O
futuro de Michel Miguel Elias Temer Lulia, 76 anos, começa a ser medido agora
não mais em dias, mas em horas. E as próximas dirão se o presidente do Brasil
continua no cargo depois da denúncia apresentada ontem ao Supremo Tribunal
Federal pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Temer é acusado
formalmente de corrupção passiva. É o primeiro presidente da República a ser
investigado por crime cometido no exercício do mandato.
Nunca
antes na história do País um mandatário tão impopular, cheio de meneios verbais
e com discurso cheirando a velharia, manteve-se por muito tempo no comando
fiando-se apenas na aprovação de reformas que, dadas as dificuldades em vista,
começam a ser desidratadas, de tal forma que perdem seus efeitos antes mesmo de
serem aprovadas. Temer pode tentar se segurar e cruzar a pinguela, atravessando
o Rubicão. Nada indicará que conseguirá.
A
denúncia de Janot produz estragos imediatos, o principal deles sobre a base
aliada no Congresso: o chefe da PGR fez o que se imaginou que fosse fazer, ou
seja, ofereceu uma peça fatiada - a de ontem trata apenas de corrupção passiva.
Segundo ele, Temer teria sido o real destinatário da mala de R$ 500 mil
carregada pelo ex-assessor pessoal e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures,
também denunciado. Faltam ainda duas acusações, porém, uma por participação em
organização criminosa e outra por obstrução de justiça. Além disso, o
procurador-geral também pediu abertura de novo inquérito para apurar suposta
intervenção de Temer para beneficiar uma empresa que opera no Porto de Santos.
E, como se não bastasse, a Polícia Federal concluiu inquérito no qual aponta
que o presidente atuou para embaraçar as investigações.
Presidida
por Rodrigo Maia (DEM-RJ), um dos investigados na Operação Lava Jato, a Câmara
pode rejeitar uma denúncia, mas terá dificuldade para se desvencilhar de três.
Prestes a disputarem eleições, os deputados colocarão a si mesmos na berlinda
para manter no Planalto um presidente com 7% de popularidade, segundo pesquisa
mais recente do Datafolha?
É
possível que sim, mas, como tudo em política, o cálculo da semana passada não
serve muito para a seguinte. Dois meses atrás, Temer podia viajar sem a preocupação
de que as medidas defendidas na área econômica teriam algum tropeço no Senado.
Hoje, não. Mal colocou os pés fora do País, o peemedebista viu a reforma
trabalhista sofrer um revés que, se não inviabiliza a proposta, foi suficiente
para acender o sinal de alerta. A base de Temer não é mais a mesma. O
presidente sabe disso. Os deputados e senadores também.
É
nesse terreno que Janot, espécie de profeta do caos, semeia denúncias para
colher ao menos uma autorização de ação penal no Supremo. Caso consiga, terá
conseguido vencer as resistências palacianas num Congresso cuja composição é
majoritariamente envolvida na Lava Jato. E, não custa lembrar, ainda há o fator
ruas, que se mantiveram caladas até aqui, mas nada faz crer que permanecerão
assim.
Publicado originalmente no portal O Povo Online
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