Nas pesquisas para 2018, nome tucano aparece só em quarto: governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ou o prefeito paulistano, João Doria (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom) |
Michel
Temer triunfou ao obter guarida contra investigação judicial no caso da mala de
500 mil reais em propina, mas houve quem tenha saído derrotado do episódio. Um
foi o procurador-geral da República em fim de mandato, Rodrigo Janot, a
preparar uma última “flechada” no presidente. O outro, o PSDB, dono de quatro
ministérios, abrigo de filiados anti-Temer e à beira da implosão.
Por
enquanto sem um nome competitivo para a próxima eleição presidencial, a maioria
dos tucanos preferiu continuar abraçada ao enrascado peemedebista na esperança
de até o ano que vem o governismo ser capaz de inventar um candidato com
chances de ganhar. Um postulante para encarnar o establishment econômico
fascinado pela agenda antipopular de Temer.
Em
uma reunião do PSDB paulista no início de junho para discutir o apoio ao
governo Temer, José Aníbal, suplente do senador José Serra (SP), explicitou o
que vai pela cabeça desse grupo do PSDB. “Não queremos que no ano que vem
prevaleça uma polarização salvacionista, Bolsonaro, Lula... Isso só vamos
conseguir se o Brasil voltar a crescer.”
Todas
as pesquisas conhecidas mostram um mesmo cenário. O ex-presidente Lula, do PT,
na frente, e o deputado Jair Bolsonaro, do PSC mas de malas prontas para o PEN,
em seguida. Um nome tucano aparece só em quarto, depois de Marina Silva (Rede).
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ou o prefeito paulistano, João
Doria Júnior.
A
eleição de 2018 foi utilizada abertamente por Temer para ter o voto tucano na
sua salvação. “Se o PSDB sonha em querer ter candidato a presidente no ano que
vem com sucesso, ele pode fazer esse sonho com o PMDB (…) O PSDB com seu sonho
de poder, só com o PMDB”, dizia o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS),
recebedor de 100 mil reais do presidente na eleição de 2014.
Alas
minoritárias e mais jovens do PSDB, os chamados “cabeças pretas”, não quiseram
nem saber. Adotam uma postura raivosa em relação a escândalos de corrupção,
identificam-se com as redes sociais e a Operação Lava Jato e parecem não se
importar com a polarização Lula-Bolsonaro. Para elas, salvar o primeiro
presidente acusado de praticar corrupção no cargo era demais.
“Alguns
partidos, em clara contradição, dizem que Temer é inocente mas Lula e Dilma tem
todos os pecados do mundo, já outros fazem o inverso”, afirmou o deputado
Daniel Coelho (PE), um dos “cabeças pretas”, a uma rádio do seu estado na
quinta-feira 3. “É uma esquizofrenia na política brasileira e uma falta de
coerência sem limite”, disse, “o PSDB está completamente perdido”.
Era
possível enxergar a perdição antes mesmo da vitória de Temer. Desde o estouro
do escândalo JBS-Friboi, o PSDB fez várias reuniões para tomar uma decisão
sobre ficar ou sair do governo, mas jamais conseguiu um consenso. Dias antes da
votação, seu vice-presidente, Alberto Goldman, dizia que o partido sairia
“profundamente ferido” da episódio, pois prevalecia o cada um por si.
Resultado:
dos 47 deputados tucanos, 22 votaram a favor de Temer, 21 contra e 4 faltaram à
sessão. Três curiosidades a apimentar o racha. O autor do relatório pró-Temer
posto em votação é tucano, Paulo Abi-Ackel (MG). O chefe da articulação
política do governo, também, Antonio Imbassahy (BA). Mas o líder da bancada,
Ricardo Tripoli (SP), mandou votar contra o relatório e o presidente.
O
grosso dos votos anti-Temer saiu da bancada paulista, a de Trípoli. Dos 12
eleitos por São Paulo, 11 queriam degolar o presidente. Um deputado mineiro
estava preocupado. Para ele, o placar paulista seria visto por Temer como obra
de Alckmin. O perigo, segundo o mineiro preocupado, é o governador ser isolado
politicamente pelo presidente e, por tabela, o PSDB inteiro, como vingança.
Esfacelado,
o PSDB corre o risco de sumir, ou no mínimo de encolher. Daniel Coelho, por
exemplo, comenta nos bastidores da Câmara que o PSDB pode sofrer o que
aconteceu com o PMDB. O tucanato nasceu de uma costela peemedebista em 1988,
por razões “éticas”. Pela cabeça do deputado preocupado citado acima já passam
cogitações de novos habitats partidários.
Sem
candidato presidenciável viável, destroçado internamente e atrelado a um
governo impopular e com a pecha de corrupto, o PSDB caminha para a implosão.
Com
informações O Povo Online
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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