Fica
cada vez mais claro que o juiz Sergio Moro perdeu a imparcialidade para julgar
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Independentemente de a coisa ter
chegado a esse ponto por responsabilidade dele ou de Lula e seus partidários.
Também não se entra no mérito da culpabilidade ou não do ex-presidente, mas no
direito que todos têm a um julgamento justo e imparcial.
ATENTE-SE
ainda à circunstância lembrada pelo sociólogo Celso Rocha de Barros, em sua
coluna na Folha de S. Paulo (8/5/2017): pelo histórico do PT, as bandeiras
defendidas por Lula (justiça social) e Sergio Moro (combate à corrupção)
deveriam estar do mesmo lado. A tragédia é que elas se confrontam.
(A
PROPÓSITO, devido a prazos de fechamento da edição, entreguei este texto antes
do depoimento de Lula, na quarta-feira.) É FORA DE dúvida que Lula optou por
politizar seu julgamento, esperável em se tratando de um político, pois é isso
que todos eles fazem. Apontem aquele que se absteve de reclamar da
“politização” ou de ser um perseguido ao ser flagrado em algum malfeito. Se
houver um, mudo meu juízo.
AGORA,
SE se portar desse modo é próprio de políticos não deveria ser do Judiciário.
De um juiz esperam-se prudência, imparcialidade, isenção e reserva. Moro
transformou-se em uma espécie de popstar. Vai a shows nos quais é ovacionado,
frequenta ambientes onde interage com pessoas investigadas na Lava Jato e
pratica atos no processo que deveria evitar, como ter divulgado conversas
pessoais de dona Marisa, mulher de Lula, que nada tinham a ver com a
investigação (2016).
MAIS
RECENTEMENTE, para mostrar contrariedade pelo fato de a defesa de Lula haver
listado 87 testemunhas em um processo, Moro exigiu que o ex-presidente
estivesse presente em todas as audiências. Foi tão extravagante que o Tribunal
Federal da 4ª Região, que normalmente confirma as decisões de primeira
instância, dispensou a presença de Lula.
MORO
DISSE ser “exagerado” arrolar 87 testemunhas, e tem razão, pois Lula quer
atrasar o processo, evitar a condenação em segunda instância para garantir sua
elegibilidade. Porém, os advogados apelam para um direito assegurado ao réu. E
por que Moro contrariou a legislação exigindo a presença de Lula? Não caberia a
um juiz, observando a ação política do réu, evitar comportamento parecido? Ou
também quis fazer um gesto político?
O
JUIZ DE Curitiba também aceitou que sua mulher abrisse uma conta no Facebook
com o título “Eu MORO com ele”. Por óbvio, não se vai imaginar uma situação
machista na qual o marido a impedisse de participar de redes sociais. Mas,
também, por óbvio, ele tem o direito de pedir à sua companheira que o nome e a
foto dele não sejam usados em tal procedimento.
POIS
FOI PARA essa comunidade virtual do Facebook que Moro gravou vídeo conclamando
“muita gente que apoia a Lava Jato” a não ir a Curitiba no dia do depoimento de
Lula (realizado no dia 10/5/2017) para evitar “confusão”. Ora, um juiz não deve
se arvorar a líder de manifestantes e nem escorar seus julgamentos no “apoio”
das ruas. Pelo contrário, um magistrado deve ficar distante desses clamores e
resistir a eles, de modo a julgar de acordo com as provas colhidas. De outro
modo, tende a ser parte e não julgador do processo.
JUÍZES
QUE se apresentam como representantes da vontade popular estão na Venezuela. E
está se vendo o que está acontecendo por lá.
Revistas
A percepção de que Sergio Moro está hoje e mais parte do que julgador no
processo, pode ser observada nas capas, da semana passada, de duas revistas de
circulação nacional. Na Veja, sob o título “Moro X Lula”, o juiz e o
ex-presidente aparecem encarando-se como se fossem lutadores de vale-tudo. A
Isto É, com o título “Ajuste de contas”, apresenta Lula e Moro como dois
pugilistas. Cores Mentes maldosas observaram que as revistas, em suas capas,
vestiram Lula de vermelho (a cor do PT) e Moro ganhou as cores do PSDB (amarelo
e azul). Ato falho, diria o velho Sigmund Freud; sincronicidade, redarguiria
seu antigo discípulo, Carl Jung. Prefiro deixar na conta da coincidência:
afinal, revistas gostam de cores primárias e elas são apenas três: azul, amarelo
e vermelho. Magistrado O magistrado Marcelo Bretas, do Rio de Janeiro, é tão
rigoroso quanto o juiz Sergio Moro em seus julgamentos. Porém, Bretas vem
respeitando a liturgia do cargo.
Publicado originalmente no portal O Povo Online
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