Os
últimos dias têm sido pouco alvissareiros para o presidente Michel Temer
(PMDB). A greve geral do dia 28 de abril provocou tremores no governo, pois a
tropa de choque saiu a campo para chamar os grevistas de “vagabundos”, elogio
esse enunciado pelo prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). (Ele deve ter se
esquecido de que FHC, seu correligionário, nunca mais se recuperou depois de
ter usado o mesmo epíteto para classificar aposentados.)
OUTRO
que saiu a campo foi o ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB), para
insultar o movimento como “baderna generalizada”. (Serraglio é aquele ministro
que chamava de “grande chefe”o fiscal agropecuário que a operação Carne Fraca,
da Polícia Federal, apontou como “líder da organização criminosa”.)
ALGUNS
setores da imprensa deram uma ajudinha preferindo ver nos protestos apenas
ônibus queimados e a ação dos black blocs, como se fosse proibido olhar além da
fogueira - ou para os lados. A ombudsman do jornal Folha de S. Paulo, Paula
Cesarino Costa, chegou a escrever que “o bom jornalismo entrou em greve”
(30/4/2017), tantos problemas ela viu na cobertura. Pode-se também fazer - não
sei se ainda se ensina essa disciplina nas faculdades - jornalismo comparado.
Isto é, verificar como a imprensa internacional tratou o assunto em comparação
com a imprensa nativa. Não é preciso nem saber inglês, espanhol ou alemão.
Basta olhar os portais em português da BBC Brasil (britânico), El País
(espanhol), Deutsche Welle (alemão), por exemplo.
AINDA
NO terreno da greve, o deputado federal Paulinho da Força (SD-SP), presidente
da Força Sindical (a segunda maior central de trabalhadores do país), resolveu
ficar valente. Aliado do governo, um dos maiores incentivadores do impeachment
da presidente Dilma Rousseff, ele ameaça nova greve, se não houver mudanças nas
reformas trabalhista e previdenciária. O deputado quer dividir o prejuízo da crise,
que, diz ele, “tem de ser paga por todos, não só pelos trabalhadores”.
OU
PAULINHO é ingênuo ou é muito crédulo ou está querendo negociar pequenos
avanços para sair bem na fita e, depois, dar a desculpa de que precisa ir ao
banheiro quando a conta for posta na mesa. Mais do que mudanças cosméticas, o
Governo Temer não pode fazer.
Por
quê?
SEGUNDO
o Instituto Datafolha, o presidente Michel Temer tem somente 9% de “ótimo e
bom”; 28% de “regular” e 61% o consideram “ruim ou péssimo”.
Quanto
à reforma da Previdência, 71% dos brasileiros são contra; 64% afirmam que a
reforma trabalhista beneficia os patrões e 63% entendem que a terceirização
prejudica os trabalhadores.
FRENTE
A UM quadro dantesco desses, o que sustenta o Governo Temer? Por óbvio, aqueles
interessados na reforma trabalhista, na reforma da Previdência e na
terceirização, cujo nome pode ser resumido em uma palavra: “mercado”, ou seja,
o sistema financeiro e os grandes empresários. Assim, ou Temer faz a “reforma”
por cima de pau ou pedra ou será mandado mais cedo para o chuveiro, sem ninguém
para defendê-lo. (Ou alguém espera um levante popular para mantê-lo no cargo?)
E
O CARTÃO vermelho está nas mãos dos juízes do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), que podem apressar o julgamento das contas da campanha Dilma/Temer e
atender o desejo de 85% da população brasileira que pede eleições diretas.
Certo
que Temer pode adiar o desfecho com vários recursos, mas o negócio está ficando
cada vez mais complicado.
Desemprego
Pressiona
também por solução o alto nível de desemprego. São 14 milhões de trabalhadores
que vagam pelo País à procura de emprego. Nem a reforma trabalhista nem a
terceirização, por si só, têm o poder de reduzir o desemprego.
Economia
O
que faz aumentar o número de postos de trabalho é o crescimento da economia. O
mais provável é que a possível poupança advinda da terceirização e da reforma
trabalhista seja convertida em lucro, e não em mais contratações.
Lucro
Foi
o que aconteceu com a “desoneração” de impostos implementada por Dilma
Rousseff. Em vez de contratar mais empregados, os empresários preferiram ficar
com o lucro.
Publicado originalmente no portal O Povo Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.