Do
ponto de vista da política local, a passagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
pelo Ceará é a mais complexa de todo o percurso do ex-presidente pelo Nordeste.
A presença do governador Camilo Santana, que é petista, só foi confirmada no
início da semana. É a situação mais delicada que os partidos do bloco
oposicionista federal precisam administrar.
O único pré-candidato desse campo
político a se contrapor a Lula é do Ceará: Ciro Gomes (PDT). Camilo é petista,
mas chegou ao poder com base no suporte eleitoral do grupo Ferreira Gomes.
Governa com sustentação do PDT, maior partido do Estado, comandado pela família
de Ciro.
O governador se tornou muito mais próximo ao clã ciro-cidista que ao
PT. Já recebeu aval do próprio Lula para apoiar o ex-governador cearense em sua
provável terceira empreitada presidencial. Cogitou-se sua saída do PT. Camilo
não descarta nem confirma. Está atento ao prazo: abril do ano que vem. Até lá,
acompanha os acontecimentos. Dá sinais a favor de Ciro, outros por Lula.
Surfará na onda mais conveniente em 2018.
Não
faz sentido para Camilo bater de frente com o PT sem estar certo de que Ciro
será mesmo candidato. Também não se sabe se Lula concorrerá. Composição entre
os dois não é impossível. O governador cearense está no meio da confusão e
pratica equilibrismo. O estilo de Camilo sempre foi o de manter as portas
abertas.
Nas
duas outras eleições presidenciais nas quais Ciro foi candidato, a situação foi
parecida no Ceará. O governador era Tasso Jereissati (PSDB), à época padrinho e
aliado-irmão dos Ferreira Gomes. Mas, as posturas foram diferentes nas duas
circunstâncias. Variaram conforme a posição como Ciro se colocava na disputa.
Em
1998, Tasso apoiou a reeleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mesmo com
Ciro no páreo. Na ocasião, o ex-governador se lançava na primeira empreitada
presidencial, sem qualquer chance real. Teve 10% dos votos no País e foi o
terceiro colocado. No Estado, foi o primeiro, com 27,5%. Para isso, teve voto
de muitos apoiadores de Tasso. Mesmo com respaldo do governador, FHC foi apenas
o terceiro entre os eleitores cearenses, com 24%. Além do ex-governador
cearense, perdeu também para Lula, que teve 26%.
Já
em 2002, o quadro foi diferente. Tasso apoiou Ciro de forma decidida e o
ex-governador teve 44% dos votos cearenses. Lula teve 39% e José Serra (PSDB),
8%. Houve várias diferenças entre um pleito e outro. Tasso havia rompido com
Serra em meio a disputa tucana sobre quem seria candidato ao Palácio do
Planalto. Mas, principalmente, Ciro despontava em outra condição. Chegou a
aparecer com chance real de vitória. Verdade que, no fim das contas, acabou em
posição pior que na eleição anterior: foi o quarto, atrás de Lula, Serra e
ainda de Anthony Garotinho (então no PSB). Aliás, a distância de Garotinho para
Ciro foi maior que a vantagem de Serra em relação ao candidato á época no PSB.
A
questão é a seguinte: Tasso apoiou FHC quando Ciro era figurante na disputa. E
ficou com o aliado local quando, além da divergência com Serra, o candidato
cearense tinha possibilidades reais. De modo que, para 2018, importa muito para
Camilo em qual situação Ciro entrará. Será o Ciro mero figurante de 1998? Ou,
tenha ou não o mesmo desfecho, o de 2002, que chegou a flertar com a vitória?
Não
creio que, em cenário algum, Camilo fará corpo mole em relação a Ciro. Porém,
manterá portas mais abertas em relação ao PT quanto menores forem as chances do
pré-candidato pedetista.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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