Reforma Política não avança na Câmara dos Deputados (Foto: Divulgação) |
Entre
a tarde e a noite de ontem, pacientemente, assisti pela TV da Câmara dos
Deputados boa parte da sessão plenária que discutiu os pontos da reforma
política para 2018. A votação prometia se estender. O primeiro item para
posicionamento dos deputados já dizia muito da falta de consenso: decidir no
voto a ordem dos itens que seriam postos em votação.
Escrevo
aqui sem ter ideia se a votação prosseguiu e se a agenda estabelecida pela
presidência da Casa foi cumprida. Havia até a possibilidade de nada ser votado
ontem. No limite, sem a construção de um consenso, deu-se o risco de que a
decisão final acabasse deixando tudo como está. Ou seja, as regras para 2018
seriam as que vigoraram em 2016. Tomara que não.
O
Brasil é um País curioso. Boa parte de nossa sociedade, a maioria gente de bem,
porém, às vezes, desinformada e crente em falsas bondades, comemorou a
irresponsável decisão do Supremo, movido por ação da OAB, de proibir as doações
de empresas para as campanhas eleitorais. Agora, os mesmos gritam indignados
contra o financiamento público.
Ora,
a democracia não é barata. Em um País continental como o Brasil não é razoável
que os candidatos a presidente da República não tenham uma fonte de renda para
percorrer o País e fazer sua mensagem chegar aos mais longínquos rincões. O
mesmo vale para candidatos a governador.
Há
problemas no financiamento privado? Claro. Aos montes. Que tal encontrar formas
de aperfeiçoar esse formato? Qual nada. Prevaleceu a demagogia e se arranjou na
Constituição o que lá não havia. No fim das contas, deu-se o fim das doações
privadas considerando-as inconstitucionais.
E
o financiamento público? De certa forma, já há esse formato. Um fundo
partidário abarrota os cofres de partidecos, que são mestres em usar o balcão
das campanhas para vender seus segundos na TV a peso de ouro. Aliás, o tempo na
TV é regiamente pago pelo senhor contribuinte.
A
essa altura, criar um fundo público para bancar a eleição é uma afronta. Mas...
É preciso bancar a campanha. Afinal, é parte fundamental integrante de nossa
democracia. Outra questão: nada garante que o financiamento público aposente o
caixa dois. Pelo contrário. E pior: o crime organizado passaria a ser procurado
para doar.
A
sessão é confusa. Perde-se um tempo imenso numa etapa que poderia ser
desprezada: “Como encaminha o partido tal?”. Na sequência, o líder vai lá e
gasta seus minutos para dar a linha do partido. São dezenas deles. Em cada
item, cada artigo, repete-se esse procedimento. É cansativo e pouco produtivo.
Ao
longo dos anos, o quadro político brasileiro foi degringolando e se
depauperando. Que se diga: com imensa contribuição de tucanos e petistas. Mais
os últimos que os primeiros. No Governo, um e outro acharam conveniente a
proliferação de partidos. Era uma forma de esvaziar siglas inimigas, de dar
rasteiras em outras e fazer vingar vis espertezas. Tudo em nome do projeto de
poder em vigor.
Só
há sentido em manter partidos no Congresso que possuam um razoável patamar de
representatividade nacional concedida pelo povo através do voto. Quem não
alcançar esse patamar, não tem representatividade e deixa de exercer papéis
congressuais. É o que se pratica mundo afora em todas as democracias que se
prezam.
Não
é difícil fazer essa mudança. Aliás, é simples. Porém, uma boa parte da
composição da Câmara dos Deputados foi eleita com bases nessas distorções. Daí
as dificuldades de se retomar um modelo civilizado, que limite a cinco ou seis
partidos com boa representatividade e, portanto, respeitabilidade nas
negociações e articulações.
Só
há sentido em manter partidos no Congresso que possuam um razoável patamar de
representatividade nacional concedida pelo povo através do voto. Quem não
alcançar esse patamar, não tem representatividade e deixa de exercer papéis
congressuais.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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