Quem
entrou há pouco tempo na discussão sobre direita e esquerda pensa que a questão
sempre foi o tamanho do Estado. Não é assim historicamente, nem é assim hoje no
mundo todo. Os conceitos se adaptam e se transformam no tempo e no espaço.
Na
Revolução Francesa, quando esses conceitos surgem, direita e esquerda exprimiam
duas correntes de revolucionários: moderados e radicais.
No
começo do século XIX, a grande dicotomia política era entre liberais e
conservadores. Ser liberal, nessa época, era revolucionário. O conservadorismo
era reação ao Iluminismo, à Revolução Francesa. Lutava pela restauração do
Antigo Regime e das ideias absolutistas. Nada mais estatizante que essa direita
clássica.
Já
as ideias socialistas, em sua origem, eram antiestatizantes. Eram próximas do
anarquismo, aliás. Uma das divergências entre os marxistas e o anarquista
Mikhail Bakunin era porque este último discordava da necessidade de
manter um Estado, mesmo transitório, como propunha Karl Marx. O filósofo
francês de origem argelina Louis Althusser falava dos “aparelhos ideológicos”
estatais como força repressora. O italiano Antonio Gramsci reforçava se tratar
o Estado de instrumento de dominação e coerção da burguesia.
Na
I Guerra Mundial, a esquerda não se apegava à ideia de Estado, muito menos de
nação, daí se opor à guerra. Na tradição leninista e stalinista, a esquerda se
torna radicalmente estatizante. Essa é a matriz principal da esquerda
brasileira, em torno do antigo partidão. O PT, sob influência gramsciana, não
nasce estatista. Os esquerdistas brasileiros e na América Latina são mais
adeptos da estatização do que na maior parte do mundo.
Por
outro lado, a UDN, partido que talvez melhor representou a direita no Brasil,
chegou a votar a favor da emenda que fortaleceu o caráter estatal da Petrobras
- o texto original do governo Getúlio Vargas configurava praticamente uma
empresa de economia mista, já à época. Donald Trump, que creio ninguém
discordar de ser alguém de direita, adota reiteradamente medidas protecionistas
e de fortalecimento do mercado nacional, em detrimento do livre comércio.
Esses
conceitos de esquerda e direita não são tão simples e lineares. Tampouco se
repetem de forma idêntica em todos os países. Ser de esquerda na Espanha não é
sinônimo do PT. Centro, no Reino Unido, não é um PMDB. A direita alemã tampouco
é o DEM
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.