido atingir
gestores de municípios médios e importantes, que sequer têm o conhecimento
deles. De alguma maneira, é um problema também para o governo federal”, avaliou
Pereira. Ele destacou que, sem mobilização e engajamento dos gestores do plano
local, o país terá dificuldade de concretizar as metas globais.
Para
superar o problema, a ONU tem desenvolvido ações de formação por meio de
parcerias com instituições governamentais e da sociedade civil.
Em
todo o mundo, uma força-tarefa global de governos locais e regionais também
atua para reunir e coordenar o trabalho de defesa das redes internacionais de
governos locais.
No
Brasil, um exemplo disso é o documento Roteiro para a Localização dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável: Implementação e Acompanhamento no nível
subnacional, lançado pelos organismos da ONU no Brasil, em 2016, no contexto da
posse dos novos prefeitos. O texto detalha formas de concretizar os ODS nos
territórios, da sensibilização da população à execução de políticas.
O
governo federal reconhece que, embora o foco da aplicação das políticas esteja
nos municípios, há papel importante na articulação e no apoio às ações, de
acordo com o secretário adjunto da Secretaria Nacional de Articulação Social da
Secretaria de Governo da Presidência da República, Cláudio Ribeiro.
Segundo
o secretário adjunto, já existe mobilização para produzir esse engajamento. Ele
destaca a criação da Comissão Nacional para os Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável, instrumento de governança que reúne governos federal, estadual e
municipal, e grupos da sociedade civil.
“É
um elemento diferenciador do Brasil em relação a maioria dos países, porque é
uma instância que foi criada por decreto do presidente da República, que coloca
junto governos e sociedade civil. Na maioria dos países, você tem uma estrutura
governamental que, quando acha pertinente, chama a sociedade civil para
conversar”, afirmou.
A
comissão reuniu-se nesta semana para dar continuidade aos trabalhos. Além de
empossar os membros, já aprovou o regimento interno e agora trabalha na
elaboração do plano de trabalho para o biênio.
“O
que imaginamos é que seja um plano, primeiro, extremamente democrático, que
agrade a todos os membros da comissão, de tão diferentes visões; segundo, que seja
algo bastante concreto e factível para o tempo que ele se propõe”, disse
Ribeiro.
Em
contexto de forte urbanização, a problemática das cidades mereceu destaque na
elaboração dos ODS. O objetivo 11 estabelece como uma das metas “tornar as
cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e
sustentáveis”.
O
coordenador da área de Direito à Cidade do Instituto Pólis, Nelson Saule Júnior
disse que a agenda tem como centralidade o conceito de cidades sustentáveis e pode
contribuir para a concretização do direito à cidade.
Entre
as ações propostas, “destaco o objetivo de se trabalhar na melhoria das
condições de todas as áreas ocupadas pela população de baixa renda, na
perspectiva da urbanização e da própria regularização dessas regiões, pois isso
mostra o reconhecimento de uma população que está em situação mais precária em
termos de condições de vida, do local onde elas moram, da precaridade da
segurança”, disse.
Além
disso, o especialista do Instituto Pólis considera que os ODS reforçam a
importância da aplicação da política de mobilidade urbana, que no Brasil foi
estabelecida pela Lei 12.587/12.
“Ainda
precisamos avançar muito no Brasil em relação à priorização do transporte
público, pois na maioria das cidades ainda há uma predominância do transporte
individual em contraposição ao coletivo”, avaliou.
Direcionamento
de recursos para projetos sustentáveis e ampliação do debate público sobre os
objetivos são medidas que podem ajudar a concretizar os avanços pretendidos
pelos países que se comprometeram com eles.
Com
informações Agência Brasil
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