Era
maio de 2016, e o governo Temer começava a ser sacudido por um terremoto.
As
gravações do cearense Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, punham no
centro do redemoinho político três personagens próximos a Michel Temer: Romero
Jucá, então ministro do Planejamento e um dos homens fortes do governo
peemedebista; o senador Renan Calheiros e o ex-senador José Sarney, ambos do
PMDB.
Nos
áudios, ruidosamente divulgados em cadeia nacional de rádio e televisão, Jucá
proferia uma frase que se repetiria depois em diversas situações: é preciso
“conter a sangria da Lava Jato” e um “grande acordo nacional”.
Feitas
as escutas, Machado entregou o material ao MPF, que negociou sua delação,
depois homologada pelo Supremo. Pois é essa mesma delação que agora começa a
ser questionada. Segundo relatório da PF, as informações prestadas pelo
cearense, que hoje goza de benefícios em prisão domiciliar, são inconsistentes.
Mais
que isso: de acordo com investigadores, Jucá, Renan e Sarney não obstruíram a
Justiça, conforme acusação da Procuradoria-Geral da República, que precisará
dizer, num próximo passo, se arquiva o processo ou denuncia os personagens
envolvidos.
O
saldo de tudo isso é que, passado mais de um ano dos eventos que começaram a
minar as bases de sustentação de Temer, a principal peça - e uma das três
maiores delações feitas no âmbito da Operação Lava Jato - está agora ameaçada.
A
pergunta inevitável é: e se, decorrido algum tempo, a PF adotar o mesmo
entendimento em relação às colaborações dos irmãos Wesley e Joesley Batista e
inviabilizar as delações? Sem as delações, o poder de fogo, ou pelo menos sem
pontos-chave delas, como é o caso da de Machado, o futuro da investigação se
estreita e o grande acordo nacional, com participação de todos ou não, fica
mais perto de virar realidade.
Publicado
originalmente no portal O
Povo Online
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