“Estamos
pagando o preço pelos nossos acertos. O Ministério Público se tornou a
instituição mais perseguida do Brasil”. A afirmação é do chefe do Ministério
Público de Pernambuco, Francisco Dirceu Barros, que completou este mês seu
primeiro semestre no comando da instituição.
Embora
atue na esfera estadual, o procurador-geral não tira os olhos do cenário
nacional de combate à corrupção, nem poupa críticas às tentativas, segundo ele,
de enfraquecer a independência e o poder de investigação do órgão, assegurados
pela Constituição.
Recentemente, pesquisa realizada em parceria com o Instituto Uninassau revelou que o MPPE é apontado pelos pernambucanos como a instituição mais confiável do Estado.
Recentemente, pesquisa realizada em parceria com o Instituto Uninassau revelou que o MPPE é apontado pelos pernambucanos como a instituição mais confiável do Estado.
Em
entrevista ao Blog do Diario de Pernambuco, Dirceu Barros afirma que nada menos
que 1.082 propostas de emenda constitucional ou de projetos de lei nesse
sentido tramitam no Congresso Nacional, e podem gerar um efeito semelhante ao
ocorrido com a Operação Mãos Limpas, que combatia a corrupção na Itália, mas
fracassou exatamente pelas iniciativas de governantes e parlamentares de
garantir imunidade e reduzir as investigações de autoridades. O procurador cita o Artigo 128 da
Constituição, que classifica o MP como “defensor do regime democrático”, e
lembra que a Carta foi aprovada em 1988 pelos próprios parlamentares,
garantindo independência ao órgão para investigar todos os poderes da
República. “Eles criaram um monstro que agora não conseguem dominar. Mas
fragilizar o MP é fragilizar o próprio regime democrático”, adverte.
De
acordo com Francisco Dirceu, o mesmo não acontece com o Judiciário porque não
cabe ao Poder a iniciativa de investigar e acionar suspeitos criminalmente, mas
apenas de julgá-las. “Por isso os políticos corruptos não agem contra o
Judiciário nem contra a Polícia. Basta fragilizar o órgão responsável pela
denúncia e pronto, a impunidade e vai continuar generalizada. É um jogo de
privilégios que os corruptos fazem em sua autodefesa, mas nós vamos reagir, com
apoio da sociedade”, assevera.
O procurador chama a atenção para o projeto de
lei contra abuso de autoridade, que tramita no Congresso e que, segundo ele, se
aprovado vai criminalizar o trabalho de procuradores e juízes. “Querem acabar
com a investigação baseada em indícios e exigir a apresentação de provas
máximas para abrir uma instrução. Vai ficar difícil um procurador ou promotor
denunciar alguém, sob ameaça de processo”, explica.
Nem
mesmo o presidente Michel Temer (PMDB) escapa das observações do procurador
pernambucano. Denunciado pelo Ministério Público Federal por crime de corrupção
passiva, Temer fez várias críticas ao MPF de que o órgão estaria extrapolando
sua autoridade. “Temer critica porque foi enquadrado. O procurador Rodrigo
Janot fez uma denúncia muito bem fundamentada, mas infelizmente nosso sistema
político só permite que o presidente seja processado se a Câmara dos Deputados
autorizar. E isso não parece que vai acontecer”, prevê, lembrando, porém, que
mesmo que seja rejeitada pelos deputados, a denúncia permanece, e assim que
deixar o cargo o presidente pode ser processado pela Justiça Comum.
Francisco Dirceu afirma que os que apostavam num direcionamento político-ideológico
por parte do Ministério Público foram pegos de surpresa. “Achavam que o MP iria
agir exclusivamente contra o PT. Mas não somos contra o PT, PMDB, PSDB, direita
ou esquerda. Somos contra as coisas erradas, as práticas ilegais”, diz. Prova
disso, segundo ele, é que o MP enquadrou grande parte do alto escalão do PT,
mas também o presidente da República, figuras da cúpula do PSDB e de outros
partidos. “Qualquer pessoa com um mínimo grau de inteligência percebe que o MP
não é território de nenhum político. Demos uma grande lição ao país: ninguém
está acima da lei. Errou, tem que pagar, seja político, empresário, banqueiro,
o que for”, dispara.
Para
os próximos meses de gestão no MPPE, Francisco Dirceu Barros estabeleceu como
meta auxiliar no combate à corrupção, mas tomando como ponto de partida a
educação para crianças e adolescentes. Ele implantará nas próximas semanas mais
um Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça (Caop), só que
exclusivamente voltado para esse tema. Em parceria com as secretarias de
educação do Estado e dos municípios, quer promover palestras, aulas e até jogos
educativos para conscientizar os jovens de que a corrupção começa nos pequenos
gestos, nas tentativas características dos brasileiros de levar vantagem em
tudo.
“Os
políticos são reflexo do povo. E o povo se acostumou com o vício cultural da
corrupção, aquelas pequenas, do cotidiano, como a propina paga ao guarda de
trânsito, o estacionamento em lugar proibido, furar fila no supermercado”,
enumera. “Queremos que esses jovens, em casa, censurem os pais e familiares que
cometam esses pequenos delitos. Mostrem que aquilo está errado”, esclarece.
Como
procurador eleitoral, Francisco Dirceu afirma que o Artigo 299 do Código
Eleitoral é, entre todos, o mais aplicado. Trata sobre a venda do voto, outra
questão quase cultural no Brasil, que o MPPE quer ajudar a combater. “Acredito
a Lava Jato vai fazer uma limpeza grande no Brasil, mas daqui a um ano e meio,
o Congresso vai ser renovado e vamos ter a Lava Jato dois, três, etc. Não tenho
esperança de combater a corrupção com o atual sistema político que estimula a
venda de votos. O eleitor que vende o voto está vendendo a sua consciência.
Então, se a gente não investir no sistema educacional, não vai salvar o Brasil
nunca”, conclui.
Com
informações Blog do Diário
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