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9 de maio de 2017

Só o grande interessa à economia? por Rui Daher


E hoje quem temos para segurar um pouco da sanha fascista? Os movimentos sociais Marcelo Pinto
Sempre se espera ver mudanças depois de um tempo sem visitar uma região do Brasil. Demorei um ano para voltar ao Vale do São Francisco. Amigos, negócios, contradições e paixões me trazem aqui mais amiúde. Na semana passada, não cheguei ao sertão. Fiquei quatro dias urbanos, entre Juazeiro (BA) e Petrolina (PE).

“Vista assim do alto”, copiando Paulinho da Viola para me referir ao pouco aprofundamento que se dá às questões sociais no Brasil, veremos expressiva expansão econômica, riqueza que ameniza o escandaloso índice nacional de desemprego, crescimento na construção civil, sobretudo o voltado às classes altas, opções de lazer e comércio cada vez mais sofisticadas, tudo enfim originado no agronegócio frutífero que ensaia alguns passos de agregação de valor pelas diversificação e industrialização.

Essa realidade foi construída por brasileiros em região pobre do semiárido nordestino em que passava um grande rio. Pensou-se. Daí em diante vocês sabem a história. Talvez, apenas não imaginem o quanto no projeto e resultados foram importantes a estrutura fundiária difusa lá estabelecida no início e o atrativo disso na absorção de tecnologia agrícola.

Claro que a “lupa” ainda mostra vastas extensões de pobreza e inexplicáveis amontoados de lixo espalhados em áreas suburbanas e rurais. Mesma surpresa que se repete nas duas cidades principais no que se refere à expansão do verde pelo paisagismo. Não tem jeito. Sempre que lá estou me decepciono com a absurda falta de verde nas duas cidades. De praças, jardins, plantações conduzidas ao longo das orlas.

Seria injusto, mas pelo menos que assim fosse onde é enorme a concentração da riqueza. Por que o mérito do lindo verde das águas do Velho Chico e das plantações agrícolas não se estende ao paisagismo urbano? Tudo é asfalto ou chão batido. Não se pode acusar o clima, a seca. Se uvas, mangas, bananas, goiabas, melões, tomates, cebolas, coqueiros, verdejam, por que gramados, árvores, arbustos, flores, não?

Quem sabe uma ironia: “Olha aí, quando a gente quer, faz”. Ou lembrança de um passado não difícil de superar. “Vejam o que éramos e o que viramos”.

Mas não é intenção gastar a pouca munição de minha verborrágica AK-47 com as administrações municipais de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE). Nem me preocupei com quem são eles ou a qual partido pertencem.

Deixo a ira da AK-47 para as monstruosidades, anunciadas aqui desde que o golpe começou a ser engendrado, que estão sendo cometidas contra o trabalhador rural, os direitos dos assentados caboclos, índios e quilombolas, a permissividade com que se vê a violência, a flexibilidade com as leis que controlam o uso de agrotóxicos, o descrédito às denúncias de entidades religiosas, o corte dos incentivos para desenvolvimento agrário. Deixem, pois, a AK-47 passar e anotem.

O comando das políticas agrícolas, através do Estado, mudou de mãos. Retorna o ideário que aos poucos fenecia de que só “o grande” interessa à economia. As leis favorecerão aos que produzem e exportam. Os subsídios, mesmo os indiretos, beneficiarão a produtividade, mesmo sem mais medi-la comparativamente, como anunciado pelo IBGE para o Censo Agropecuário 2016.

A campanha da TV Globo, agro é isso, aquilo, tudo de bom, não é dirigida a todo o universo rural brasileiro. É financiada pelos grandes complexos fabricantes de agroquímicos e tradings e pensada pelos barões da FIESP.

Não acreditem quando as folhas e telas cotidianas reproduzem, em contristadas expressões, os massacres contra índios, posseiros e assentados. Simulam, pois sempre deixam entrever um ar de dúvida sobre a autoria dos crimes. Verdade, William e Renata?

Você que está no campo vendo serem aniquilados mecanismos que garantem seus direitos de sobrevivência e trabalho, a ponto de serem remunerados como nas senzalas, saiba que

Deixaram isso perdurar 13 anos, levando-nos na distração de que já tínhamos feito muito e assim nos deixariam levar o barco, pois assim a população de expressava em eleições diretas. Burros, largamos suas mãos e nos amasiamos com os cortesãos e cortesãs da governabilidade para eternizar o projeto.

Para dar no que deu. E hoje quem temos para segurar um pouco da sanha fascista? Os movimentos sociais, ponto alto e ativo da reação de esquerda, CUT, MST, FETAG, CUT, Sindicatos, e outras linhas de frente dos movimentos sociais, que nem mesmo nos exigiram um pedido de perdão.

Publicado originalmente no portal Carta Capital

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