Eunicio Oliveira e Ciro Gomes em foto de arquivo |
Sim,
a política é dinâmica, mas recomenda-se evitar fazer o distinto público de
bobo. Nos últimos dias, a crônica política deu conta de um encontro entre o
senador Eunício Oliveira (PMDB), o governador Camilo Santana (PT) e o prefeito
Roberto Cláudio (PDT). O regabofe ocorreu em 31 de agosto, no Coco Bambu, de
Brasília, casa que vive apinhada de clientes. Portanto, o trio escolheu a dedo
um lugar para ver e ser visto. Bem cearense, não é?
Ao
decidir conversar com o governador e com o prefeito, Eunício sabe muito bem que
está conversando também com o ex-governador Cid Gomes e com o restante da
família que detém a hegemonia da política cearense. Inclua-se na lista Ciro
Gomes, cuja eloquência verbal proferiu uma impressionante sequência de vitupérios
contra o senador.
Vamos
a um singelo resumo de palavras dirigidas por Ciro ao presidente do Senado:
aventureiro, mentiroso, lambanceiro, mistura de Pinóquio com irmão metralha, um
pinotralha. Diga-se que esse fabuloso conjunto foi dito de uma só vez, em 2014,
em ato de inauguração do comitê de Camilo Santana. Desde então, muitos outros
“conjuntos” foram pronunciados. O coroamento: Ciro disse que a eleição de
Eunício para presidir o Senado era “uma vergonha”.
Durante
a campanha de 2014, escrevi algumas vezes a respeito. Chamava a atenção o fato
de Eunício Oliveira, candidato contra Camilo, calar-se diante da metralhadora
verbal de Ciro. Alertava que calar-se diante de tão fortes ataques correspondia
a consentir. Quase sempre, o senador preferiu reforçar o fígado e aguentar calado.
No fim das contas, a derrota na disputa. Sinal de que uma parte do eleitorado
acreditou em Ciro.
Mais
recentemente, Eunício se saiu com essa: “A oposição terá candidato ao governo e
candidato na chapa majoritária para senador. Ninguém se iluda, eu saio da
política, mas não faço acordo com esse cidadão chamado Ciro Gomes, que só sabe
denegrir. Ninguém sabe do que ele vive, mas vai todos os dias para as rádios e
televisão denegrir a vida alheia. Eu não me junto com gente desse tipo”.
Pois
é. A não ser que se queira passar a ideia de que Ciro não tem nada a ver com
quem o ladeia. Camilo é Camilo, Roberto é Roberto e... Cid é Cid. Bingo! É essa
a ideia. Camilo para governador, Zezinho para a vice, Cid para senador e
Eunício também para senador. E Ciro? Ora, Ciro dá uma pausa na língua e faz a
sua campanha presidencial deixando o Ceará com os cearenses.
Não
haverá na trama excesso de esperteza? Afinal, até na política há limites para
determinados tipos de pacotes a serem colocados à disposição do eleitor. Diante
da podridão que nossa política produziu nos últimos anos, há sempre a
possibilidade de o estômago do eleitor estar em fase, digamos, de alta
sensibilidade. Assim, é grande o risco de regurgitar o que lhe empurram goela
abaixo. PMDB CUSTOMIZADO
A
movimentação de Eunício Oliveira, que aceitou o convite de Camilo e RC para o
ensaio de um xote, sugere que o PMDB vai adotar em 2018 a postura que já se
tornou especialidade do partido. Ou seja, mesmo que a sigla componha uma chapa
com candidato a presidente da República, não se obrigará a seguir a mesma
composição nos estados.
Não
é só o senador cearense que se movimenta nessa linha. Em Alagoas, Renan
Calheiros passeia pela mesma calçada. Não foi à toa que se abraçou o Lula-lá (e
vice-versa) na passagem do petista pelo Estado. Lá, Renan quer salvar a sua
pele e a de seu filho, que governa o Estado.
É
o velho PMDB de guerra. A ideia de sempre é se amoldar às circunstâncias mais
favoráveis de cada estado, eleger uma grande bancada para o Congresso e salvar
a pele dos que precisam de foro privilegiado. Se for possível eleger
governadores, ótimo. Porém, não se trata de uma prioridade.
Quanto
ao próximo presidente da República, o PMDB vai fazer o que sempre fez. Como
fiel da balança para formar a maioria parlamentar, venderá (caro) o seu apoio
ao futuro ocupante do Palácio do Planalto.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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