
A
prática foi vista com mais ênfase durante o processo de impeachment da
ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e está presente ao avançar das investigações
da Operação Lava Jato.
Na
última semana, deputados da oposição tentaram impedir a troca de integrantes da
Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados nas vésperas da
votação do relatório do deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) que pedia a
continuidade da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente
Michel Temer (PMDB). A Suprema Corte entendeu como assunto interna corporis e
não interferiu.
Nos
últimos dois anos, somam-se nas decisões do STF afastamentos e prisões de
parlamentares, além de impedimento de nomeação para o Executivo — o que seria,
no caso, um ofício do próprio Executivo.
Para
o jurista Rogério Sanches, o STF está assumindo o protagonismo “não porque ele
quer”, mas porque está “se vendo obrigado a resolver o que não está sendo
resolvido”. O pesquisador, também promotor de Justiça de São Paulo, relembra
que o próprio legislativo deixou de agir quando havia a expectativa da ação. “O
ex-deputado Eduardo Cunha teria deixado a Câmara sem a intervenção do Supremo?
Se o próprio Congresso não resolvia esse problema, o judiciário entrou para
resolver”, pontuou.
O
professor entende que o cenário “ideal” seria o que o próprio Congresso
resolvesse as suas questões e que o Supremo intervisse “minimamente”. “Isso vai
acontecer quando o parlamento for forte e estável, mas não é o que está
acontecendo hoje”, ressalta.
O
jurista Alexandre Costa, da Universidade de Brasília, pontua a dificuldade dos
poderes da República respeitarem essa fronteira invisível. “Todos os atos
políticos na esfera institucional também são jurídicos. Esse controle jurídico
muitas vezes passa a ser um controle político”, diz, ao relembrar as nomeações
feitas por Temer no Tribunal Superior Eleitoral que acabaram contribuindo na
absolvição da chapa Dilma-Temer.
Costa
argumenta que o problema maior dessa interferência é, justamente, diferentes
decisões para um mesmo caso. Ele cita o impedimento de Lula ser nomeado
ministro da Casa Civil de Dilma, mas relembra que Moreira Franco, também
investigado, foi autorizado pela Corte a assumir cargo na gestão Temer.
Fronteiras
“A
pior ditadura é a do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer”, já
dizia o jurista brasileiro Ruy Barbosa. Para parlamentares ouvidos pelo O POVO,
há um limite necessário nessa “interferência”, mesmo em épocas de intensa
crise.
O
deputado André Figueiredo (PDT) ressalta a importância do judiciário como poder
complementar da República, mas pede que a ação de cada poder seja em seu campo
de atuação, sem extrapolar as fronteiras.
“Não
cabe ao legislativo julgar, não cabe ao judiciário legislar, a gente considera
uma intromissão indevida”, pontua.
A
deputada Gorete Pereira (PR) afirma que esse “protagonismo” jurídico dos
últimos anos é uma consequência do fortalecimento das instituições públicas.
“Eu acho que quando o legislativo não cumpre as usas prerrogativas, o
judiciário faz a parte dele. Quem tem que repensar é o legislativo”, acredita.
Publicado originalmente no portal O Povo Online
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