Imagem capturada do vídeo divulgado pela Justiça Federal
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É
triste, embora previsível, que um depoimento à Justiça tenha se transformado a
tal ponto em disputa política. Para a defesa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
esse embate passou a se sobrepor ao jurídico. A estratégia é apresentar o
ex-presidente como vítima de perseguição orquestrada e politicamente motivada.
Os principais movimentos têm consistido em descredenciar o juiz Sergio Moro. Um
dos pedidos negados ontem pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) se referia ao
afastamento do magistrado do processo. A chance de sucesso todo mundo sabia que
era zero. Mas, a estratégia consistia em criar fato. Assim como havia sido
pedido que o depoimento fosse transmitido ao vivo - algo um tanto exótico num
interrogatório em ação penal.
Justiça
nunca é previsível, mas tudo que cerca esse caso indica que Lula será condenado
por Moro. A própria defesa de Lula dá sinais de que acredita nisso. O histórico
também mostra que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), instância
de recurso, tem confirmado as decisões do juiz. Nesse caso, a depender da pena
aplicada, Lula será preso e ficará inelegível.
É
improvável que haja outro roteiro. Obviamente, a briga prosseguirá nos
tribunais, em outras instâncias. Ao politizar a questão, a defesa de Lula
pressiona, por um lado, os julgadores. Joga contra eles a parcela da opinião
pública simpática ao petista e tenta impor a pecha da parcialidade. Por outro
lado, fortalece a narrativa política sobre o réu. Transforma a condenação em
violência praticada como parte da disputa por poder. Como artimanha para
afastar da disputa eleitoral o líder em todas as pesquisas. Se não servir
juridicamente, ajudará na sobrevivência política de Lula.
A
postura da defesa de Lula tem sido criticada por muita gente. Por mais que
questionamentos sejam cabíveis, a defesa tem direito de escolher o caminho para
tentar provar a inocência do cliente. A ampla defesa, aliás, é um dos pilares
da democracia. Em seu programa transmitido pela rádio O POVO/CBN, na
terça-feira, Carlos Alberto Sardenberg comentou que os defensores de Lula
tentavam tumultuar, criar confusão. A crítica tem sua razão de ser, mas a
postura não deixa de ser parte do jogo.
O
que não é do jogo é que instituições entrem nesse jogo. Por exemplo, a
determinação judicial para suspensão das atividades do Instituto Lula foi
divulgada na véspera do depoimento. É proibido? Não, não é. Mas,
intencionalmente ou não, é mais um elemento de pressão sobre o julgamento.
Contribui para aumentar a confusão. Há precedente bem recente com o Ministério
Público.
Na
semana passada, no mesmo dia em que a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal
(STF) julgaria pedido de habeas corpus para José Dirceu (PT), a força-tarefa da
Lava Jato divulgou novas denúncias contra o ex-ministro. Coordenador da Lava
Jato, o procurador Deltan Dallagnol confirmou que a data foi escolhida para
influenciar a decisão do Supremo, embora as novas acusações não estivessem em
análise. “Evidentemente, esta acusação já estava sendo amadurecida. É uma
acusação que estava para ser oferecida e, em razão da análise de um habeas
corpus, teve uma precipitação no objetivo de oferecer novos fatos ao STF”,
disse Dallagnol.
Responsável
pelo voto decisivo para libertar Dirceu, o ministro Gilmar Mendes reclamou de
forma enfática. Na coluna de ontem, questionei a postura dele em vários
momentos. Nessa manifestação, porém, penso que ele estava certo. “Há pessoas
que têm compreensão equivocada do seu papel. Não cabe a procurador da República
pressionar, como não cabe a ninguém pressionar o Supremo Tribunal Federal, seja
pela forma que quiser. É preciso respeitar as linhas básicas do Estado de
Direito. Quando quebramos isso, estamos semeando o embrião do viés
autoritário”.
A
situação é bizarra porque envolve vários atores que pressionam a Justiça com
ingredientes alheios ao processo. Interferência política mesmo, em várias
formas. Da defesa isso é de se esperar e é do jogo. Mas, não de outro juiz,
como ocorreu no caso do Instituto Lula. Pode até ter sido sem intenção, mas a
consequência foi essa. Aumentou a tensão, a confusão. Muito menos se espera que
isso seja feito pelo Ministério Público de caso pensado e com confissão do
método.
Publicado
originalmente no portal O
Povo Online
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