Imagem capturada do vídeo divulgado pela Justiça Federal |
O
encontro de ontem entre Lula e Sergio Moro deve ter frustrado a expectativa de
alguns meios de comunicação - especialmente duas revistas semanais - que
venderam o evento como o “combate no século”. E o tal duelo não aconteceu por
dois motivos: Moro é preparado tecnicamente e Lula é macaco velho em
negociações e confrontos: sabe o momento de morder e de assoprar.
Moro
valeu-se do mesmo tom monocórdio usado em seus interrogatórios e Lula respondeu
respeitando o julgador, ainda que, por vezes, ironicamente. Como era de se
esperar, o ex-presidente negou ser dono no triplex, cuja propriedade lhe
atribuem. Moro, por sua vez, nada apresentou que pusesse o álibi de Lula em
perigo.
De
qualquer modo - se não houve a refrega -, o caso sai agora, definitivamente, do
terreno jurídico para estabelecer-se como disputa política. O depoimento de
Lula marcará a inflexão entre seus apoiadores, que vão intensificar essa
estratégia. Os dois atos de ontem em Curitiba, contra Lula e a favor dele,
servem como confirmação dessa tese. Para quem está contra Lula, não interessam
provas, querem vê-lo na cadeia, a qualquer preço. Para os partidários do
ex-presidente, nenhuma prova será capaz de demovê-los da ideia de que Lula
sofre exclusivamente perseguição política.
(A
propósito: muitos dos que saem às ruas supostamente em defesa da Lava Jato são
simplesmente contra o PT, pois preservam de críticas outros envolvidos que não
os petistas. Por outra vista, há muita gente que apoia a Lava Jato e discorda
desses protestos seletivos.)
De
qualquer modo, Moro vai defrontar-se com o seguinte dilema, ainda que seu
julgamento seja sustentado em provas: se condenar Lula, os partidários do
ex-presidente dirão que ele já estava prejulgado; se inocentá-lo, será
considerado traidor pelos denominados “apoiadores da Lava Jato”.
Publicado
originalmente no portal O
Povo Online
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