Sempre
se espera ver mudanças depois de um tempo sem visitar uma região do Brasil.
Demorei um ano para voltar ao Vale do São Francisco. Amigos, negócios,
contradições e paixões me trazem aqui mais amiúde. Na semana passada, não
cheguei ao sertão. Fiquei quatro dias urbanos, entre Juazeiro (BA) e Petrolina
(PE).
“Vista
assim do alto”, copiando Paulinho da Viola para me referir ao pouco
aprofundamento que se dá às questões sociais no Brasil, veremos expressiva
expansão econômica, riqueza que ameniza o escandaloso índice nacional de
desemprego, crescimento na construção civil, sobretudo o voltado às classes
altas, opções de lazer e comércio cada vez mais sofisticadas, tudo enfim
originado no agronegócio frutífero que ensaia alguns passos de agregação de
valor pelas diversificação e industrialização.
Essa
realidade foi construída por brasileiros em região pobre do semiárido
nordestino em que passava um grande rio. Pensou-se. Daí em diante vocês sabem a
história. Talvez, apenas não imaginem o quanto no projeto e resultados foram
importantes a estrutura fundiária difusa lá estabelecida no início e o atrativo
disso na absorção de tecnologia agrícola.
Claro
que a “lupa” ainda mostra vastas extensões de pobreza e inexplicáveis
amontoados de lixo espalhados em áreas suburbanas e rurais. Mesma surpresa que
se repete nas duas cidades principais no que se refere à expansão do verde pelo
paisagismo. Não tem jeito. Sempre que lá estou me decepciono com a absurda
falta de verde nas duas cidades. De praças, jardins, plantações conduzidas ao
longo das orlas.
Seria
injusto, mas pelo menos que assim fosse onde é enorme a concentração da
riqueza. Por que o mérito do lindo verde das águas do Velho Chico e das
plantações agrícolas não se estende ao paisagismo urbano? Tudo é asfalto ou
chão batido. Não se pode acusar o clima, a seca. Se uvas, mangas, bananas,
goiabas, melões, tomates, cebolas, coqueiros, verdejam, por que gramados,
árvores, arbustos, flores, não?
Quem
sabe uma ironia: “Olha aí, quando a gente quer, faz”. Ou lembrança de um
passado não difícil de superar. “Vejam o que éramos e o que viramos”.
Mas
não é intenção gastar a pouca munição de minha verborrágica AK-47 com as
administrações municipais de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE). Nem me preocupei
com quem são eles ou a qual partido pertencem.
Deixo
a ira da AK-47 para as monstruosidades, anunciadas aqui desde que o golpe
começou a ser engendrado, que estão sendo cometidas contra o trabalhador rural,
os direitos dos assentados caboclos, índios e quilombolas, a permissividade com
que se vê a violência, a flexibilidade com as leis que controlam o uso de
agrotóxicos, o descrédito às denúncias de entidades religiosas, o corte dos
incentivos para desenvolvimento agrário. Deixem, pois, a AK-47 passar e anotem.
O
comando das políticas agrícolas, através do Estado, mudou de mãos. Retorna o
ideário que aos poucos fenecia de que só “o grande” interessa à economia. As
leis favorecerão aos que produzem e exportam. Os subsídios, mesmo os indiretos,
beneficiarão a produtividade, mesmo sem mais medi-la comparativamente, como
anunciado pelo IBGE para o Censo Agropecuário 2016.
A
campanha da TV Globo, agro é isso, aquilo, tudo de bom, não é dirigida a todo o
universo rural brasileiro. É financiada pelos grandes complexos fabricantes de
agroquímicos e tradings e pensada pelos barões da FIESP.
Não
acreditem quando as folhas e telas cotidianas reproduzem, em contristadas
expressões, os massacres contra índios, posseiros e assentados. Simulam, pois
sempre deixam entrever um ar de dúvida sobre a autoria dos crimes. Verdade, William
e Renata?
Você
que está no campo vendo serem aniquilados mecanismos que garantem seus direitos
de sobrevivência e trabalho, a ponto de serem remunerados como nas senzalas,
saiba que
Deixaram
isso perdurar 13 anos, levando-nos na distração de que já tínhamos feito muito
e assim nos deixariam levar o barco, pois assim a população de expressava em
eleições diretas. Burros, largamos suas mãos e nos amasiamos com os cortesãos e
cortesãs da governabilidade para eternizar o projeto.
Para
dar no que deu. E hoje quem temos para segurar um pouco da sanha fascista? Os
movimentos sociais, ponto alto e ativo da reação de esquerda, CUT, MST, FETAG,
CUT, Sindicatos, e outras linhas de frente dos movimentos sociais, que nem
mesmo nos exigiram um pedido de perdão.
Publicado
originalmente no portal Carta Capital
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