O
julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE transformou-se num verdadeiro show de
cinismo e hipocrisia, com cada um dos envolvidos no processo tendo o seu
protagonismo e parcela de cumplicidade para mais este lamentável episódio da
democracia brasileira.
O
PSDB, em primeiro lugar, enquanto autor da Ação contra a chapa Dilma-Temer por
suposto abuso do poder econômico na campanha presidencial, desde que se tornou
uma força chave de sustentação do golpismo, passou a defender um absurdo que
contraria toda a jurisprudência do próprio TSE: a divisão da responsabilidade
da chapa, numa manobra descarada para salvar a pele de Temer.
Fernando
Henrique Cardoso foi aos jornais defender a tese de que a cassação de Michel
Temer traria mais instabilidade às instituições e à economia, sem sequer entrar
no mérito da acusação feita pelo seu partido (PSDB) ou da necessidade de se
julgar de maneira justa, isenta e célere os eventuais abusos que possam ter
sido cometidos pela chapa. FHC talvez não tenha percebido que sua posição não
condiz com a alegada “defesa da estabilidade das instituições”, na medida em
que propõe que o Tribunal Superior Eleitoral, uma importante instituição da
democracia brasileira, opte pura e simplesmente por lavar as mãos, num gesto de
completa desmoralização do Tribunal.
Michel
Temer por sua vez torce por toda e qualquer protelação do julgamento, visando
ganhar tempo pra tentar aprovar seu pacote de maldades no Congresso Nacional em
troca do apoio da grande mídia e de setores do empresariado ao seu combalido
desgoverno. Conta para isso com a assessoria interna do próprio presidente do
TSE, o Ministro Gilmar Mendes, com quem tem realizado reuniões particulares em
plena luz do dia. O adiamento do julgamento permitirá que Temer indique dois
novos ministros para o colegiado de sete ministros do TSE - ato típico de uma
república de bananas em que o réu escolhe seus próprios julgadores.
O
adiamento do julgamento contou também com a colaboração da defesa de Dilma
Rousseff, já que o TSE acatou um pedido dos advogados de Dilma para ampliar o
tempo da apresentação das alegações finais. É compreensível que Dilma queria se
defender das acusações e lutar contra a sua inelegibilidade, mas o que está em
jogo são questões muito maiores. O adiamento do julgamento só favoreceu os
interesses do golpismo e da agenda de contra reformas, além de fortalecer a
conspiração para livrar a cara de Temer.
Se
o desfecho mais provável deste julgamento é fatiar a chapa para salvar Temer,
não será o seu adiamento que irá alterar esta correlação de forças. Pelo
contrário, a concessão de mais tempo só favorece Temer. Diante deste fato
provável, que o TSE assuma então perante o país sua própria desmoralização, em
mais um julgamento seletivo e parcial. Dilma certamente estaria em melhores
condições para lutar por sua elegibilidade não apenas nas instâncias
superiores, mas também junto ao povo.
Mas
infelizmente este não parece ser o caminho adotado pela defesa de Dilma e pela
cúpula dirigente do PT, que tem mantido um estranho silêncio frente ao desfecho
anunciado como o mais provável para este julgamento. Um silêncio pragmático,
cuja intenção seria a de manter Temer no poder até 2018, na esperança de que os
efeitos desastrosos de suas medidas possam render dividendos eleitorais aos
ex-ocupantes do Palácio do Planalto. Um cálculo medíocre e oportunista, que
deve ter como pressuposto que o próximo governo não reverteria as “reformas”
aprovadas por Temer - o que torna seu avanço menos preocupante para os
calculistas.
Enquanto
isso sofre o povo brasileiro, com a maior recessão das últimas décadas,
desemprego recorde, aumento da desigualdade e da miséria. Desmoralizam-se as
poucas instituições que tem como papel zelar pela democracia brasileira. Avança
o retrocesso, no maior ataque aos direitos constitucionais desde o fim da
ditadura militar no Brasil.
É
um absurdo que o TSE demore quase dois anos para julgar uma ação que poderia
resultar na cassação de um chapa presidencial cujo mandato é de quatro anos. Ou
faça desde julgamento mais um ato de seletividade, para manter os golpistas
ocupando um poder para o qual não foram eleitos. Defendemos um julgamento
célere, imparcial e justo. Basta de hipocrisia.
Publicado
originalmente na página oficial do Facebook
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